Começo meu dia (ainda na cama) conferindo Facebook, Instagram, Slack, WhatsApp, E-mails, Linkedin. Nesta ordem. Na aurora primeiro a diversão depois a obrigação, depois do café, a diversão, coitada, ficará para o final da noite. No caso dos grupos e canais, reviso as conversas com avisos de posts novos. São uns 15 a 20 canais/grupos principais. Aí levanto da cama. Cuido de mim, das questões pessoais e inicio meu dia. Percorro o mesmo caminho – deixando a diversão para os momentos de nano cansaço – durante as 11 ou 12 horas seguintes.
Estou trabalhando muito mais do que na modalidade presencial. Mas essa romaria, como diria minha mãe, é concomitante a incontáveis reuniões pela web por meio de plataformas – fácil, fácil, pelo menos 6 a 7 horas por dia já que meus colegas de trabalho, clientes e parceiros não moram comigo. No tempo restante – bem curtinho – tenho que providenciar o que foi compartilhado, acordado, resolvido neste vai e vem de contatos, interfaces e reuniões digitais.
Semana passada senti uma fadiga tecnológica, um híbrido de mau humor de TPM, cansaço daquelas noite mal dormidas e necessidade de andar com pés descalços na terra. Imagino que seu dia não seja muito diferente do meu. E escuto sem cessar que a transformação digital ocorreu. Ocorreu? Mesmo? Então aqui vai um quiz para auxiliar nossa reflexão:
(A) Digitalização é passar incontáveis e incontáveis horas interagindo profissional e pessoalmente por meio de plataformas digitais;
(B) Transformação digital é todo o time trabalhar em home office, equipes descentralizadas autônomas, arquivos em nuvem com aumento da velocidade das atividades e implantação de projetos na modalidade de cultura ágil remota;
(C) Digitalizar canais é colocar delivery e e-commerce em operação do dia para a noite;
(D) Transformação digital é ter e-commerce, canais e pontos de contato digitais.
Alguma? Todas? Será? Sem dúvida mudamos Para o estágio 2 da digitalização. A etapa que tem disseminação de canais digitais sejam de vendas ou pontos de contato, desacoplamento da logística para empresas entrantes em e-commerce, súbito crescimento de entrantes em e-commerce e implantação de gestão descentralizada. Não é mesmo pouca coisa, ainda mais que tudo isso aconteceu em escala global – cada país em seu momento, em menos de um mês.
Mas digitalização e transformação digital estão menos relacionadas com hardware, canais e interfaces e mais à mentalidades. Mentalidade, segundo nos ensina o dicionário é: “uma crença, maneira de pensar, predisposição que uma pessoa tem para padrões de comportamento”.
Mentalidades levam a escolhas, a decisões estratégicas e se as mentalidades não mudam, ao sair da quarentena muitas mudanças ocorridas serão insustentáveis em outra realidade. Muito do nosso dia a dia, dinâmica de processos, forma de condução, táticas e decisões estratégicas ainda são – e serão por muito tempo – analógicas. Nas grandes perspectivas e nos detalhes. Lembro- me de visitar uma empresa de ERP, os sistemas tecnológicos de integração corporativa, cuja recepção anotava RG’s em papéis amassados. Eu não me conformava que uma empresa de tecnologia tivesse como primeiro contato uma faceta tão desalinhada com seu negócio.
São mentalidades que fazem com que mais da metade das 300 maiores empresas varejistas não tenham e-commerce. E sobre este aspecto cabe um adendo. Esta foi uma escolha de empresários durante muitos anos, porque analisamos resultados de lojas online sem considerar sua influência nas vendas totais. Tem ou não tem retorno do investimento por si só. Mais recentemente estudos, como o da consultoria norte-americana Forrester, nos ensinaram que as vendas totais de uma empresa são impactadas pelo e-commerce e no cálculo da empresa, na ordem de 59%.
Mas se mantemos perspectivas analógicas diante de novos fatos, pesquisas e descobertas, não migramos para uma mentalidade digital e aquele e-commerce implantado às pressas durante a quarentena será relegado mais dia menos dia. Então fique atento. Precisamos ainda mudar mentalidades.
NOTA: na próxima quinta-feira, dia 16 de abril, o webinar temático Mercado & Consumo em Alerta terá sua edição especial sobre E-commerce.
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