O impacto do desemprego no varejo

Por Eduardo Yamashita*

Todos nós temos visto o forte aumento no número de brasileiros desempregados, mas a dúvida que fica é qual é o real impacto no consumo?

Antes de tudo, vamos aos fatos: desde o início de 2015 houve um forte aumento no desemprego no Brasil, considerando os dados da PNAD contínua do IBGE, esse indicador passou de 7,1% em 2014 para 8,0% em 2015 e para os atuais 11,2% em 2016 (todos dados do trimestre móvel de fevereiro a abril dos seus respectivos anos), representando assim um contingente de 11,4 milhões de pessoas economicamente ativas que procuram emprego, porém não o encontram.

Outro aspecto bastante preocupante é que os brasileiros têm levado mais tempo para se realocar no mercado, o percentual de pessoas procurando emprego há mais de seis  meses em apenas três anos subiu de 18,4% de fev/2013 para 30,9% em fev/16. Além de não encontrar ocupação por muito tempo, esses trabalhadores também deixam de receber o seguro desemprego, aumentando ainda mais a pressão sobre essas famílias.

IMPACTO NA CONFIANÇA
O emprego e principalmente a qualidade do emprego (estabilidade, perspectiva de crescimento, etc.) são os principais fatores que direcionam a confiança do consumidor no Brasil. A confiança do consumidor, por sua vez, é o principal fator que direciona o consumo, afinal de contas, você compraria uma roupa nova se achasse que iria perder o emprego em breve? O inverso também é verdadeiro, com a confiança em alta, as famílias brasileiras tiram do papel seus plano de reformar a casa, trocar de carro, experimentar novas categorias de produtos, etc.

CUIDADO COM A MÉDIA
Apesar do número de 11,2% de desempregados no Brasil ser bastante alto, temos que ter bastante cuidado com essa média nacional.

Abaixo temos esse mesmo dado de desemprego por região e por faixa etária, notem que o desemprego no Nordeste bate os 12,8% enquanto que no Sul temos 7,3%. Além disso, o desemprego entre as pessoas de 18 a 24 anos chega a ser 24,1% enquanto que os de 40 a 59 anos ficam em 5,9%. Se combinarmos esses fatores o cenário é ainda mais crítico: jovens de 18 a 24 anos no nordeste tem a taxa de desemprego em 27,4%!

 

PERSPECTIVAS

No Brasil, os indicadores de desemprego demoram a apontar queda quando há uma crise, pois o custo de demitir, contratar e treinar novos profissionais é tão grande que os empresários postergam ao máximo essa decisão.

Por outro lado, o inverso também é verdadeiro: os empresários só voltam a contratar após enxergarem sinais claros da retomada da demanda. Assim, o mercado projeta que ainda haverá um aumento do desemprego chegando ao patamar de 13% a 14% ainda em 2016 e aterrissando entre 12% a 13% no final do ano (sempre há uma queda em novembro e dezembro devido às vagas temporárias). O cenário para 2017 não deve ser muito diferente, o mercado projeta que o indicador fique no patamar de 13% e que apresente recuperação apenas a partir de 2018.

Por outro lado, a expectativa é que o varejo volte a ter vendas acima da inflação ainda no final de 2016, em parte influenciado pela própria estabilização do desemprego, mesmo que em patamares elevados.

*Eduardo Yamashita (eduardo.yamashita@gsmd.com.br) é diretor de Inteligência de Mercado da GS&MD – Gouvêa de Souza.

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