O segundo trimestre de 2024 foi significativo para as principais varejistas do Brasil. Todas as oito empresas analisadas registraram lucro, um contraste marcante em relação ao mesmo período de 2023, quando quatro delas apresentaram prejuízo.
Conforme antecipado em análises anteriores, as maiores empresas de varejo do País demonstraram uma melhoria contínua em seus resultados, que foram impulsionados por um ambiente macroeconômico e microeconômico mais favorável, em comparação a 2023. No entanto, o principal motor dessa recuperação tem sido os programas e planos de otimização implementados desde 2022 e 2023.
Nesta análise, foram considerados os resultados das duas maiores varejistas de capital aberto em cada segmento: Alimentação (Carrefour e Assaí), Eletromóveis (Magazine Luiza e Grupo Casas Bahia), Farmácias (RD Saúde e Pague Menos) e Vestuário (Renner e Riachuelo).
Os principais fatores que contribuíram para essa melhoria incluem:
Planos de recuperação operacional: Em resposta ao agravamento do cenário econômico em 2023, todas as empresas implementaram estratégias significativas para melhorar a eficiência operacional, reduzir custos, focar em negócios mais rentáveis e desinvestir em operações deficitárias. Os resultados dessas iniciativas, iniciadas há 12 ou 24 meses, estão agora sendo colhidos em 2024.
Crescimento das vendas: O ligeiro avanço no cenário econômico em relação a 2023 impulsionou uma expansão relevante nas vendas gerais, contribuindo positivamente para os resultados.
Redução de custos financeiros: A diminuição dos custos financeiros e a melhoria no desempenho das áreas financeiras foram cruciais para o fortalecimento dos resultados.
Desalavancagem: Praticamente todas as empresas conseguiram reduzir seus níveis de endividamento.
Os resultados do segundo trimestre mostram que:
- O faturamento total cresceu modestamente 5,2%, passando de R$ 87,5 bilhões no segundo trimestre de 2023, para R$ 92,2 bilhões, no segundo trimestre de 2024;
- Todas as empresas analisadas registraram lucro no período. O lucro líquido saltou de R$ 52 milhões, no segundo trimestre de 2023, para R$ 1,121 bilhão no mesmo período de 2024, um aumento de 21 vezes em relação ao ano anterior;
- Os setores que enfrentaram maiores desafios em 2023, especialmente Eletromóveis e Moda, foram os que apresentaram a maior recuperação proporcional no lucro;
- O descompasso entre o crescimento relativamente modesto do faturamento bruto e o expressivo aumento do lucro líquido evidencia a eficácia na redução dos custos financeiros e operacionais, bem como a melhoria nas operações financeiras das varejistas.
Confira no quadro abaixo o resumo dos resultados desses varejistas:
Vale ressaltar que todas as empresas destacaram a redução de suas dívidas como um fator importante, embora o ritmo dessa desalavancagem possa ser afetado pela manutenção ou possível aumento da taxa de juros no Brasil.
Para os próximos trimestres, espera-se a continuidade desse cenário positivo, com uma melhoria significativa em relação a 2023 e ganhos incrementais em comparação aos resultados já divulgados de 2024.
Veja abaixo a análise e destaque por empresa:
Carrefour
O maior varejista do País continua sua trajetória de melhoria de resultados. No segundo trimestre de 2024, o Carrefour registrou um crescimento de 4,9% nas vendas brutas, impulsionado por um forte desempenho nos formatos cash&carry, com alta de 10,2%, e o Sam’s Club, que cresceu 16%.
O e-commerce também teve destaque, com uma penetração de 9,6% nas vendas e crescimento de 41,3% no GMV, alcançando R$ 2,9 bilhões. O Ebitda ajustado aumentou 20,2%, com uma margem de 5,7%, e o lucro líquido ajustado chegou a R$ 151 milhões, beneficiado por sinergias de R$ 583 milhões no trimestre.
Em termos de expansão, o Carrefour abriu 5 novas lojas no formato cash&carry e 3 do Sam’s Club, além de revisar sua meta para 2024, com a previsão de inaugurar 20 lojas, incluindo conversões de formatos. A empresa continuou avançando na conversão de lojas, com 11 transformações concluídas no primeiro semestre e 4 novas em andamento.
Assaí
Comemorando seus 50 anos, o Assaí mantém sua estratégia de expansão, com a previsão de abertura de mais 10 lojas no segundo semestre, ultrapassando a marca de 300 unidades em operação até o final do ano, enquanto continua focado na redução da alavancagem.
Celebrando seus 50 anos, o Assaí continua sua estratégia de expansão, com planos de abrir mais 10 lojas no segundo semestre, superando a marca de 300 unidades até o final do ano, enquanto mantém o foco na redução da alavancagem.
No segundo trimestre de 2024, o Assaí alcançou um faturamento de R$ 19,5 bilhões, impulsionado pela maturação de novas lojas e pelo aumento das vendas mesmas lojas, de 2,9%. A margem Ebitda subiu 0,3 ponto percentual, atingindo 5,4%, reflexo da expansão da área de vendas em 10%, que teve 24 unidades inauguradas nos últimos 12 meses. O lucro líquido foi de R$ 165 milhões, com a alavancagem reduzida para 3,65 vezes, evidenciando uma melhora significativa na performance operacional.
