Impactos Trump à economia brasileira: o tabuleiro mundial há muito tempo não estava em redefinição como agora

Impactos Trump à economia brasileira: o tabuleiro mundial há muito tempo não estava em redefinição como agora

Nas primeiras semanas do segundo mandato do presidente Donald Trump, houve uma série de desafios significativos que abrangem desde questões internas até relações internacionais. Ele prometeu medidas audaciosas em sua campanha, como tarifas comerciais elevadas sobre importações, especialmente da China, o que pode aumentar a inflação e desacelerar o crescimento econômico dos EUA. Além disso, os cortes de impostos propostos podem aumentar a dívida e o déficit fiscal, criando obstáculos adicionais à economia.

A postura protecionista de Trump, incluindo a ameaça de tarifas sobre produtos brasileiros, deve tensionar as relações comerciais e diplomáticas. A retirada de acordos internacionais, como o Acordo de Paris, também afeta a cooperação global em questões climáticas.

Além disso, a possível redução do apoio à Ucrânia em seu conflito com a Rússia e uma abordagem mais isolacionista podem redefinir alianças e influenciar a estabilidade global. Da mesma forma, a nomeação de figuras como Elon Musk para cargos governamentais apresenta desafios na integração de interesses empresariais com políticas públicas.

Dentro desse contexto, é importante lembrar ainda das questões legais e de governança. A implementação de medidas controversas pode resultar em batalhas judiciais prolongadas, afetando a eficácia governamental e exigindo que o governo Trump equilibre suas promessas de campanha com as realidades práticas, buscando soluções que atendam aos interesses nacionais sem comprometer alianças estratégicas ou a estabilidade econômica.

Por outro lado, a figura do presidente dos Estados Unidos pode contribuir muito para romper esquemas  econômicos e geopolíticos que muitos concordam ser obsoletos e não adequados à realidade de hoje. O importante é que tais rupturas sejam a raiz de um novo modo de pensar e agir que gere um novo equilíbrio na economia e política global.

Já a relação entre o Brasil e os Estados Unidos apresenta uma combinação de desafios e oportunidades, influenciada por fatores políticos, econômicos e diplomáticos, visto que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, possui visões políticas distintas das de Trump, afetando o diálogo entre os dois países. Até porque, a agenda protecionista do presidente americano, com possíveis elevações de tarifas sobre importações, pode impactar setores-chave da economia brasileira, como o agronegócio.

No entanto, a escassez de gado nos EUA, que atingiu os níveis mais baixos em 70 anos, sugere que os compradores americanos continuem a depender das exportações de carne bovina do Brasil.

A meu ver, apesar das afirmações de campanha e do discurso de posse marcantes de Trump, incluindo declarações de que o Brasil e Mexico, prioritariamente na América Latina, precisam mais dos Estados Unidos do que o contrário, o cenário geopolítico atual tem forças novas tentando consolidar um novo equilíbrio mundial. Com certeza, o presidente americano e o seu staff entendem que é melhor seguir em frente com uma relação privilegiada com o Brasil do que incentivar um aliado histórico a se aproximar a outras potências mundiais. O tabuleiro mundial há muito tempo não estava em redefinição como agora.

Embora existam preocupações sobre o impacto das políticas de Trump na economia brasileira, especialistas sugerem que o país pode encontrar oportunidades no novo cenário global. A postura pragmática e a defesa dos interesses nacionais serão essenciais para navegar nas complexidades das relações bilaterais nos próximos anos.

Por isso, diante de possíveis tensões comerciais com os EUA, o Brasil pode buscar fortalecer suas relações com outros parceiros, como a China. A participação ativa no bloco Brics e a organização da COP30, em Belém, prevista para novembro de 2025, destacam o papel do País em fóruns internacionais e a sua busca por diversificação de alianças.

E, concluindo, a verdade é que o relacionamento Brasil-EUA sob o novo governo Trump exigirá diplomacia cuidadosa e estratégias adaptativas para equilibrar divergências e aproveitar oportunidades que surgirem no cenário internacional.

Fabio Ongaro é economista e CEO da Energy Group.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Shutterstock

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