Quando as visitas vão embora

Está na hora de arrumar a casa. Não deveria ser aquela arrumação para colocar em ordem o que ficou desarrumado enquanto durou a festa mas deveríamos aproveitar para fazer aquela maior e mais profunda, aproveitando para mexer onde não se pretendia antes alcançar.

A proposta da Trégua durante a Copa foi endossada e praticada por muitos e contribuiu para criar um clima que superou as expectativas mais realistas e mostrou, dentro e fora das arenas, um comportamento que se aproximou do exemplar em termos de alegria, civilidade e organização.

O que se configurava como um potencial desastre se converteu numa grata e positiva surpresa, em grande parte pelo espírito naturalmente afável, espontâneo e alegre do povo brasileiro.

Mas cordialidade e espontaneidade não deveriam rimar com insensibilidade.

A acachapante e humilhantes derrota da seleção para os alemães começou a a colocar ordem nas coisas para nos trazer à realidade que nos envolve em caráter permanente, onde o improviso, a flexibilidade e criatividade são usados à exaustão e substituem a competência no planejamento, na execução e no trabalho ético e dedicado com visão no longo prazo.

Tudo que envolveu o planejamento da Copa e a própria seleção de alguma forma reforçam essa contradição.

Como Povo e Nação somos muito bons em nos adaptarmos, ágeis em reagir, flexíveis para enfrentarmos mudanças de cenários, criativos para conviver com novas realidades, alegres e genuinamente fraternais.

Talvez todos elementos herdados de períodos econômicos complexos, com alta inflação, que forjaram gerações onde a competência na adaptação,criatividade e capacidade de reagir rapidamente se sobrepunham ao planejamento consistente e metódico com vistas ao longo prazo. Como se fossem elementos antagônicos e não questões que devessem ser conciliadas.

Passada a festa é hora de profundas reflexões aproveitando toda a emoção e razão que foram marcantes em todo o período que envolveu o evento.

E necessariamente da forma mais abrangente possível.

É tempo de refletirmos sobre as opções feitas em número de arenas e seu destino futuro, sobre o tamanho e a opção dos investimentos, sobre a organização das atividades realizadas, sobre as negociações acertadas com a Fifa e outras tantas ocorridas em paralelo, sobre os contratos impostos e despesas incorridas, só para citar algumas coisas mais próximas do momento atual.

Mas de uma maneira muito mais abrangente e importante, deveríamos nos debruçar sobre o que queremos como um projeto de longo prazo para o País. Onde queremos chegar. O que queremos para as futuras gerações. Sobre valores, ética, comportamento, educação, saúde e segurança, bem estar e sustentabilidade.

O momento é agora e talvez tenha sido a mão divina, Deus recuperando sua cidadania brasileira, que coloca todos esses fatos precipitando reflexões mais profundas às vésperas de um novo período eleitoral e ainda quase que nocauteados pelo resultados dentro dos gramados.

Passada a euforia, com as visitas indo embora, deveríamos refletir profundamente sobre tudo que aconteceu e nos cercou nesse período, valorizando o que foi bom e positivo mas também, e principalmente, repensando sobre o que deveria e pode ser diferente.

E muito mais importante, sairmos da reflexão para uma tomada de posição, individual e coletivamente.

Cordialidade e alegria definitivamente não rimam com atitude e ação.

 Por Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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