Desperdício no foodservice: uma equação cujo resultado é perde-perde

Assaí

Uma operação de foodservice exige controle. Essa é uma máxima que no momento da concepção de um negócio até o mais inexperiente dos empreendedores sinaliza compreender.

Controle não significa engessamento, mas a contínua gestão de múltiplas variáveis e uma das mais importantes é a matéria-prima. Ela passeia por todas as etapas fundamentais do negócio até o prato do cliente.

Planejamento incorreto, negociação frágil, descuido no recebimento e estocagem, desperdício no preparo e porções maiores do que as desejadas pelo consumidor são alguns exemplos do que pode ocorrer. Em todo esse caminho há a possibilidade de perdas financeiras que impactam a lucratividade da empresa. Essa é a primeira parte do “perde”.

A segunda parte é que essa ineficiência gera números impressionantes ligados ao desperdício de alimentos. Para se ter ideia da magnitude dos números, estudos sinalizam que existe um total de 55,4 milhões de toneladas de desperdício ao ano no Brasil, com volumes significativos em todos os elos do foodservice.

Em 2020 o País alcançou a triste marca de 19,1 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar – traduzindo: fome! Esse indicador que quase duplicou desde 2014. Isso reflete a falta de prioridade do tema por parte dos políticos e de nós como sociedade. Esse é o segundo “perde” que desejo retratar.

No próximo dia 11 de novembro a Gouvêa Foodservice participará do workshop “Fome e Abundância” promovido pela Consultoria do Amanhã para debater caminhos para gerar engajamento empresarial e social para a mitigação dessa situação de fome que assola nossa população.

De acordo com dados do IBGE, o percentual de desemprego em 2021 será de 14% no Brasil. Em discussões com a Mosaiclab, empresa de pesquisas da Gouvêa Ecosystem, entendemos que esse percentual é ainda maior se consideradas as pessoas que desistiram de procurar emprego nesse ano por motivos de saúde, restrições durante de circulação durante o período da pandemia, necessidade de cuidar de entes ou crianças que ficaram sem escola, entre outros.

O desemprego oprime a já reduzida renda familiar das classes C, D e E. Desse modo, a fome é presença garantida na vida dessas famílias, especialmente as que vivem longe de centros urbanos.

O foodservice é um setor capaz de gerar importante impacto social por receber e treinar pessoas ligadas ao primeiro emprego, porém é um setor ainda em recuperação. Além disso, é menos maduro sobre como poderia protagonizar a mudança nessa relação perde-perde instituída no mercado.

Durante a pandemia ocorreram iniciativas marcantes ligadas à doação de gêneros alimentícios e às famosas quentinhas ou marmitas. Sem dúvida, algo para nos orgulharmos. Mas o fato é que são ações isoladas que não mudam a situação estrutural da fome que assola o País.

Assim, é necessário aumentar nosso rigor em relação ao desperdício de alimentos. Treinamento de colaboradores, revisão de processos, controles rigorosos e contínua avaliação das oportunidades de aproveitamento integral dos alimentos em sua jornada em nossa empresa.

Em setembro de 2021, Karen Cavalcanti, sócia-diretora da Mosaiclab, apresentou a pesquisa “O Consumidor do Amanhã”, realizada em 14 países. Um recorte específico do Brasil mostra que, dentre as cinco principais preocupações dos brasileiros, estão a desigualdade social e a fome.

Assim, se não for por respeito e compaixão, que seja pela sobrevivência do negócio, uma vez que os consumidores farão sua seleção de marcas e conceitos que desejam frequentar considerando a conexão com seus valores e preocupações.

Então, te convido a protagonizar!

Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
Imagem: Shutterstock

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