Fundamental não somente para levantar hospitais, mas também para garantir expansão e reparos emergenciais, a construção civil não consegue parar. O varejo de materiais de construção tem demonstrado ser uma necessidade básica em meio à pandemia, oferecendo acesso a itens para reparos e construções emergenciais tanto para instituições de saúde como clínicas, bancos de sangue, indústrias alimentícias, supermercados e farmácias quanto para a população como um todo.
Por meio de seus serviços, brasileiros e brasileiras podem realizar reparos necessários quando se deparam com questões emergenciais como destelhamento causado pelas chuvas, defeitos na rede elétrica, problemas de encanamento e outras emergências.
Ainda assim, o status de comércio essencial demorou a ser amplamente reconhecido no Brasil, sendo que a tomada de decisões sobre o tema teve de ser feita pelos estados e municípios, já que inicialmente não houve respaldo federal. Em países como Estados Unidos, França, Itália e Polônia, os decretos de isolamento social e quarentena já abrangiam o entendimento de que o varejo da construção fazia parte do rol de serviços básicos e essenciais para a população e, assim, estavam liberados para atuar durante o período.
Atualmente, diversos estados como São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e o Distrito Federal, além de cidades grandes como São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas, já oficializaram entendimento favorável ao funcionamento desses estabelecimentos. “Preciso arrumar um vazamento aqui e não tenho onde comprar”, afirmou uma médica do Espírito Santo. A Juntos Somos Mais, maior ecossistema do varejo da construção, chegou a mobilizar mais de 25 mil assinaturas em uma petição online com o objetivo de alertar autoridades para a importância do varejo da construção neste momento de crise.
Considerando que nas 140 mil lojas de material de construção espalhadas pelo território brasileiro circulam mais de R﹩ 100 bilhões anualmente e caminham lado a lado de mais de 4,5 milhões de profissionais da obra, a Juntos Somos Mais, que aposta no desenvolvimento do varejo por meio de tecnologia e parcerias relevantes, também vem buscando mapear o impacto da pandemia do Covid-19 no mercado.
Análises conduzidas pela Juntos Somos Mais indicam que o impacto no mês de março de reposição de estoque dos varejos foi de 13% quando comparado a fevereiro, mas que na 4ª semana de março a queda já foi de 43%. Levantamentos de representantes do setor de pagamentos corroboraram essa visão, mostrando que o faturamento diário por débito, em 25 de março, caía 54% nas lojas de materiais de construção brasileiras (versus 67% de queda média no varejo físico, excluindo supermercados e farmácias), em comparação à média de janeiro e fevereiro. A reabertura de lojas de materiais de construção em diversas cidades teve impacto muito relevante: no dia primeiro de abril, o faturamento diário por débito caía 7% (versus 46% de queda média do varejo físico, excluindo supermercados e farmácias). Supermercados e farmácias, setores considerados essenciais desde o início do isolamento, apresentaram faturamentos acima da média: 30% e 16%, respectivamente.
No e-commerce, em geral, as quedas foram menores. Para materiais de construção, em primeiro de abril, a redução de faturamento foi de 8%, quando a média de todos os setores do varejo foi de 13%. O e-commerce de bares e restaurantes e supermercados se beneficiou do isolamento. O faturamento médio diário cresceu 106% para bares e restaurantes nessa modalidade e 45% para supermercados. “Um dos desafios nesse momento de menor presença física nas lojas é que a penetração da venda on-line ainda é bastante restrita no setor – menos de 10% das lojas pequenas e médias possuem site de e-commerce”, afirma Antonio Serrano, CEO da Juntos Somos Mais.
Assim como o pequeno varejo nacional, que tem em média 27 dias de capital de giro, segundo o SEBRAE, o varejo de material de construção também está em uma situação crítica. Neste setor, mais de 70% das lojas são de pequeno porte, estando classificadas no Simples Nacional e faturando menos de R﹩4,8 milhões por ano. “Eu aguento 30 dias no máximo, meu capital de giro vai acabar”, afirmou um varejista participante do Juntos Somos+.
Com relação ao impacto no lado industrial do setor, uma pesquisa realizada pela Juntos Somos Mais com empresas participantes, que somam mais de 20 nomes proeminentes do setor e incluem as acionistas Votorantim Cimentos, Gerdau e Tigre, mostra que já existem alterações importantes em curso: para 66% das empresas, o resultado de vendas de março foi pior que o esperado enquanto apenas para 17% o resultado ficou acima, para outros 17% ficou em linha. Para o próximo trimestre, todas as empresas trabalham com um cenário de redução de faturamento de mais de 10%, sendo que a maior parte delas (58%) entende que a redução será entre 21% e 40% versus o planejado inicialmente e 17% entendem que a queda pode ser superior a 40%. Em termos de projeção de faturamento para o ano de 2020 com relação a 2019, 8% dessas empresas preveem crescimento, 42% esperam números similares aos obtidos no último ano, outros 25% se preparam para um decréscimo entre 11% e 20% e outros 25% projetam um cenário ainda pior, com quedas entre 21% e 30%.
“O momento que vivemos é desafiador para todos os países e indústrias e, por conta deste cenário de incertezas, não é possível ter, hoje, uma projeção para a economia dos países em que estamos presentes. A Gerdau é uma empresa sólida e está preparada para enfrentar as instabilidades desse período. Esperamos que a normalidade das nossas rotinas seja retomada logo. Gostaria de reforçar, ainda, que nossa maior preocupação é com a saúde, segurança e bem-estar dos nossos colaboradores e familiares, comunidades, fornecedores e clientes nas regiões em que atuamos, bem como a manutenção do nosso negócio, que produz aço, um insumo essencial para a cadeia de fornecimento de empresas que não podem parar” disse Gustavo Werneck, CEO da Gerdau.
Para conter os impactos da crise, que vêm afetando todos os setores da economia, todas as empresas reduziram de alguma forma sua produção, sendo que 8% já interromperam a produção em sua totalidade e 17% suspenderam em mais de 50% sua produção. Outros 25% suspenderam até entre 31% e 50% da produção enquanto metade (50%) está operando no modo “slow down” ou com redução de até 30%. Todas as empresas declaram ter suas equipes comerciais operando de forma pelo menos parcialmente remota.
“Vemos o momento com apreensão, focando na saúde de todos, mas também olhando para o caixa e preservação de empregos e investimentos. As empresas têm tomado medidas alinhadas com as recomendações das áreas de saúde e considerando os impactos nos negócios. Também estamos trabalhamos muito na disponibilização de informações e pleitos junto aos Governos”, afirma Rodrigo Navarro, presidente da ABRAMAT (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção).
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