O papel das empresas e das pessoas em processos ágeis de aprendizagem

As mudanças no mundo do trabalho e o que os profissionais e as empresas podem fazer para promover inovação de forma rápida e prática

O papel das empresas e das pessoas em processos ágeis de aprendizagem

Algumas predições para o mundo do trabalho estimulam que os profissionais que representam suas respectivas corporações busquem formas de acelerar seus processos de aprendizado e inovação. Tais ações são tomadas com o objetivo de continuar viabilizando crescimento, mantendo empresas e pessoas competitivas, em um cenário no qual os comportamentos humanos e de consumo também estão mais ágeis, tecnológicos e imediatistas.

Antigamente, caso desejasse consumir qualquer produto, um pão fresquinho de manhã, por exemplo, você precisava se organizar para ir até a padaria mais próxima. Hoje, você tem a opção de realizar essa compra assim que acordar e ter o produto na sua casa em alguns minutos ou até mesmo agendar a entrega da compra em um horário de sua preferência.

Você quer alugar ou comprar um imóvel? Você pode realizar visitas virtuais e tomar decisões online sem nunca ter visitado o local pessoalmente. QuintoAndar e Loft já utilizam recursos como esses, além de trabalharem com a desburocratização para esse tipo de negociação.

Portais como Earth Cam possuem câmeras espalhadas por diversas cidades do mundo, com transmissão ao vivo, 24h por dia. Com um clique você pode dar uma espiadinha no Estreito de Gibraltar, na Espanha, e no minuto seguinte dar um pulinho na Times Square, em Nova York. A NYC & Company, órgão responsável pela promoção dos cinco distritos de Nova York, em parceria com o Departamento de Assuntos Culturais e a Secretaria de Mídia e Entretenimento da Prefeitura, desenvolveu um tour virtual para você assistir a performances, visitar museus, galerias, teatros e várias outras atrações que a cidade tem a oferecer, sem sair de casa, pelo NYC The Offical Guide. O portal está repleto de vistas virtuais guiadas com recurso 360°, só para citar alguns exemplos.

Em qualquer hábito da nossa rotina, a forma como fazemos negócios ou nos relacionamos, da mais simples e corriqueira à mais elaborada, está sendo impactada de forma acelerada pela introdução, cada vez mais presente, de recursos tecnológicos.

De acordo com as previsões do World Economic Forum, aproximadamente 50% das empresas esperavam que até 2020 os processos de automação impactassem na redução da força de trabalho em tempo integral, enquanto mais da metade de todos os trabalhadores precisariam desenvolver significativamente suas habilidades e se reinventar. A crise causada pela Covid-19 acelerou e impulsionou essa previsão, tornando ela uma realidade do presente, em proporções de alta escala.

As empresas, por sua vez, assumem um papel fundamental nesse processo de incentivo à empregabilidade, sendo as principais responsáveis por conduzir e promover a transformação e o aprendizado. Com o objetivo de preparar as empresas para garantir o futuro do trabalho, o Fórum vem discutindo iniciativas focadas em processos de desenvolvimento de habilidades e reaprendizagem, que vão cumprir com a missão de oferecer melhores condições de emprego, educação e desenvolvimento de novas habilidades para 1 bilhão de pessoas até 2030. Essa iniciativa procura unir as empresas, membros da sociedade civil e parceiros especializados nas áreas de educação e treinamento para endereçar e coordenar ações de transformação das forças de trabalho dentro das empresas e por meio delas, de forma colaborativa.

Com o objetivo de apoiar as empresas nesse processo, a Friedman powered by Gouvêa conduz um programa de desenvolvimento da operação das empresas de varejo e consumo por meio de seus modelos de gestão e atendimento ao cliente, revendo processos, comportamentos e focando no desenvolvimento contínuo de todos os stakeholders, viabilizando o planejamento estratégico de inovação das empresas com métodos ágeis.

Na pesquisa intitulada “A Crise de Talentos”, Korn Ferry prevê uma escassez global de mão de obra de 85,2 milhões de trabalhadores qualificados até 2030, refletindo inclusive em uma crise econômica. A primeira onda já foi iniciada em 2020, com o aumento do desemprego, e estão previstas duas novas ondas a cada cinco anos. Isso se dá principalmente porque 35% das habilidades consideradas importantes hoje não serão mais nos próximos cinco anos, de acordo com o World Economic Forum. Três setores foram considerados como os principais responsáveis por impulsionar os demais setores da economia: serviços financeiros e comerciais; tecnologia, mídia e telecomunicações; e manufatura.

