Para economista-chefe da XP Investimentos, reformas são essenciais para retomada do crescimento

Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos trouxe um panorama das políticas econômicas dos últimos governos brasileiros, a partir de Fernando Collor. “Com o Michel Temer, retomamos a agenda liberal, após um desvio no governo Dilma que foi terrível para o país”. A executiva foi uma das palestrantes do Retail Trends – Pós NRF 2019, realizado pelo Grupo GS& Gouvêa de Souza.

Para ela, a Reforma da Previdência precisa ser votada e o país necessita voltar a crescer. “Aumentar os impostos não é a solução. Se for assim vamos precisar de uma CPMF por ano. O Temer poderia ter seguido o caminho fácil e aprovar um imposto, mas foi feito um diagnostico correto de que não dá mais para aumentar tributo. Precisamos reduzir gastos e isso só é possível com reformas”, esclareceu Zeina.

Segundo ela, a Reforma da Previdência é essencial. A economista trouxe o exemplo do Japão, que possui três vezes a nossa população de idosos, mas não gasta nem 10% do PIB com previdência. A situação brasileira se compara a de países desenvolvidos. “2030, que já está aí virando a esquina, os 14,5% gastos com previdência virarão 17%. Seremos um país pobre e velho. Não é uma boa combinação”, afirmou Zeina.

A situação financeira dos estados é grave, embora não seja homogênea. “O Espirito Santo tirou nota máxima, mas também temos os casos seríssimos do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. Mas a Reforma da Previdência é unânime”, comentou a economista.

“Todos os candidatos competitivos das últimas eleições admitiram a necessidade da reforma. Mesmo o Haddad. Que será aprovada uma reforma é fato, a dúvida é quando ela será aprovada e o quão ambiciosa ela será”, afirmou Zeina.

Mas ainda há muitas discussões em relação à Reforma da Previdência. As mulheres desejam se aposentar antes dos homens, vários grupos desejam serem mantidos como exceção, com alguns privilégios. Assim, aprovar a mudança não é fácil.

“Estamos em um caminho positivo em termos da nossa agenda econômica. A Reforma da Previdência não é a solução, mas é um passo largo. Precisamos de mais reformas estruturais, que façam aumentar a produtividade da economia do Brasil”, analisou. A produtividade do trabalhador brasileiro se mantém a mesma desde a década de 1970. No governo Dilma ela caiu, devido ao forte intervencionismo estatal. Ela se mantém baixa devido ao Risco Brasil, por exemplo, a chegada de novas normas que podem interferir nas empresas.

O cenário brasileiro, a burocracia, a infraestrutura deficitária e outros fatores desencorajam os investimentos estrangeiros. “Outro fator é o capital humano, que é a qualidade da nossa mão de obra. Isso depende de educação e eu ainda não vejo um plano sólido neste sentido. Cerca de 60% dos nossos trabalhadores não tem formação técnica ou universitária. Precisamos correr com essa agenda”, disse Zeina.

Os sinais são positivos, mas a economia brasileira ainda está muito frágil. A produção industrial brasileira não acompanha mais o resto do mundo. “Quem acha que acompanhar o mundo não é mérito está enganado. Se você acompanha o mundo, algo de certo você fez”. Depois do governo Dilma e da greve dos caminhoneiros que afetou fortemente a produção industrial, estamos novamente com sinais de estagnação.

“Felizmente tivemos uma inflexão importante na politica econômica, o novo governo pretende continuar com as mesmas agendas, ajustar as contas publicas e fazer reformas. Estamos no caminho certo, mas o desafio ainda é muito grande”, concluiu Zeina.

 

* Imagem reprodução

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