O apetite da Zamp: hambúrguer, frango frito e café

O apetite da Zamp: hambúrguer, frango frito e café

Muito se falou em etapas preliminares, e agora foi consolidado o acordo entre Zamp e Starbucks. Particularmente, enxergamos como um alto potencial de retomada da rota de crescimento e sucesso.

Para contextualizar, em 2011, quando ainda não se chamava Zamp, por meio de uma joint venture, a empresa assumiu a operação brasileira do Burger King, com cerca de cem franqueados, e construiu uma importante jornada de crescimento. Segundo dados divulgados em seu site, hoje, são 947 lojas, 378 desserts centers (quiosques de sobremesas) e 92 unidades do Popeyes, cuja primeira loja foi aberta em 2018. A partir de 2022, anunciou ao mercado o seu posicionamento como Zamp.

O fato de integrar duas marcas exigiu mais clareza de posicionamento. A Zamp se define como uma operadora de restaurantes, que ampara sua estratégia em comidas autênticas para proporcionar aos clientes novas descobertas. E tem como premissa atuar em negócios que possuam perspectivas de resultado e crescimento.

Outro elemento fundamental da empresa são as estratégias de marketing robustas altamente amparadas por tecnologia. Ela, inclusive, usou todo esse arsenal de conhecimento para fazer um lançamento de muito sucesso da marca Popeyes.

O mercado de hamburguerias está bastante disputado. Uma pergunta recorrente é sobre o mercado de frango frito no Brasil. O KFC é o principal concorrente do Popeyes em termos de tamanho de investimento e porte das lojas. São conceitos internacionais robustos. A abertura de uma loja tem investimento inicial entre R$ 2,5 milhões e R$ 5 milhões.

No mundo, o KFC tem 5.200 operações e o Popeyes, cerca de 3.000. Porém, com mais de 30 anos no Brasil, o KFC tem 160 lojas, enquanto o Popeyes, em 2 anos de operação, tem perto de 60% desse número, ou seja, um crescimento acelerado.

Os concorrentes nacionais têm investimentos entre R$ 300 e R$ 80 mil, com propostas adaptadas aos mercados regionais: Hot’n Tender, Frango no Pote, Lug’s, Chicken in House, além de outros tantos.

Falando de potencial de crescimento, é necessário lembrar da cadeia produtiva versus custos de matéria-prima e disponibilidade de renda do brasileiro. O abate do frango acontece com menos de 60 dias; o do bovino são, no mínimo, 18 meses, se novilho, e 30 meses para o boi gordo. Isso impacta nos custos de produção e no manejo ambiental.

Quando comparamos o quilo do peito de frango ao de uma carne de primeira, como o coxão mole, o da ave é 32% mais barato, permitindo um posicionamento de preço da categoria mais acessível ao consumidor, que ainda convive com restrições financeiras. Além disso, permite maior elasticidade de margem para os operadores.

Então, a resposta é sim. Esse é um segmento que deve crescer. Um player que poderia ter expressão no Brasil, segundo a nossa visão, é a Nando’s, marca sul-africana que atua com frango assado e já tem 1.200 lojas pelo mundo.

A combinação de padaria, cafeteria e confeitaria ocupa cada vez mais o share of stomach (espaço de estômago) do consumidor. Somada ao histórico da Zamp, em termos de agressividade, apetite para expansão e consistência de operação, tornou-se uma grande opção para compor seu portfólio.

A operação da Starbucks no Brasil permitirá a Zamp ocupar espaços na agenda de consumidores que estão mais distantes das marcas de fast-food operadas por ela, tornando seu data lake ainda mais poderoso, além de conquistar novos territórios na agenda alimentar dos clientes, como café da manhã, café da tarde etc e, claro, ganhar mais força de negociação com seus parceiros. Por exemplo: aluguéis com shopping centers, operação logística, equipamentos, obras de implantação, descartáveis, limpeza, serviços compartilhados, alimentos e bebidas – nesse último caso, não de forma específica, mas na negociação do volume total.

Outro fator vitorioso é que negócios de fast-food são muito pressionados a buscar eficiência, e essa cultura deve favorecer as discussões para a rentabilização do modelo Starbucks, desde as conversas difíceis sobre a aquisição de café dolarizado até outras linhas de eficiência do dia a dia.

A Starbucks opera mais de 30 mil lojas em cerca de 80 países. Sair do Brasil não seria uma opção inteligente neste momento. Somos um mercado valioso, com muitos lovers (apaixonados) pela marca. Além disso, a marca vive pressões financeiras neste primeiro quarter de 2024. Em termos regionais, houve queda de receita tanto nos EUA, de 3%, quanto no resto do mundo, de 6%, sendo a China um grande detrator, com queda de 11% no comparativo anual. Esta foi a primeira queda de receita da Starbucks em mais de 3 anos.

Tudo será mais fácil com a Zamp como parceira? Não é verdade. Além de um momento de resultados negativos neste primeiro quarter de 2024, a Starbucks perdeu pontos de localização estratégica; funcionários bem treinados;  itens importantes de inventário, como equipamentos e mobiliário; teve sua imagem arranhada junto aos consumidores brasileiros; encerrou seu programa de fidelidade bruscamente, criando mais um ponto de atrito; e teve quebra de abastecimento por parceiros importantes.

Agora, a Zamp precisará mobilizar os seus times para recompor as entregas. Força e tamanho para tal, a empresa tem. Vamos acompanhar. Até o próximo!

Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Arte/Mercado&Consumo

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