Balanços 1º trimestre 2024: melhoria contínua e desalavancagem

Como antevimos nas análises de resultados anteriores, as maiores empresas de varejo do Brasil continuam apresentando uma melhoria contínua, aproveitando um cenário macro e microeconômicos melhores, se comparados com 2023, mas principalmente beneficiando-se dos programas e planos de otimização implementados desde 2022 e 2023 por elas.

Analisamos os resultados dos 2 maiores varejistas de capital aberto de cada segmento: Alimentar (Carrefour e Assaí), Eletromóveis (Magazine Luiza e Grupo Casas bahia), Farmácias (RD Saúde e Pague Menos) e Vestuário (Renner e Riachuelo).

Todas as empresas apresentaram expansão relevante no faturamento e no resultado no primeiro trimestre de 2024, valendo-se de um ambiente de consumo mais favorável, com a redução do desemprego, controle da inflação e aumento da massa salarial dos brasileiros. Esse grupo de empresas conseguiu também proteger (e melhorar marginalmente) suas margens brutas e valer-se de operações mais leves e rentáveis, resultado das medidas de austeridade implementadas por elas nos últimos trimestres, apresentado uma redução nas despesas de suas operações.

O Grupo Casas Bahia apresentou queda no faturamento em decorrência do fechamento de lojas que apresentaram resultados negativos, porém, mostrou aumento de vendas na comparação mesmas lojas.

Dentro dessa amostra mencionada, os números do segundo semestre foram:

Confira o quadro abaixo com o resumo dos resultados dessas varejistas:

Vale destacar que todas as empresas da amostra reforçaram e valorizaram a redução da sua alavancagem (redução das dívidas) no período, inclusive acima do previsto e planejado por elas, sinal bastante positivo de melhoria da saúde financeira e dos negócios no setor.

Todas as empresas também sinalizaram solidariedade ao povo gaúcho e divulgaram as ações implementadas para apoio e suporte das vítimas da tragédia. Quanto ao impacto financeiro, as varejistas apenas listaram seus ativos na região, porém, sem projeção do reflexo financeiro. Antevemos que, nos próximos resultados que serão divulgados, teremos um impacto negativo relevante em decorrência da amplitude e extensão da crise humanitária e financeira na região.

Para os próximos trimestres, projetamos uma aceleração do cenário atual, com resultados e lucros maiores, além da manutenção do movimento de redução do endividamento em detrimento do investimento na expansão por meio de novas lojas, formatos, canais, modelos, tecnologia etc.

Carrefour

O Carrefour apresentou evolução no seu resultado do primeiro trimestre de 2024, na comparação anual. Apesar do seu crescimento de 2,5% ter ficado abaixo da inflação de alimentos no período, a margem bruta não só foi preservada como teve leve melhoria, contribuindo para a reversão de perda de R$ 375 milhões no primeiro trimestre  de 2023 para umlucro de R$ 52 milhões.

A empresa ressaltou que as sinergias e conversões das aquisições recentes continuam amadurecendo e contribuindo positivamente para o resultado.

Outros dados chamam a atenção como o crescimento forte do formato atacarejo, de 6,6% no total e 1,8% considerando o mesmo número de lojas, e a expressiva queda no formato varejo, de 10,7% no total e de 1,4% considerando o mesmo número de lojas, impactado fortemente pela redução de 24% na área de vendas por conta de conversões para o formato atacarejo e pelo fechamento das lojas no formato supermercados. Destaque também para a alta penetração do e-commerce, de 9%, e o forte crescimento de 52% no período.

Assaí

O documento foi enfático de que o Assaí passa por um novo momento na sua estratégia. Depois da abertura de 115 lojas nos últimos 3 anos, a empresa agora entra em um ritmo menor de expansão e foca no amadurecimento desse parque de lojas, ressaltando o importante aumento no fluxo de tickets e vendas.

Magalu

As vendas no Magalu cresceram 3% nesse trimestre, puxadas pelas lojas físicas, com 8%, seguidas pela expansão no marketplace, com 6%. Já o e-commerce da empresa puxou a média para baixo, com crescimento de apenas 1%. Os canais online representaram 71% do faturamento, dos quais 41% são do marketplace, que é formado por 353 mil sellers.

