Tem que ter causa. Tem que causar

O conceito é conhecido. Vivemos uma era de abundância. Incluindo a abundância de desigualdades, que só têm aumentado.

Esse é razão principal pela qual cresce de forma exponencial a demanda para que empresas, marcas, negócios e corporações se posicionem com respeito à sua real contribuição para a redução das desigualdades no mundo.

A chamada era de abundância, reflexo da evolução tecnológica na produção e na informação, envolve recursos, bens, marcas, opções e serviços que, não podemos nos iludir, é um privilégio limitado a segmentos afluentes dos países mais desenvolvidos.

E até mesmo nesses países, as desigualdades evoluem entre os que mais têm e os que têm cada vez menos.

As redes sociais, a disseminação da informação e o consciente coletivo, em especial entre os mais jovens, fizeram despertar um sentimento de crescente rejeição à perspectiva de agravamento desse quadro e muitos movimentos sociais foram criados propondo alternativas à continuidade e a rejeição desse estado de coisas, em especial nos países economicamente mais desenvolvidos.

Essa insatisfação com as desigualdades, com a menor atenção aos temas ligados à sustentabilidade, com as questões de liberdade de expressão e manifestação tem sido capturada pelos instrumentos de mensuração de comportamento e desejos dos consumidores-cidadãos e se transformaram em forte apelo para que as marcas, negócios, corporações repensassem sua estratégia e se posicionassem.

Algumas corporações e negócios, como Natura e Boticário são exemplos aqui no Brasil de empresas que, genuína e originalmente, se posicionaram, desde sua criação, com respeito a esses temas.

Outras como Inbev, Coca-Cola, H&M e GAP, em âmbito global, incorporaram propostas nessa direção em seu posicionamento, em especial por sua forte conexão com os segmentos mais jovens.

Sob as mais diferentes formas as organizações e corporações globais e nacionais viram-se quase que obrigadas a responder ao anseio de ações realistas para redução das desigualdades e demais demandas sociais emergentes, sob pena de perda de conexão com a realidade emergente. E quanto maior a proximidade e dependência dos segmentos mais jovens, maior a necessidade de prestação de contas.

E isso envolve também uma resposta e um posicionamento perante o público interno dessas empresas, seus funcionários e colaboradores, que estarão mais envolvidos, motivados e comprometidos, caso percebam identidade entre suas próprias convicções e aquelas defendidas pelas empresas.

Deixou de ser suficiente oferecer produtos, marcas, formatos, canais, modelos e negócios competitivos em termos de qualidade, eficiência, valor e conveniência. O coletivo social demanda compromisso com um futuro sustentável, mais justo e menos desigual.

Na equação de valor na escolha dentre as opções oferecidas de produtos, marcas, serviços ou negócios, consciente ou inconscientemente, cada vez mais se incorpora ao numerador dessa equação a componente compromisso e ações sociais desenvolvidas para definição da preferência.

Como no denominador dessa equação estão preço e condições de venda, pode ocorrer que a preferência ocorra até por uma opção mais cara por conta de uma proposta social, ou sustentável, mais cativante, ambiciosa e mobilizadora.

As empresas e marcas têm que demonstrar que têm Causa e Propósito para existirem, para muito além de sua proposta comercial ou de negócios, se quiserem ser percebidas como relevantes e desejáveis. Até mesmo as que se posicionam na vertente do puro Valor.

Forçando o raciocínio. Tem que causar!

NOTA: Nesta terça-feira estaremos participando do painel Ethical enlightenment in retail – it’s all about the stakeholders, que tratará desse tema, durante o NRF Retail’s Big Show, em Nova Iorque, e que contará com a presença de David Boynton, CEO da The Body Shop, parte do grupo Natura & Co; Peter Sacco, CEO da Adelante Shoe Co e Eduardo Yamashita, COO do Grupo GS& Gouvêa de Souza.

* Imagem reprodução

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