Explorando as tendências em ESG: uma análise de 3 prioridades abrangentes

Explorando as tendências em ESG: uma análise de 3 prioridades abrangentes

O primeiro mês do ano foi marcado pela divulgação dos relatórios e análises sobre as tendências de ESG para 2024. Organizações e especialistas ligados ao tema trouxeram suas listas do que deve estar na pauta dos gestores das empresas. Em meio às diferentes prioridades destacadas, três me chamam a atenção justamente por sua abrangência e capacidade de incluir novos temas dentro do seu guarda-chuva.

Antes de citá-las, é importante lembrar que essa é uma pauta universal e multisetorial. Em outras palavras, se você é um líder preocupado com o crescimento do seu negócio –  não importa o tamanho ou setor da organização – precisará pensar em impacto socioambiental e dedicar tempo ao entendimento dessas tendências. 

Para se ter ideia de como o tema preocupa os gestores, a pesquisa ESG Market Navigator, realizada em 2023 pela Bloomberg Intelligence, mostra que apesar dos riscos geopolíticos e fatores macroeconômicos, 85% dos investidores e empresas ouvidos planejam aumentar o investimento em ESG nos próximos 5 anos.

Além disso, os relatórios apontam que, cada vez mais, os investidores irão procurar oportunidades alinhadas aos valores de responsabilidade social. Tudo indica que veremos com frequência a emissão de títulos verdes por parte do governo e empresas, assim como a criação de produtos de financiamento sustentável pelas instituições financeiras.

Compartilho então, as 3 prioridades de ESG que me chamam a atenção em 2024:

Resposta aos riscos climáticos

A última Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) apresentou um documento global para orientar líderes na redução de gases de efeito estufa e deixou claro que o tema do clima será central nas decisões dos gestores do mundo todo, tanto na esfera pública quanto corporativa. 

Isso também ficou em evidência no Relatório de Riscos Globais 2024, em que seis em cada dez especialistas entrevistados escolheram o item “eventos climáticos extremos” como um dos cinco riscos que acreditam ter maior probabilidade de apresentar uma crise material em escala global neste ano. A expectativa é que as empresas se aprofundem em temas como neutralização de carbono e transição energética.

Mas vale lembrar que, quando falamos de clima e ações de mitigação de riscos, esse é um tema que esbarra em outros assuntos, como biodiversidade e direitos humanos. E essas são pautas igualmente urgentes se pensarmos que a degradação dos biomas traz consequências sistêmicas graves para a vida no planeta. Da mesma forma, problemas como o aquecimento global afetam com mais intensidade e frequência as populações mais vulneráveis, evidenciando a necessidade de uma discussão mais profunda sobre justiça climática.

Gestão ética de stakeholders

O cuidado com os stakeholders é uma prioridade que apareceu com bastante frequência nas análises sobre tendências em ESG. O termo é amplo e abarca não apenas os clientes e os investidores, que são os públicos mais enfatizados quando o assunto é adoção de práticas de responsabilidade social, mas também outros atores-chave.

Entre eles estão os fornecedores. A gestão da cadeia de valor ganhou, em 2023, uma lei específica na Alemanha, a German Supply Chain Act, que exige das empresas análises criteriosas para identificar riscos para os direitos humanos. Na União Europeia já se discute uma legislação no mesmo sentido. No Brasil, escândalos envolvendo fornecedores de grandes empresas também acenderam sinal de alerta sobre o tema, que ganha cada vez mais a atenção de consumidores e investidores.

Os funcionários da empresa também são stakeholders valiosos que devem estar no radar dos gestores. Para esse público, o foco está principalmente em diversidade, inclusão e saúde mental. 

Transparência na prestação de contas

Diversos relatórios apontaram um 2024 com mais transparência nas práticas de ESG. O tema tem muitas camadas, sendo uma delas a necessidade de gestão orientada a dados. Na prática, as organizações não poderão apenas parecer sustentáveis, mas comprovar isso por meio de ações mensuráveis. Prova de que caminhamos para essa clareza das informações é o novo padrão de reporte global em ESG, exigido pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a partir de 2026.

Outra camada quando falamos de transparência é a vigilância da sociedade em relação ao real impacto das ações escolhidas pelas empresas. O Global Trustworthiness Monitor 2023 mostrou que  6 em cada 10 brasileiros acreditam que as marcas usam a linguagem de propósito social sem se comprometerem com as mudanças reais.

A sociedade está de olho e sabe diferenciar os washings. Então, as organizações terão de agir de forma autêntica com os temas de impacto social, assumindo uma identidade mais cidadã e até ativista.

Roberta Faria é CEO da MOL Impacto.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Shutterstock

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