Neil Patel teve uma experiência péssima com empresas de marketing. Quando começou a empreender onde mora, nos Estados Unidos, queria aumentar o tráfego de seu site vindo do Google. Contratou especialistas na esperança de que pudessem entregar resultados. Sem sucesso. “E ainda levaram todo o meu dinheiro”, brinca o empresário de 31 anos. A solução que ele encontrou? Fazer marketing digital ele mesmo. Não só deu certo, como o jovem virou uma espécie de guru no assunto. Hoje, é seguido por mais de 230 mil pessoas no Twitter e escreve regularmente sobre o assunto em seu blog e em revistas especializadas. Segundo artigo na Forbes, ele é um dos influenciadores do marketing para ficar de olho em 2017.
O empreendedor, criador da ferramenta de análise Crazy Egg, é de poucas palavras, mas contundente. Para ele, em meio ao mar de informações nas redes sociais, a necessidade de produzir conteúdo relevante é ainda maior. De preferência, personalizado. “O conteúdo tem de se adaptar”, defende. “Tudo deveria ter mais a ver com você.” Nesta entrevista, Neil fala também da estratégia em que os pequenos empreendedores deveriam se concentrar na internet e de sua atuação no Brasil.
Há um grande desafio no marketing digital para o qual as pessoas não tenham encontrado resposta?
O que eu vejo acontecendo neste momento é tudo levando para mais personalização. O conteúdo, agora, tem de se adaptar. Tudo deveria ter mais a ver com você. Só que é algo difícil de colocar em prática. Tem muita gente tentando. É como acontece com o Google: quando você entra, os resultados são diferentes para cada pessoa. Agora, como você faz seu site diferente para cada pessoa é a questão.
Em seus artigos, você fala bastante sobre buscar um público alvo e se concentrar nele. Mas como você o encontra e tem certeza de que está falando com as pessoas certas?
Você tem de pesquisar entre seu público, tem de conversar com eles. Basicamente, para saber se você está mirando as pessoas certas, precisa conversar com elas. Assim, entenderá se essas são as pessoas certas.
Existe tanto conteúdo por aí. As redes sociais estão cheias — é impossível consumir tudo. Como se fazer relevante em meio a tanta informação?
Você cria conteúdo relevante quando pesquisa, conversa com as pessoas e tenta fazer algo melhor do que as coisas que já estão por aí. Você tem de se certificar de que o seu conteúdo tem mais profundidade, tem um design melhor, é mais interativo.
Mas os usuários estão mais céticos em relação ao marketing praticado na internet, não?
Sim, as pessoas estão mais céticas, porque estão vendo com tanta frequência, que já ficaram acostumadas. Também acaba não convertendo [em cliente].
Como resolver isso?
Você tem de distribuir uma informação melhor, um produto melhor, um serviço melhor. Entregar mais valor. Se você tem um ótimo produto, como é o caso do cartão Nubank, por exemplo, olha quantas pessoas vão querer. Não se trata apenas do conteúdo do marketing, mas também de entregar um bom produto ou serviço.
Como as redes sociais podem ajudar?
Agora você pode se conectar com os seus consumidores. Esse foi o modo como as redes sociais mudaram a maneira de fazer marketing. Antes, era mais difícil — tinha de mandar um e-mail para o cliente. Agora, você pode vê-lo, saber quem é, onde mora. Você pode criar um relacionamento com ele por meio de uma fanpage.
Você daria alguma dica específica para pequenos empreendedores, levando em conta que eles costumam ter um orçamento mais apertado?
Mire um só aspecto do marketing. Escolha o que quiser. Pode ser content marketing, redes sociais, SEO. Você provavelmente não terá tempo de fazer tudo, então mire apenas um. Pequenos empreendedores querem fazer tudo. Mas se você fizer só um, pode fazer bem feito.
Seu site e blog têm versões completamente traduzidas para o português. Você faz uma forte aposta no Brasil. Como começou?
Em meados de 2015, eu vim ao Brasil e conheci pessoas incríveis. Soube que o país passava por uma recessão. Mas as pessoas estavam lutando, eram vorazes e queriam aprender mais. Só que não tinham os recursos na ponta dos dedos. Não havia informações suficientes para ajudá-los. Então, decidimos traduzir o site, porque havia brasileiros se oferecendo para colaborar até de graça. E eu queria ajudar as pessoas do Brasil. Eu me sentia conectado com eles, gosto deles. Então, passei a fazer isso. Eventualmente, comecei a contratar pessoas aqui e aumentar a equipe. Mas não fazemos pelo dinheiro nem nada. Gosto de ajudar as pessoas. Minha inspiração é quando as ajudo e recebo e-mails como o que recebi de um brasileiro. Ele disse que as leituras no meu blog o ajudaram a conseguir um emprego. Fico muito feliz.
Para quantas línguas o site é traduzido hoje?
Além de português para o Brasil, também estamos em espanhol, alemão, italiano e inglês.
Em qual deles a resposta é mais positiva e existe mais engajamento?
No Brasil. Fora os Estados Unidos, é onde eu permaneço por mais tempo. Vou a conferências, ajudando pessoas mais do que a qualquer outro lugar. Sou mais conectado com o público.
Tem alguma especificidade do profissional brasileiro que você considere única?
Não vejo nada específico que seja só de vocês. Mas as pessoas são incríveis: inteligentes, trabalham duro, estão dispostos a fazer tudo que for necessário para alcançar o sucesso.
Sente que a crise aqui atrapalha o empreendedorismo?
Não. Durante uma crise, é o melhor momento para começar uma empresa. Veja negócios como o Nubank, a Rico e a Hotmart. Todos estão indo muito bem. Quando você tem uma crise, os custos são mais baixos. As pessoas estão com medo, então há menos negócios por aí. Muita gente fecha também, o que significa menos competidores. É o momento de se arriscar.
Fonte: Época Negócios