Magalu
O Magalu destacou a reversão dos prejuízos registrados nos últimos balanços, alcançando lucro no segundo trimestre de 2024. A virada foi impulsionada pela expansão do Ebitda, que cresceu 62%, atingindo R$ 711 milhões, com margem de 7,9%.
Este é o terceiro trimestre consecutivo de crescimento robusto no Ebitda, resultado da redução de 25% das despesas financeiras e da expansão da margem bruta de mercadorias. Esses esforços culminaram em um lucro líquido de R$ 37 milhões no período.
O desempenho da Luizacred foi crucial para o resultado, com um lucro trimestral de mais de R$ 70 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 66 milhões no ano anterior. O acordo estratégico firmado com o Alibaba também foi destaque no comunicado, ampliando significativamente a atuação e o sortimento da empresa.
Grupo Casa Bahia
Apesar da queda significativa em vendas, fruto do foco no core business e de ajustes do plano de transformação iniciado há 1 ano, a companhia divulgou resultados consistentes em redução de custos, despesas e ganhos de eficiência operacional.
A estabilização da operação se reflete na redução dos estoques, na migração de 23 subcategorias do canal de 1P para o canal de 3P e no foco em investimentos seletivos para fortalecer e expandir categorias-chave.
Outros destaque é a otimização da estrutura de capital, reduzindo o custo financeiro da operação.
RD Saúde
A empresa alcançou seu recorde de receita bruta, totalizando R$ 10,402 milhões, um crescimento de 15,4%. Esse desempenho foi impulsionado por um aumento de 14,5%, alavancados pelo reajuste anual de 4,5% nos preços de medicamentos autorizado pela CMED.
No trimestre, a maior rede farmacêutica do País expandiu significativamente, encerrando o período com 3.076 farmácias, após a inauguração de 70 unidades e o encerramento de 4.
Nos últimos 12 meses, foram realizadas 283 aberturas brutas, que, segundo a empresa, tem promovido maior diversificação geográfica e demográfica. A rede expandiu sua presença para 601 cidades, 47 a mais do que no segundo trimestre de 2023.
O crescimento das vendas online também se destacou no período, refletindo os avanços na digitalização dos serviços. A receita bruta nos canias digitais alcançou R$ 1,697 bilhão, um crescimento de 43,9% sobre o segundo trimestre de 2023. Esse crescimento resultou em uma penetração no varejo de 17,8%, um incremento de 3,6 pontos percentuais no período.
Pague Menos
No segundo trimestre de 2024, foi observada uma aceleração significativa no crescimento das vendas, atingindo 12,2%. Esse avanço foi impulsionado principalmente pelo desempenho das lojas maduras e pela recuperação da Extrafarma, que se beneficiou das sinergias e conversões de bandeiras, com a empresa seguindo sua estratégia de substituição para a marca Pague Menos.
As vendas online alcançaram R$ 474 milhões, um crescimento de 38,3%, representando 14,1% das vendas totais, com destaque para a integração dos canais via WhatsApp, que trouxe maior eficiência na comunicação e conexão com os consumidores.
A empresa reforçou também seu posicionamento como hub de saúde, com crescimento de 49% nos atendimentos da clínica farma, além da ampliação da oferta de exames rápidos.
Renner
A Lojas Renner apresentou um sólido desempenho no segundo trimestre de 2024, com crescimento tanto no volume de vendas quanto na rentabilidade, apesar dos desafios climáticos e operacionais enfrentados na primeira metade do período, como temperaturas elevadas e enchentes no Rio Grande do Sul, que afetaram negativamente as vendas e a capacidade de ajuste do portfólio. A segunda metade do trimestre trouxe uma recuperação significativa, com a normalização do clima e a conclusão da estabilização do CD São Paulo, permitindo uma aceleração nas vendas.
A empresa destacou diversas melhorias operacionais, como o aumento da margem bruta em 2,3 pontos percentuais, que foi impulsionada por menores remarcações e uma coleção mais versátil; redução dos estoques em 3%; aumento de 39% no Ebitda e lucro líquido 37% maior. O reporte deu destaque para o progresso contínuo com o novo modelo de negócios e investimentos em TI, dados e Inteligência Artificial, que foram fundamentais para melhorar a produtividade e competitividade.
Riachuelo
No segundo trimestre de 2024, a Riachuelo conseguiu reverter seus prejuízos. O foco na gestão eficiente das categorias de moda e no fortalecimento da proposta de valor resultou em um aumento de 10,5% na receita líquida de mercadorias e um crescimento de 9% nas vendas mesmas lojas (SSS). Esse desempenho foi impulsionado por um expressivo aumento de 18% no volume de peças vendidas e um crescimento de 14% no número de tickets em loja.
Foi dado destaque para a eficiência do modelo logístico, que otimiza a alocação e distribuição de produtos, contribuiu para a redução de rupturas e níveis de estoque, além de diminuir a necessidade de remarcações.
Além disso, o Ebitda da Midway (operação financeira da empresa) quadruplicou, alcançando R$ 89,1 milhões, refletindo uma melhor gestão da carteira e redução da inadimplência.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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