Neoindustrialização, marca e distribuição: está na hora de pensar diferente

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Exportação de café brasileiro em julho cresce 25,7%, para 3,774 milhões de sacas, aponta Cecafé

Importantes iniciativas têm sido propostas na tentativa de resgatar uma maior representatividade do setor industrial brasileiro. Mas não podemos esquecer que o passado não volta e é preciso pensar, refletir e agir em linha com as irreversíveis transformações estruturais que a tecnologia, o digital e a evolução do mundo impõem.

Em primeiro lugar, porque as sociedades evoluem e é inevitável o crescimento da participação do setor de serviços no PIB dos países, incluindo o comércio e o varejo.

Nas economias mais desenvolvidas, o setor de serviços representa, em média, 68% do PIB. No Brasil, enquanto o setor industrial involuiu sua participação de 23%, em 2000, para 20,7%, em 2022, no setor de serviços houve um crescimento de 58,3%, em 2000, para 58,9%, em 2022. Já no agro houve significativa evolução, de 4,8% para 6,8% no mesmo período.

Quanto mais madura uma sociedade, maior será a participação dos serviços nas despesas familiares e sua representatividade no PIB envolvendo saúde, educação, viagens, turismo, lazer, entretenimento, foodservice, experiências, cultura e muito mais.

Cada economia tem suas próprias vocações decorrentes das mais diversas situações. É preciso um planejamento estratégico, com visão de longo prazo, para potencializar o que é natural. No caso brasileiro, está mais do que provado que temos um potencial incrível para evoluirmos muito mais em tudo o que disser respeito ao agro. E os resultados setoriais desse primeiro trimestre mostram o quanto isso é verdadeiro.

É preciso reconhecer que temos iniciativas que criaram benchmarks globais na área industrial, como os casos da Embraer, Weg, JBS, Tramontina, Boticário, Grendene, Alpargatas, Natura e outras mais. Esses são exemplos importantes de nossa capacidade e condições de sermos competitivos a partir da indústria no cenário global. Em alguns casos, numa competente combinação de produto, marca e canal de distribuição, que pode ainda agregar serviços, em ambitente físicos e digital, fechando um ciclo virtuoso de competitividade.

Vale destacar que esse ciclo virtuoso de competitividade, combinando esses quatro elementos, está cada vez mais presente em empresas líderes globais na área de consumo em seus segmentos, como Nestlé-Nespresso, P&G, Unilever, JBS e AB InBev.

No caso de Boticário, Natura, JBS, Tramontina, Grendene e Alpargatas, que, a partir de sua origem industrial, se reposicionaram, agregando outras competências, se reinventando, tornando-se líderes e referências globais em seus segmentos.

De forma clara, essa visão pode e deve ser estendida para nossa atuação no agronegócio, dentro da mesma lógica, para evoluir de produtores e fornecedores de commodities, com preços fixados pela flutuação da oferta e demanda, para marca e distribuição, permitindo preços e margens mais significativos.

É sempre importante lembrar a questão do café tipo arábica, que sai da lavoura cotado a R$ 16,65 o quilo, para retornar embalado em cápsula a R$ 530 o quilo, agregando produção, distribuição, marketing e logística.

Na área do consumo é importante, de fato, repensar e buscar caminhos para uma revitalização no setor industrial, que perdeu protagonismo por suas próprias opções e ações, mas muito mais importante é pensar estrategicamente, em termos modernos e globais, para avançar na cadeia de valor, agregando marca, distribuição e serviços, gerando muito mais receitas, emprego e renda para o País.

Vale refletir.

Nota: Esses elementos que impactam a transformação do varejo e do consumo serão apresentados e debatidos para os mais diferentes canais, categorias, formatos e modelos de negócios no Latam Retail Show, que terá como tema central “Back to the Future” e será realizado de 19 a 21 de setembro.

Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagens: Shutterstock

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