Pense em ações simples que o seu negócio precisa para prosperar hoje. Pare por um momento e responda a essas perguntas:

A Gallup ressalta que, até 2027, 82% das empresas vão precisar ter um mindset mais digital e enumera oito passos para iniciar esse processo:

  1. Avaliar os gaps e definir novos horizontes
    Identificar os pontos que precisam de melhoria, além das oportunidades, levando em consideração benchmarking interno e externo é o primeiro passo de qualquer bom planejamento para implementar processos de mudança.
  2. Preparar um case de sucesso que seja mensurável
    É preciso elencar uma a duas iniciativas às quais vai se dedicar e trabalhar, criando um case de sucesso com prazos concretos, indicadores significativos e recursos viáveis.
  3. Engajar o time
    As pessoas precisam se sentir inspiradas a abraçar o projeto e fazer dar certo. A maior parte dos projetos que envolvem tecnologia costuma se iniciar robusto e vai perdendo força dentro das empresas porque as pessoas não foram envolvidas ou não acreditam no resultado.
  4. Ter uma gestão e liderança estratégica
    O líder é aquele que deve dar o exemplo com o objetivo de manter o envolvimento e interesse das pessoas. Ele deve ter clareza de quem envolver no projeto e a hora certa de fazê-lo.
  5. Promover o uso de métodos ágeis para conduzir projetos inovadores
    Métodos ágeis oferecem uma enorme vantagem, considerando que podem abraçar pessoas de diferentes setores, ideias e análise de pontos de vista que são fundamentais para os processos de inovação.
  6. Testar um piloto antes de escalonar
    Antes de implementar o projeto em larga escala, é preciso testar um case inicial para avaliar o que precisa ser aprimorado antes de partir para o objetivo final.
  7. Avaliar a necessidade de alocar mais recursos ao projeto
    Durante a condução do projeto-piloto, as lideranças precisam acompanhar os resultados e compará-los com os benchmarks externos. Assim, poderão avaliar se será necessário investir em mais recursos antes de partir para a versão em larga escala.
  8. Desenhar um mapa para escalar a nova solução
    Reunir todos os dados coletados com o objetivo de desenhar um plano de implementação escalável para a nova solução.

Já em 1965, o futurista Alvin Toffler defendia a ideia de que “os analfabetos do século 21 não serão aqueles que não souberem ler e escrever, mas aqueles que não conseguirem aprender, desaprender e voltar a aprender” e que as escolas deveriam ensinar sobre as tendências do futuro da mesma forma como possuem em seu currículo cadeiras de história, ciências e matemática.

Um artigo publicado pela Scientific American chama a atenção para o lado fisiológico da mente humana nos processos de ensino-aprendizagem e ressalta o fato de que, para aprender coisas novas, nosso cérebro “recicla informações”. E como ele faz isso? Esquecendo as informações que são irrelevantes para nossa rotina. Entretanto, “aprender a desaprender e voltar a aprender”, como defendia Toffler, se torna um desafio maior em cérebros mais velhos, porque os adultos se agarram a informações inúteis, que acabam impedindo novos aprendizados. Isso ocorre porque os cérebros dos adultos possuem maior concentração de uma proteína que impede o esquecimento de memórias antigas, dificultando a formação de novas memórias de longo prazo.

Inclusive, há exercícios para esquecermos intencionalmente algumas memórias, dando abertura maior ao nosso cérebro para novos aprendizados. A primeira é por meio de supressão direta, ao tentar bloquear pensamento de uma certa memória. E a segunda é a substituição de pensamento, ao tentar esquecer uma memória indesejada e substituí-la por um novo aprendizado. Procure selecionar aqueles aprendizados antigos, que não cabem mais no modelo de mundo como você o conhece hoje. Será que a forma como você atendia ao cliente em 1990 ainda cabe na forma como o seu cliente deseja ser atendido hoje?

Pare por um momento e reflita quais são os aprendizados que devem ser preservados e quais são aqueles que devem ser substituídos. Durante esse processo, tome cuidado redobrado e fique atento aos perigos da sua própria experiência. O que você fazia ontem que dava resultado não necessariamente será o que trará resultado para você hoje e nem irá garantir o futuro da sua empresa. Abra a sua mente para novas possibilidades!

Roberta Andrade é gerente de Soluções da Friedman
Imagem: Envato/Arte/Mercado&Consumo

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