Sete em cada 10 empresas não têm indicadores claros para avaliar inclusão geracional

Em 2023, quando foi lançada a primeira edição do estudo sobre etarismo em organizações, 80% delas não possuíam métricas de análise

De cada 10 empresas brasileiras 7 não têm indicadores claros para avaliar inclusão geracional

Sete em cada 10 companhias brasileiras não possuem indicadores claros para medir o avanço de programas de inclusão geracional e o crescimento dos colaboradores 50+, segundo uma pesquisa sobre etarismo realizada pela Robert Half, em parceria com a Labora.

Em 2023, 80% das empresas não possuíam métricas claras para avaliar o sucesso das iniciativas de inclusão geracional, mas 23% estavam desenvolvendo algo nesse sentido. Apesar de o percentual ter caído para 70% neste ano, os dados são considerados preocupantes.

“Para criar um ambiente de trabalho verdadeiramente inclusivo, é essencial promover a conscientização sobre etarismo e investir em treinamento contínuo para funcionários de todas idades. Muitas vezes, preconceitos inconscientes passam despercebidos, mas têm um impacto significativo na criação de ambientes corporativos multigeracionais saudáveis e eficientes”, alerta Sergio Serapião, fundador e CEO da Labora.

Sinais iniciais de preocupação com retenção de talentos 50+

A maioria das empresas (61%) ainda não tomou medidas para reter profissionais acima de 50 anos, embora este número represente uma melhoria em relação ao ano passado, quando 71% das empresas admitiam não ter adotado ações nesse sentido.

Entre as iniciativas para reter esses profissionais, destacam-se o monitoramento do desenvolvimento de colaboradores 50+ e revisões periódicas para garantir que os programas adequados estejam em vigor. Nenhuma prática, no entanto, sobressaiu-se de forma significativa.

Letramento e conscientização são questões urgentes

Quando questionadas diretamente, 63% das empresas afirmam nunca ter presenciado casos de etarismo. Entretanto, uma análise mais detalhada mostra que essas mesmas organizações reconhecem que as oportunidades de desenvolvimento não são equitativas para todas as idades, evidenciando que ainda há espaço para melhorias.

A percepção é diferente entre profissionais empregados e aqueles em busca de recolocação. Entre os desempregados, 66% veem o preconceito etário como o principal obstáculo para retornar ao mercado de trabalho. Entre os empregados, 63% acreditam que o tema não é devidamente valorizado em suas empresas.

“Avalio essa desconexão entre as respostas como uma falta de clareza sobre o que, de fato, são atitudes etaristas e como abordá-las adequadamente. Portanto, para avançar na construção de uma cultura antietarista e criar ambientes intergeracionais saudáveis, o passo mais urgente envolve investimento em formação e conscientização”, orienta Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul.

A pesquisa também aponta que 67% dos entrevistados consideram importante oferecer treinamentos sobre o tema para as lideranças e 66% acreditam na eficácia de promover palestras sobre etarismo para todos os colaboradores.

Diversidade geracional não é prioridade nos processos seletivos

O estudo revela que 77% das empresas não possuem iniciativas intencionais para aumentar a diversidade geracional em seus processos seletivos. Dessas, 39% estão discutindo a implementação de medidas, enquanto 38% acreditam que não precisam de ações específicas, presumindo que qualquer pessoa pode participar dos programas existentes.

Ao questionar o papel do departamento de Recursos Humanos e da liderança da organização sobre promoção da contratação de profissionais 50+ em maior escala, a Robert Half destaca três recomendações:

Apesar de ainda serem práticas pouco disseminadas, empresas inovadoras que adotaram processos seletivos afirmativos relatam bons resultados, com 81% das organizações considerando-os eficazes.

Além disso, iniciativas como a adoção de novos formatos de trabalho, o que inclui jornadas diferenciadas e contratações por projetos, têm se mostrado promissoras. Das empresas que implementaram essas ações, 88% estão satisfeitas ou parcialmente satisfeitas com os resultados. Essas organizações podem ser consideradas pioneiras na construção de uma força de trabalho multigeracional.

“Para reverter o quadro de disparidades geracionais nas empresas, é necessário revisar e ajustar os processos de recrutamento para garantir que não existam vieses etários. Ao utilizar critérios baseados em habilidades e experiências, em vez de idade, as companhias podem promover uma maior diversidade geracional em suas equipes, assim como melhorar a qualidade da contratação e a performance do time”, destaca Mantovani.

Interseccionalidade intensifica a sub-representação

Em 25% das empresas respondentes, profissionais 50+ representam até 5% da força de trabalho. Apenas 13,3% das companhias possuem mais de 25% de colaboradores nessa faixa etária, número praticamente estável em relação ao ano anterior (12,5%).

A sub-representação é ainda mais acentuada entre mulheres 50+, com 32,2% das empresas relatando que elas constituem menos de 5% de seu quadro de funcionários, evidenciando que as mulheres seniores estão ainda mais sub-representadas em comparação aos homens da mesma faixa etária.

Sob outra perspectiva, 10% das empresas desconhecem o percentual de profissionais 50+ em sua força de trabalho, e essa incerteza aumenta para 38% quando se trata de interseccionalidades, como o percentual de pessoas LGBTQIA+ acima de 50 anos. A falta de consciência ou de disponibilidade de dados sobre a relevância dessas informações são pontos que merecem atenção.

Dificuldades no desenvolvimento de políticas de equidade etária

A pesquisa mostra que 69% das companhias reconhecem que não oferecem oportunidades equitativas para diferentes idades. Nos últimos 12 meses, 42% das empresas não realizaram nenhuma ação de conscientização sobre a intergeracionalidade. Entre as que tomaram alguma iniciativa, destacam-se palestras para toda a empresa (31%), programas de formação para a liderança (25%) e iniciativas estruturadas de conscientização (15%).

“Esse dado, vindo das próprias empresas, pode ser visto como um pedido de ajuda – a expressão de uma vontade de mudança, mas ainda com uma falta de clareza sobre como iniciar esse processo”, comenta Serapião.

Criação de espaços para colaboração intergeracional é essencial

A maioria das empresas (68%) enfrenta desafios na colaboração intergeracional. Os principais obstáculos incluem conflitos entre gerações (32%) e dificuldades de comunicação e integração entre profissionais de diferentes idades (29%).

Segundo a pesquisa, as empresas acreditam que a solução está em desenvolver iniciativas como:

Sobre a pesquisa e metodologia

A segunda edição da pesquisa “Etarismo e inclusão da diversidade geracional nas organizações”, realizada pela Robert Half e Labora, oferece um acompanhamento contínuo e anual sobre como o mercado brasileiro está lidando com a inclusão da diversidade geracional e etarismo nas organizações.

Para esta edição, os dados foram levantados durante a coleta para a 28ª edição do Índice de Confiança Robert Half (ICRH), que traz as percepções de profissionais com emprego e em busca de recolocação, além de profissionais que influenciam no recrutamento nas empresas, sobre os desafios da empregabilidade, com destaque para a questão do etarismo e diversidade geracional.

A pesquisa foi realizada em junho de 2024, por meio de questionário online com 387 empresas, 387 profissionais com emprego e 387 profissionais em busca de recolocação.

Imagem: Shutterstock

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