União Geral dos Trabalhadores (UGT) protocolou um ofício junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT), pedindo providências para garantir o pagamento dos direitos dos trabalhadores demitidos na crise que a SouthRock enfrenta e levou a operadora à recuperação judicial há quase 1 ano. A empresa era master franqueada da Starbucks e da Subway no Brasil entre outras operações de foodservice. As duas marcas foram adquiridas pela Zamp, dona de Burguer King e Popeyes, com aprovação sem restrições do Conselho Administrativo da Defesa Econômica (Cade).
Para o presidente da UGT, Ricardo Patah, “é inadmissível que os trabalhadores continuem sem seus pagamentos enquanto as empresas trocam de CNPJ para se livrar das dívidas trabalhistas. Não vamos permitir que vidas sejam ignoradas dessa forma”.
Em resposta à reportagem, a Zamp informou que “esses assuntos estão sendo tratados em âmbito da recuperação judicial e que a SouthRock e o juízo da RJ é quem pode falar sobre o tema”.
Em nota, a SouthRock informou que “dá continuidade à aprovação e implementação de seu plano de Recuperação Judicial acordado com a Justiça brasileira, o que inclui acordos e pagamentos a credores e de dívidas trabalhistas com colaboradores e ex-colaboradores”. “Neste momento, a SouthRock não tem informações adicionais para compartilhar”, finalizou.
Impacto social: uma conta que ninguém paga
Segundo a central sindical, centenas de trabalhadores da Starbucks e da Subway estão sem receber as verbas rescisórias. O advogado da entidade, Alessandro Vietri, afirma que a maior preocupação da entidade é com os trabalhadores que foram demitidos pela SouthRock.
“Até hoje, ex-empregados não receberam suas rescisões, FGTS e seguro-desemprego. O MPT já intimou tanto a Zamp quanto a SouthRock para apresentarem um planejamento de pagamento desses funcionários. Estamos analisando as petições apresentadas para garantir que todos os compromissos sejam honrados”, explicou Vietri.
Ginny Coughlin, representante da Service Employees International Union (SEIU) na América Latina, sindicato internacional que defende trabalhadores em redes de fast-food, destacou que essa prática de transição empresarial sem resolução das dívidas trabalhistas é comum em diversas partes do mundo. “Precisamos discutir globalmente esses comportamentos prejudiciais que afetam tanto os trabalhadores quanto as economias locais. Não podemos permitir que as empresas mudem de controle e deixem para trás dívidas trabalhistas, prejudicando as vidas de tantas pessoas.”
Rafael Guerra, também da SEIU no Brasil, criticou o impacto social dessa transição sem a devida responsabilidade com os trabalhadores. “Estamos falando de pessoas que dependem desses pagamentos para sustentar suas famílias. Um exemplo é o caso de uma mãe solo que pode perder sua casa por não ter recebido a rescisão. Consciência social e respeito ao ser humano são o mínimo que se espera de empresas que querem se conectar com a população”, concluiu
A SouthRock entrou com pedido de recuperação judicial, demitiu inúmeros trabalhadores e não pagou os direitos trabalhistas, alegando que estavam cobertos pelo processo de recuperação judicial. Para a UGT, “isso é incoerente, já que, de acordo com as normas de recuperação judicial, o pagamento dos direitos trabalhistas deve ser uma prioridade”. “Acreditamos que houve uma manobra para evitar esses pagamentos”, destaca a central sindical.
A UGT informou ainda que a somente a rede Subway demitiu 20% dos 2.400 funcionários desde o início do processo de recuperação judicial da SouthRock.
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