Gigante da moda criada por Arezzo e Soma vai acirrar disputa com marcas asiáticas

Nova companhia aumentará a competitividade no setor e, para especialistas, beneficiar o consumidor

Arezzo

Em um momento de reconfiguração do mercado de moda, a fusão entre Arezzo e Grupo Soma chacoalhou o varejo nacional e acendeu um sinal de alerta entre as plataformas asiáticas, que vêm registrando forte expansão global.

Na última segunda-feira, foi formalizada a criação da segunda maior companhia de moda do Brasil, com um valor de mercado de aproximadamente R$ 13 bilhões. A Renner ostenta o título de player mais forte, com R$ 14,47 bilhões.

O negócio gera forte comoção em números. Combinadas, Soma e Arezzo geram lucro líquido de R$ 753 milhões, possuem 2.057 lojas (sendo mais de 70% franqueadas), têm presença em 22 mil multimarcas e contam com mais de 24 mil funcionários ativos.

Em agressiva expansão no mercado de fast fashion, a Shein já conta com 40% de participação nos Estados Unidos e cresce em larga escala também no Brasil. Segundo estimativa do BTG Pactual, a empresa faturou R$ 10 bilhões no País em 2023 – um crescimento de 42,8% em comparação com o ano anterior. Os resultados se aproximam da Renner, que registrou R$ 11,7 bilhões.

“A mudança de cenário definitivamente foi um dos fatores que acelerou as negociações e motivou a fusão. A reestruturação faz com que as empresas busquem alternativas para se tornarem maiores, resilientes, competitivas e eficientes”, afirma Eduardo Yamashita, COO da Gouvêa Ecosystem.

Sophia Prado, sócia da Fortezza Partners, especializada em M&As, acredita que a companhia combinada com a fusão irá se tornar uma das maiores varejistas do País, semelhante à Renner e potencialmente superior à Shein no Brasil.

“A fusão entre o Grupo Soma e Arezzo reforça a tese de que um grupo com portfólio de marcas complementares focado no mercado premium é capaz de tornar-se uma verdadeira house of brands com maior poder de precificação e proteção contra a inflação do que a maioria dos concorrentes. Além disso, existe um do alto potencial de cross-sell, oportunidade de sinergia e troca de know-how”, afirma.

Yamashita também destaca o maior equilíbrio na queda de braço entre os mercados nacional e asiático, o que vai beneficiar principalmente o consumidor com o aumento da competitividade.

“Em âmbito nacional, essa empresa terá uma expressividade muito grande em termos de robustez de suas marcas, cobertura, abrangência geográfica, infraestrutura e ativos de maneira geral. Porém, as asiáticas ainda têm tamanho e robustez maiores, até por conta de sua atuação global. Então, sim, teremos um forte player que conhece o mercado nacional e tem belíssimos ativos, mas players como Shein ainda são maiores em termos de tamanho, acesso à capital e infraestrutura”, explica o executivo.

A mais nova gigante terá um portfólio de 34 marcas, como Arezzo, Hering, Reserva, Animale, Schutz, Anacapri, Alexandre Birman, Cris Barros, Carol Bassi, Vans e Farm. Esta última esteve nos holofotes recentemente e pôs à prova os frutos de sua internacionalização: o cantor Justin Bieber foi visto em Los Angeles vestindo uma jaqueta puffer avaliada em R$ 1.895 da marca carioca.

Ambas as empresas eram concorrentes, apesar de disputarem mercados diferentes. A Arezzo é focada em calçados e acessórios de luxo. Já o Grupo Soma vende vestuário casual masculino e feminino. O acordo foi ventilado em 2011, segundo pessoas familiarizadas com as negociações, mas travaram e voltaram a ganhar força nas últimas semanas por iniciativa da Arezzo.

Próximos passos da companhia

A empresa formada com a associação da Arezzo e o Grupo Soma será estruturada ao longo deste ano, sem pressa, segundo Alexandre Birman, da Arezzo e presidente-executivo da nova companhia. O cronograma da operação prevê assembleias gerais extraordinárias para a aprovações no primeiro semestre deste ano. A data limite definida foi o fim do primeiro semestre de 2025.

Falando nas melhoras operacionais que a incorporação trará, Birman citou a troca de experiências nas gestões de plantas industriais e canais de vendas. Um dos focos iniciais será a expansão da categoria calçados das marcas Farm, Animale e Hering.

Outro ponto será a otimização de franquias Hering e o desenvolvimento do modelo para a Farm, de acordo com Birman. “Nos tornamos o maior agente de franquias do Brasil.”

A nova companhia terá quatro verticais. Calçados e acessórios femininos ficará sob o comando de Luciana Wodzik. Hering será uma vertical independente, com Thiago Hering como presidente-executivo. Roberto Jatahy, do Soma, será líder da vertical de vestuário feminino; e Rony Meisler, de vestuário masculino. A nova marca deve ser apresentada nos próximos quatro meses. Segundo Roberto Jatahy, a expansão do mercado endereçável está nos planos – “o sonho é ser uma empresa global”.

Hering

Considerado um dos atuais desafios do Soma, o processo de integração da marca Hering terá apoio com a chegada da Arezzo. “A Hering tem uma alavanca que é o reposicionamento de marca, e o time do Birman vai ajudar nisso”, afirmou Jatahy.

Birman disse que o legado da família Hering, sobretudo o parque industrial, é um dos ativos de grande valor na operação. “Pretendo dedicar boa parte do meu tempo como CEO do grupo em Blumenau [onde é a sede da Hering].”

Yamashita cita a fusão entre Drogasil e Droga Raia, em 2011, para exemplificar o momento. À época, ambas as empresas eram gigantes em seu setor. A Drogasil era a segunda maior rede de farmácias do País; a Raia, a terceira. A Drogaria São Paulo liderava o ranking.

“Todo o processo de fusão e aquisição em uma escala como essa é bastante complexo. Por isso, a empresa terá oportunidades de curto, médio e longo prazos que irão demandar bastante tempo, foco e investimento das empresas, mas que tendem a ser positivos. A RaiaDrogasil levou anos para capturar toda a sinergia estimada no anúncio do negócio”, afirma.

Imagem: Reprodução/Arte Mercado&Consumo

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