A pandemia só ajudou a alavancar o crescimento relevante da tríade saúde, beleza e bem-estar, que já mostrava tendencia anterior de expansão pela combinação do processo de envelhecimento da população e da maior atenção e preocupação dos consumidores com as questões ligadas a esses temas.
Os diferentes segmentos industriais envolvidos, de medicamentos, saúde, beleza, cuidados pessoais e bem-estar, capturaram essas tendências e ampliaram os investimentos em novos negócios, canais, produtos, comunicação e promoções. Além de aumentarem as alternativas de acesso direto aos consumidores por diferentes estratégias que também envolvem programas de relacionamento direto com benefícios de descontos.
Os diferentes segmentos de varejo envolvendo farmácias, drogarias, cosméticos, perfumaria, redes especializadas e mais supermercados, conveniência, magazines e o e-commerce aceleraram o aumento do número de unidades, a oferta de produtos e marcas e a expansão de negócios, aproveitando o vento forte a favor.
Da mesma forma que as franquias e redes de negócios também aceleraram expansão e integração de novos parceiros nas duas frentes: como franqueados ou associados às redes existentes.
No setor de farmácias e drogarias, o Brasil tem perto de 95 mil unidades – um dos mais pulverizados – e em expansão acelerada das maiores redes que operam no País. Mas também pelo crescimento dos independentes e associados a redes de negócios. É o setor mais desenvolvido dentro do conceito de Centrais de Negócios, agregando operadores independentes integrados com centrais de compras, logística, promoção, gestão e serviços.
O conjunto de farmácias integradas em Redes de Negócios representa 16,4% do total do faturamento do setor segundo a Federação das Redes Associadas de Farmácias (Febrafar). As 29 principais e maiores redes de farmácias do país associadas à Abrafarma representam 46% do total das vendas do setor.
No setor de franquias, Saúde, Beleza e Bem-estar é o setor com maior número de unidades, representando mais de 28% do total de unidades franqueadas de todos os negócios no Brasil.
Da mesma forma, o e-commerce envolvendo essas categorias de produtos tem apresentado crescimento significativo, com forte aumento de tráfego sobre o ano anterior e muito acima da média de outros setores, favorecido pelo aumento da demanda local e pela oferta de alternativas e operadores, segundo dados da Nuvemshop.
Grupos como Boticário, com seus diversos negócios, marcas, canais, lojas, conceitos e as mais de 4 mil lojas. Natura com a força de sua venda direta e mais lojas e comércio eletrônico.
No setor de farmácias, RD com mais de 3000 unidades e crescente oferta de marcas próprias e serviços. Pague Menos com perto de 1.700 farmácias e precursora na ampliação de serviços e outras categorias em suas unidades. São alguns exemplos do dinamismo que vivem esses setores, que inclui também Pacheco, São João, Nissei, Panvel, Drogaria São Paulo e Araújo.
Destaque-se que nenhum grupo internacional conseguiu atuar de forma relevante nesse segmento por conta de todas as suas peculiaridades e características operacionais e apesar do vigor e potencial desse mercado.
Mas também inclui operadores com modelos particulares de atuação, como Polishop, especialmente forte nessas categorias e redes globais na área de cosméticos, como MAC e Sephora, que têm participado de forma relevante e com bom desempenho.
É preciso lembrar que a fragmentação existente nesses setores é indutora de um nível de informalidade elevado, não mensurado, por conta do ainda baixo nível de concentração no mercado e a multiplicação de operadores locais e globais no e-commerce.
Uma guerra sem armistício
Existe uma guerra permanente envolvendo os setores de saúde e medicamentos, com os supermercados querendo ampliar sua oferta de categorias e produtos em suas lojas e o setor farmacêutico, representado por farmácias e a indústria fornecedora, junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) bloqueando essa possibilidade.
Do lado dos supermercados, o argumento fundamental é que isso contribuiria para a redução dos preços ao consumidor e o evidente interesse em uma participação maior nesses segmentos, com todo esse potencial de expansão e rentabilidade média superior àquela obtida nas categorias tradicionais do setor.
Do lado das farmacêuticas – indústria e varejo – a defesa de um setor com significativo crescimento recente, boa rentabilidade, preços controlados – com seus aspectos positivos e negativos – e a certeza de continuidade da tendência. E apesar de toda a regulamentação própria para operar.
Mas muitos elementos conspiram a favor da continuidade do crescimento dessa tríade no contexto dos negócios do varejo no Brasil e por essa razão mais operadores, de diferentes segmentos, têm avançado onde é possível para incluir essas categorias de produtos e serviços agregados em sua oferta, como as lojas de modas, esportes, atividades físicas e mesmo no que é possível nos setores de supermercados, conveniência e atacarejo.
Ao mesmo tempo que farmácias também avançam nas frentes de marcas próprias e aumento da oferta de serviços em seus negócios.
A expansão do processo de envelhecimento da população com aumento da idade média, a crescente preocupação com saúde, beleza, cuidados pessoais e bem-estar das novas gerações sensibilizadas cada vez mais com esses temas são e serão os indutores principais desse crescimento. Além do aumento da oferta de novos modelos de negócios, conceitos, marcas, categorias e produtos que asseguram que os números recentes de desempenho tenderão a continuar evoluindo muito acima da média dos demais setores do varejo físico e digital.
E neste caso descrevemos uma certeza, mais do que uma aposta, que é garantida pela estatística.
Notas
- No dia 03 de abril, teremos o Digitail,organizado pela Gouvêa Experience com apoio de Gouvêa Consulting. Um evento focado no setor de e-commerce, trazendo uma ampla e profunda discussão do momento e tendências e perspectivas desse setor no mundo e no Brasil. Conheça mais por aqui.
- De 14 a 22 de maio estaremos em Missão Técnica organizada por Gouvêa Foodservice participando do NRA Show, em Chicago, o mais importante evento global do setor, com a delegação integrada com IFB e IDV. Mais informações podem ser acessadas por aqui.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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