Competição rima com consolidação. Mas também com inovação em modelos de negócios e alianças no varejo

Vivemos uma era de constante, permanente e crescente pressão competitiva que tem como resultado um inevitável processo de consolidação de mercado.

A evolução dos indicadores de fusões e aquisições no mercado global é crescente nos últimos 20 anos e em 2017 atingimos um total de US$ 4,7 trilhões, consolidando mais de US$ 20 trilhões nos últimos quatro anos nesse processo.

Em todos os segmentos e em todas as indústrias, as fusões e aquisições têm sido um caminho natural para que empresas, marcas e negócios busquem alternativas para seu crescimento, ou sobrevivência, precipitando um processo sem precedentes de consolidação.

Esse irreversível aumento da competitidade entre negócios e empresas, potencializado pelas próprias fusões e aquisições, tem também demandado inovações nos modelos de negócios, criando ecossistemas competitivos onde empresas combinam competências e recursos para gerar novas oportunidades e alternativas.

O mercado europeu, como um dos mais competitivos e consolidados do mundo, é um benchmarking do que estará acontecendo em escala global.

Em especial nos segmentos de bens de consumo, especialmente nos setores de hiper, supermercados e conveniência. E mais particularmente ainda quando o varejo do hard-discount cria um cenário comum a todos os grupos varejistas pressionados pelo rápido avanço e difusão desse formato que é o que mais cresce no canal de lojas. (vide Momentum 767 sobre o crescimento do hard discount no mundo e na América Latina).

Elefantes aprendem a dançar juntos

Quando grandes corporações globais de varejo, verdadeiros elefantes corporativos por seu porte e força, se defrontam com a crescente competição imposta pela consolidação de mercado, têm o caminho de serem consolidadores ou consolidados.

Ou inovarem em modelos de negócios.

Essa é a melhor leitura que pode ser feita do movimento desencadeado pelo Carrefour e pelo Tesco ao anunciarem uma parceria para atuarem em conjunto em diversas frentes, e de forma mais direta nas compras em conjunto e operações com marcas próprias, como forma de criarem vantagem competitiva em relação aos seus concorrentes diretos.

Boa parte da motivação para este movimento vem da potencial integração da Asda, controlada pelo Walmart, com Selfridges, na Inglaterra, como foi anunciada em abril deste ano, e seguindo o mesmo modelo proposto por Walmart ao transferir o controle de seus negócios no Brasil para a Advent.

O Walmart tem buscado concentrar sua atuação nos mercados onde é absolutamente protagonista e nos demais tem buscado alternativas estratégicas para atuar ou passar adiante seu negócio.

Na Inglaterra o caminho foi a integração com Selfridges, o que colocou novos elementos na potencial concorrência entre os cinco maiores operadores locais e estimula o movimento de integração comercial com seu rival global Carrefour.

Outros grupos varejistas, de diferentes portes e segmentos, têm também integrado esforços em compras e desenvolvimentos de produtos através de centrais globais de compras.

As primeiras delas surgirão com conglomerados que atuam na área de vestuário e moda, em particular lojas de departamentos, que se uniram para atuar em conjunto, tendo como maior motivação tornarem-se mais competitivos em desenvolvimento e compras de produtos.

Entre as marcas que tomaram esse caminho estão Macy’s, El Corte Ingles, Rinascente, Dillard’s e muitos outros criaram e operam através de centrais de compras globais como forma de serem mais competitivos em preço e marcas próprias.

Para ficarmos no campo dos super e hipermercados são várias alianças que se formaram e continuam a operar.

A Core Alliance formou-se em 2014 e tem entre seus membros a alemã Rewe, a belga Colruyt, a italialiana Conad e a suiça Coop.

Ou outra aliança é a AMS reunindo Ahold-Delhaize, Dansk Supermarkd, Jeronimo Martins, Kesko, Migros e Morrisons.

E recentemente Casino e Auchan reviram suas próprias participações em outras alianças e anunciaram sua intenção de atuarem de forma conjunta em algumas frentes a partir de 2019.

 

Na briga do mar com a rocha…

Esse saudável movimento de integração de atividades e competências no varejo global visando melhores resultados traz também um lado negativo e preocupante, uma vez que, integradas, essas corporações “passam o custo” da integração para os fornecedores, que são ainda mais pressionados para aceitarem preços menores.

Se a nova escala atingida justifica preços mais competitivos como resultado das economias de escala, a redução das alternativas de distribuição e concentração de mercado, forçam uma maior pressão sobre a rentabilidade dos fornecedores.

E como consequência, mesmo os mais relutantes fornecedores, acabam por perceber a importância estratégica de chegarem de alguma forma ao consumidor final, por lojas ou outra estratégia de distribuição, para equilibrar a pressão que recebem dos conglomerados varejistas. Ou de forma alternativa, buscarem alternativas de integração vertical com redes varejistas.

De fato a pressão competitiva precipita uma ampla, radical e plural revisão de princípios e conceitos no ambiente do mercado, redesanhando todo o cenário e, até mesmo aproximando concorrentes diretos para a busca de soluções únicas e sustentáveis.

O varejo, definitivamente, não é mais aquele…

Nota:
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