Quando a Niketown abriu as portas em Nova Iorque, em novembro de 1996, prometia antecipar o futuro do varejo. Logo na entrada, o visitante recebia o impacto visual de um enorme átrio que se estendia pelos cinco andares da loja. De meia em meia hora, as luzes da loja baixavam e uma tela gigante descia por aquele espaço, para receber a projeção de um vídeo sobre a marca e seus produtos.
A loja era cenográfica e cada seção falava de um tema diferente, com ajuda de expositores incríveis, painéis fotográficos e elementos como sacos de boxe, que podiam ser usados pelos clientes. O atendimento não era feito por simples vendedores, mas por pessoas capazes de orientar as escolhas dos consumidores. ‘Atletas servindo atletas’, era o lema da Nike.
Também havia muita tecnologia. Depois que os clientes provavam os produtos, os funcionários acionavam o estoque, por meio de uma tela de computador, de onde os itens eram enviados, por meio de um intrincado sistema de 26 tubos pneumáticos, até o vendedor. Impressionante? Claro que sim. Não foi à toa que a Niketown ganhou o apelido de Willy Wonka dos tênis, uma referência ao filme ‘A fantástica fábrica de chocolates’, tornando-se ponto de visita obrigatória para quem queria entender os rumos do varejo.
A Niketown a cada ano ganhava novidades, como a área de customização de tênis, espaços dedicados a novos produtos, como o Nike+, e muitas experiências. Parecia eterna em sua capacidade de renovar-se. No entanto, no começo de 2018, a imensa loja da Rua 57 fechou as portas, para sempre.
Seria mais uma vítima do Apocalipse do Varejo?
Não, longe disso. A Nike simplesmente seguiu adiante. Em 2016 já havia inaugurado, também em Nova Iorque, mais precisamente no Soho, um novo modelo de loja onde melhorou experiências e agregou novas tecnologias. Parece que estava apenas testando ideias para enfim lançar, esse ano, uma proposta de loja realmente disruptiva, sugestivamente batizada de Nike House of Innovation.
A nova flagship ocupa cerca de 7 mil m2, distribuídos por seis pisos, em um prédio da 5ª Avenida, próximo à Rua 52. Ela incorpora os mais recentes avanços digitais da Nike e conta com o maior estoque de tênis da marca do mundo. A House of Innovation tem ainda a ‘Speedshop’, uma espécie de loja dentro da loja, para compras rápidas de itens populares. Praticamente uma loja de conveniência Nike.
Todo o espaço é modular e as paredes podem ser movidas, fazendo com que as áreas possam ser modificadas inteiramente, de um dia para o outro, para receber um grande evento, por exemplo. Outra novidade é um andar inteiro dedicado aos membros do Nike+, que podem usufruir de vantagens como horários exclusivos para compras, consultas com especialistas e customização de produtos. Mas os simples mortais não precisam se preocupar – há também um amplo laboratório de customização de produtos logo na entrada da loja, disponível para todos.
A House of Innovation promove ainda maior integração de funcionalidades do app da Nike dentro da sua loja física. Isso significa a possibilidade de pagamento via celular e de obter informações sobre os produtos por meio de escaneamento de QR Code presente em cada manequim. Esse código também permite que o cliente peça que determinada peça seja enviada ao provador, onde um vendedor irá atende-lo.
Comparar a Niketown, fechada no início do ano passado, com a House of Inovation, aberta no final do mesmo ano, é como fazer uma viagem no tempo e perceber como o varejo evolui e para onde se direciona. As experiências são mais customizadas, a tecnologia torna a compra mais conveniente, a marca torna-se mais pessoal. É também perceber com mais clareza, porque determinadas marcas, com menor percepção das novas demandas dos consumidores, vão ficando pelo caminho.
Isso para mim não é apocalipse. É evolução.
Nota:
Esses e outros conceitos serão apresentados em nosso programa Retail Trends – Pós NRF, a partir de fevereiro, em diferentes cidades do país.
* Imagem reprodução