O termo expansionismo define uma atitude política que preconiza a expansão de um país, além dos limites do seu território. Trazendo isso para o contexto dos negócios, sem dúvida, esta é a mentalidade do líder que constrói empresas perenes.
Além de mentalidade pró-crescimento, é necessário compreender cenários, pressões e competências que teremos pela frente. E a NRF 2023 trouxe algumas respostas.
Segundo Kate Ancketill, CEO and Founder da GDR Creative Intelligence, o cenário mundial pode ser resumido em 3 C´s: clima, conflitos e covid.
Adicionando algumas camadas a essa interpretação temos:
Clima – Todas as intervenções históricas produzidas pela humanidade vêm gerando mais e mais desequilíbrios que causam catástrofes intensas como seca, inundações, incêndios, nevascas, entre outras. As questões climáticas interferem fortemente na vida, saúde e sobrevivência das pessoas e das empresas. Assim, a agenda de soluções sustentáveis para produtos e serviços torna-se imperativa.
Conflitos – Além da Guerra da Ucrânia, existem outros sete conflitos sangrentos distribuídos pelo mundo: Haiti, Iêmen, Mianmar, Etiópia, Síria, Afeganistão, além de países africanos tomados por grupos de militantes islâmicos que invadem Mali, Niger, Burkina Faso, Somália, Congo e Moçambique por identificar fraqueza política nesses países. Os conflitos geram um importante movimento de imigração e, claro, esse tema exige tratativas dos governos e também das empresas.
Covid – O medo pelo retorno do horror vivido com as mortes e o lockdown causados pela pandemia de covid-19 persiste, mas a boa notícia é que a Organização Mundial da Saúde sinaliza que 2023 pode ser o ano do fim da pandemia. Essa superação virá com a vacinação, vigilância e conscientização. Claro que não haverá tranquilidade absoluta, uma vez que novos vírus, como o mpox, podem surgir.
Além dos 3 C´s, a inflação mundial traz grande instabilidade, especialmente para economias maduras que não estão acostumadas a conviver com esse cenário. No contexto americano, identificamos uma resposta dirigida a questões essenciais, como a eficiência operacional, tanto no varejo de valor quanto no varejo de luxo. E mesmo em lados tão extremos, ambos enaltecem a importância da experiência a partir do olhar da jornada da vida do consumidor.
Dentre os aprendizados sublinhados da fala dos grandes líderes que estiveram nos palcos da NRF 2023 e que culminam com o contexto de erosão dos conceitos da nossa sociedade contemporânea podemos destacar:
Fé – Tudo o que enfrentamos deve ser encarado com resiliência e visão de longo prazo. (James Cash)
Família – Buscar o equilíbrio entre o trabalho e a família. (Domenico de Sole)
Perseverança e inspiração – Acreditar e assumir sua responsabilidade em inspirar outras pessoas é a atitude esperada para quem teve sucesso na vida. (Simone Biles)
Flexibilidade é a nova moeda do local de trabalho – Traduzir essa afirmação, assim como ouvir os colaboradores e construir uma empresa com propósito, te leva a atingir resultados superiores. E a Pepsico está fazendo isso consistentemente na Europa, nos Estados Unidas, na América Latina e no Brasil. (Steven Williams)
Acolhimento – Quando oferecemos um trabalho a um refugiado, ele deixa essa condição e passa a ser um cidadão. Isso transforma empresas e a humanidade. Desde a fundação da empresa, a Chobani se compromete com essa causa. (Hamdi Ulukaya)
Responsabilidade – Comunicação franca e constante mantém a liderança conectada com os times. (Rodney McMullen)
A partir de uma visão realista de contexto, somada a competências repaginadas, podemos eleger a estratégia Direct to Consumer (DTC) como um dos caminhos para que as empresas possam alcançar o crescimento em diferentes níveis. É um modelo virtuoso por permitir reduzir o custo ao cliente e aumentar a margem de lucro do fabricante.
Vale lembrar que muitos varejistas estão fazendo o caminho contrário, investindo em marcas próprias ou verticalizando seu modelo, mas esse é tema para um outro artigo.
Ilustrativamente, cabe citar alguns cases de empresas que foram apoiadas pela Gouvêa Ecosystem em sua jornada DTC.
ArcelorMittal – Uma empresa cujo faturamento é superior a 76 bilhões de dólares (como indústria) e que, em 2021, inaugurou sua primeira loja. Hoje são 11 operações próprias ou com parceiros e há uma previsão de abertura de outras 7 unidades em 2023. Um projeto desenvolvido pela Gouvêa Consulting.
Pampili – Com o projeto desenvolvido pela Bittencourt, a marca de lifestyle para meninas, após amadurecer o conceito com 12 lojas próprias, começou a operar com franquias no segundo semestre de 2022. E já são 5 unidades nos estados de São Paulo, Ceará, Paraná, e Piauí.
Casa La Pastina – O projeto foi desenvolvido pela Gouvêa Consulting e pela Gouvêa Foodservice, que apoiaram a La Pastina a construir sua estratégia para implementar a primeira flagship da marca, em novembro de 2022, em São Paulo. Se haverá expansão, os formatos e modelos de operação em breve saberemos. O fato é que o primeiro passo foi dado e a receptividade dos clientes foi espetacular.
Cases muito maduros e pujantes de DTC deram mais um salto e, há alguns anos, seguem acelerando sua estratégia expansionista através da Internacionalização.
Havaianas faz isso com muito sucesso e crescimento consistente, cuja participação da operação internacional já responde por 32% do tamanho do negócio.
Lupo, com mais de 800 unidades, cresce em número de unidades, receita e lucro líquido, além de focar em soluções cada vez mais sustentáveis em seu processo produtivo.
Por fim, Bauducco, que, além de crescer com a venda de produtos, tomou a decisão de expandir a casa Bauducco, almejando atingir 400 lojas entre operações brasileiras e internacionais.
Se as lideranças a frente das empresas citadas estão 100% conectadas com os desafios identificados na NRF2023 ou possuem todas as competências sublinhadas pelas lideranças as quais pudemos nos inspirar, não sabemos. O fato é que estão trilhando um caminho inspirador para todos nós e fazendo suas empresas maiores e melhores para seus colaboradores e clientes.
Para finalizar, gostaria de registrar que dentre os vários desafios para o sucesso do DTC há a construção de novos times, mudança da mentalidade interna e o gerenciamento de conflitos com os canais. Mas o principal deles é o entendimento da indústria de que o decisor não é mais uma outra empresa, e sim o consumidor, cujos drivers, apelos e expectativas são bem diferentes. Parece óbvio, mas nem sempre é simples de realizar na prática.
A expectativa de resultados de curto prazo pode influenciar negativamente essa nova vertical de negócios. A maturação em termos de resultado financeiro depende da assertividade do planejamento, mas, principalmente, da entrega da experiência perfeita para o consumidor. Entender que a loja é um OmniPDX é o que fará a diferença.
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
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