A revolução da terça-feira de doação, pós sexta-feira de consumo

A revolução da terça-feira de doação, pós sexta-feira de consumo

Copa do Mundo, Black Friday, Natal. O final de 2022 está mesmo agitado. Que o digam os varejistas que vivem o período, que é historicamente o melhor em vendas. É verdade que a Black Friday deste ano não impressionou muito – afinal, o cenário econômico não é dos melhores -, mas, ainda assim, movimentou cerca de R$ 3,1 bilhões em transações no e-commerce, durante toda a sexta-feira, 25, segundo a Neotrust. Em todo o mês, o e-commerce faturou algo próximo a R$ 16,5 bilhões, segundo o Ebit.

O mês de novembro também é importante para o varejo porque, logo após a agitação da Black Friday, as marcas têm a chance de participar do Dia de Doar, que neste ano aconteceu em 29 de novembro. A ação faz parte de um movimento mundial chamado #GivingTuesday (terça-feira de doação) e, como nasceu nos Estados Unidos, acontece tradicionalmente na terça-feira após o Dia de Ação de Graças (Thanksgiving). Por causa disso, o Dia de Doar acabou se tornando uma resposta solidária aos movimentos de consumo, como a Black Friday e a Cyber Monday. 

No Brasil, a primeira edição oficial foi em 2013 e, no ano seguinte, o País entrou oficialmente no movimento global. Liderado pela ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos), o Dia de Doar faz parte da rede do Movimento por uma Cultura de Doação.

Neste ano, conta mais uma vez com a parceria do Instituto Mol. O principal objetivo é estimular a doação de pessoas físicas, empresas e organizações e, nos últimos anos, os participantes mostraram que as possibilidades da palavra “doação” são diversas.

A Fundação Feac, por exemplo, faz um grande movimento em Campinas (SP) e recebe doações de objetos comuns como calçados, mas também itens bem específicos, como notebooks para jovens moradores da periferia e kits maternidade com o básico que gestantes em situação de risco precisam no momento do nascimento do bebê. Outro exemplo peculiar criado por Alexandre Caruso é o Projeto Garrafa no Mar, que é uma plataforma digital que permite que pessoas paguem contas de outras pessoas em situação de vulnerabilidade, como um “tinder dos boletos”.

Algumas empresas e marcas também têm percebido a importância de se envolverem com a causa e o contexto da Black Friday pode ser uma brecha interessante nesse sentido. O aparente paradoxo entre a ideia de consumo e a necessidade de ser solidário pode levar a uma reflexão crítica e incentivar o hábito e a cultura da doação. 

Uma organização que tem protagonizado o incentivo à doação no Brasil, inclusive no Dia de Doar, é a rede Raia Drogasil. A empresa criou o Movimento Todo Cuidado Conta, que ajuda a financiar projetos coletivos de saúde integral no Estado de São Paulo. O apoio acontece por meio de um matchfunding, que é um financiamento coletivo com participação da marca. Funciona assim: a cada R$ 1 doado para os projetos selecionados pelo edital, o fundo Todo Cuidado Conta doa mais R$ 1. Na primeira fase do programa, mais de R$ 3 milhões serão disponibilizados para ações coletivas.

Outro exemplo de engajamento de marcas na causa da doação é o Movimento Arredondar, uma ONG que criou uma plataforma que permite uma microdoação no momento do pagamento de uma conta, transformando as moedinhas do troco em impacto social. Diversos varejistas são parceiros da ONG e, no Dia de Doar, costumam fazer campanhas especiais para aumentar a arrecadação.

Neste fim de ano, te convidamos a pensar novamente naqueles números da Black Friday e imaginar: e se cada compra realizada nesse período gerasse uma doação? Agora, pense a transformação que veríamos no mundo se a gente nem precisasse esperar o fim do ano pra fazer isso? É que a Black Friday tem que ser na última sexta de novembro, mas o Dia de Doar pode ser qualquer dia, inclusive hoje.

Roberta Faria e Rodrigo Pipponzi são cofundadores do Grupo MOL, ecossistema de negócios sociais que promove a cultura de doação.

Imagem: Shutterstock

Sair da versão mobile