Medidas de governança têm que ser colocadas em prática para mudar a imagem do esporte brasileiro

Nesta quinta-feira aconteceu o Summit Sportlab, que reuniu os principais líderes do esporte brasileiro para falar de temas como gestão, governança, patrocínio e transmissão esportiva no Brasil. O evento foi realizado pela associação Sou do Esporte, em parceria com a Sportlab, nova empresa do ecossistema do Grupo GS& Gouvêa de Souza.

No evento foi realizada a entrega da 5ª edição do prêmio Sou do Esporte, que reconhece pessoas e iniciativas que transformam o esporte brasileiro. Para começar a premiação, foi realizado o painel “Governança como força motriz do desenvolvimento do esporte brasileiro”, que contou com as presenças de Marco La Porta, vice-presidente do Comitê Olímpico do Brasil; Alberto Murray, presidente do Conselho de Ética do COB; Cláudio Mattos, sócio do escritório Demarest Advogados e do medalhista olímpico e presidente do LIDE Esporte Lars Grael. A conversa foi mediada por Luís Felipe Barros, diretor de Governança da Sou do Esporte.

Mattos afirmou que não existe credibilidade sem segurança jurídica. “Há algum tempo encontrei uma pessoa que sugeriu que nós, por sermos um escritório grande, poderíamos conversar com clientes para investir no esporte. Falei com alguns e eles disseram que se sentiam inseguros, preferindo investir em qualquer outra área que não o esporte”, contou o advogado.

A partir deste cenário, foi criada uma área especializada no esporte dentro do Demarest Advogados. Mattos afirmou que sempre fala para os clientes: “Não adianta fazer papelada com um monte de políticas éticas se a postura não mudar. Não adianta um advogado escrever um monte de documentos se a influência for negativa e não mudar nada na estrutura”.

Grael falou sobre as medidas políticas que foram aprovadas para a área esportiva, como a Lei de Incentivo ao Esporte e a Lei Pelé. “Várias medidas foram tomadas, mas a politica era voltada para eleições e realização de grandes eventos esportivos, como Jogos Militares, Copa e o maior evento esportivo que é as Olimpíadas”, disse o atleta.

Para Lars, havia uma ideia de que os fins justificam os meios, que para realizar os eventos no prazo valia qualquer coisa. “Pois bem, os eventos passaram e se passou a questionar os meios.

E aí vieram medidas de governança, de transparência”, contou. Os próprios atletas passaram a fazer pressão por mudanças.

“No ano passado, todos se uniram para combater a medida provisória 841, que prejudicava uma parcela expressiva do esporte. Houve uma união das confederações para derrubar a medida, inclusive de quem não seria prejudicado pela MP. Todos se uniram para defender o setor como um todo”, explicou Grael.

Ele acredita que os atletas devem participar e ocupar os espaços propícios para esta participação, ajudando a fortalecer a democracia e a transparência no esporte. “Se antes os atletas tinham uma reivindicação, hoje eles têm uma responsabilidade”, disse Grael. Muitas confederações e entidades têm um espaço para que os atletas participem das decisões, mas que não é devidamente ocupado.

Murray acredita que é preciso evitar que ocorram retrocessos nas medidas de governança que foram tomadas e no estatuto adotado pelo Comitê Olímpico do Brasil. “Foi um trabalho duro. Outros países não tem o estatuto que nós temos. Mas as empresas não vão investir se não houver controles rígidos. Dois anos de estatuto é pouco e elas querem ver se as coisas vão ser aplicadas na prática”, disse o presidente do Conselho de Ética do COB, que concluiu “vamos dialogar para não retroceder”.

La Porta disse que se sente preocupado em como este processo de mudança irá seguir. “Estas medidas são novidades. A curiosidade é como isso vai ocorrer daqui para a frente. Estas confederações pequenas, por exemplo, sei como é difícil implantar estas mudanças em estruturas menores. Será que são necessárias todas estas medidas? É possível fazer adaptações para facilitar a implementação?”, questionou o vice-presidente do COB.

Premiação
Para iniciar a entrega dos prêmios desta edição, Fabiana Bentes, presidente da associação Sou do Esporte, falou sobre a necessidade de mudanças. “ São cinco anos atuando para que a governança no esporte avance e por isso vamos lutar para que não haja nenhum retrocesso. Como jornalista, entendo que a vigilância e a crítica são a base para qualquer cidadão tornar uma sociedade melhor. E nosso trabalho consiste em fortalecer a representação da sociedade civil e combater qualquer iniciativa que prejudique o desenvolvimento pleno do Esporte brasileiro, disse Fabiana.

Mizael Conrado, presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro afirmou: “quando iniciamos de maneira mais intensa a discussão dessa questão da governança, confesso que fiquei bastante inquieto. As confederações têm certa independência, embora dependam de recursos públicos. E aí fiquei pensando qual governança deveríamos seguir, se a das confederações ou a pública. Pensei então que a governança que funciona é aquela que gera resultado. Fiz um mestrado na FGV para entender melhor a questão da governança no esporte. Vi aquilo que era inevitável. A governança tem que gerar transparência e ética”. Ele foi contemplado com o Prêmio Gestor do Ano.

O ídolo Ayrton Senna recebeu um reconhecimento especial que reúne as categorias Atitude Positiva, Solidário, Atleta de Valor e Homenagem Especial Sou do Esporte.

A categoria Governança da premiação contou com seis finalistas. Na 5ª colocação ficou a Confederação Brasileira de Vôlei, na 4ª houve um empate técnico e as Confederações Brasileiras de Golfe e Rugbi foram contempladas. A vencedora da 3ª colocação foi a Confederação Brasileira de Atletismo. A vice-campeã foi a Confederação Brasileira de Vela e a campeã da noite foi a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa.

Imagem: Mateus Souto/R1

Sair da versão mobile