A empresa menciona como alavancas chave para a melhoria no resultado o crescimento do marketplace, com o aumento das receitas em serviços, da margem bruta, expansão do fullfilment – que já perfaz 19% dos pedidos – e a melhoria do resultado financeiro.

A expressiva melhoria do resultado financeiro da empresa contribuiu para a reversão do prejuízo de R$ 309 milhões para um lucro de R$ 30 milhões. Outro destaque foi o crescimento do Magalu Ads, plataforma de comercialização de anúncios do ecossistema, com aumento de 70% no seu faturamento, reforçando a tendências dos varejistas de explorarem cada vez mais seus ativos de varejo para novas fontes de receita.

Grupo Casa Bahia

A empresa continua implementando seu plano de transformação anunciado no segundo trimestre de 2023, composto pela implantação de medidas de proteção do caixa, fechamento de lojas e negócios deficitários, redução de estoque e uma ampla redução de despesas. Essas medidas impactaram diretamente na maior geração de caixa dos últimos 5 anos e na redução do prejuízo, porém, a racionalização dos negócios gerou uma relevante diminuição do faturamento total, de 14,2% na comparação anual.

Destaque também para a iniciativa de busca de novas receitas em transporte, fulfillment, ads e serviços, bem como a migração de categorias deficitárias para os sellers do marketplace.

RD Saúde

A recém renomeada RD Saúde (antiga RaiaDrogasil) continua em expansão, com crescimento de vendas de 15,3% no primeiro trimestre de 2024, em relação ao mesmo período de 2023, por meio de suas 3.010 unidades – uma expansão de 9,6% na mesma comparação -, ressaltando no seu demonstrativo de resultados o aumento de cidades atendidas por suas lojas e a diversidade no seu perfil de lojas.

Destaque também para o contínuo crescimento do digital, com faturamento de R$ 1,5 bilhões, representando 17% do varejo da empresa. A penetração do app nas vendas digitais também continua evoluindo saindo de 61% para 70% das vendas digitais, reflexo do intenso trabalho da empresa de educação e incentivo para a migração para esse canal.

Pague Menos

Com crescimento de 10% nesse trimestre, contra o mesmo período do ano anterior, a expansão de lojas continua focada no Nordeste, região em que a empresa é mais forte, que recebeu 76% das inaugurações nos últimos 12 meses. A rede teve também importante expansão na região Centro-Oeste, que é a que apresenta o maior crescimento de vendas. O digital agora representa 13,4% das vendas totais, ante 11,2% do ano anterior.

Destaque para o contínuo processo de conversão de lojas da bandeira Extrafarma para Pague Menos. As lojas convertidas cresceram 32% em vendas, contra 12% das não convertidas. As sinergias da integração das companhias continuam sendo ponto central na estratégia do grupo, com ganhos anualizados de R$ 153 milhões.

Apesar da melhoria operacional, o grupo apresentou prejuízo de R$ 23 milhões, fortemente impactado pelo resultado financeiro da companhia, que teve perdas de R$101 milhõesdecorrentes do endividamento da empresa e o atual patamar de juros.

Renner

Seguindo a tendência apresentada no quarto trimestre de 2023, a empresa apresenta aceleração relevante nas vendas, com crescimento de 8% no primeiro trimestre de 2024. O resultado positivo veio do aumento de volume de peças vendidas, consequência do aumento no fluxo de clientes nas lojas e de transações. A empresa destacou que está priorizando a exposição de peças de entrada (mais baratas e acessíveis) como estratégia para a atração de clientes.

Na análise por bandeira, a Renner Brasil apresentou crescimento de 8,4%; Renner Latam, de 1,5%; Youcom, de 7,9%; e Camicado, de 5,8%.

Apesar da leve piora nos resultados financeiros, a empresa apresentou crescimento de Ebitda e lucro decorrentes do aumento de vendas e redução de despesas proporcionais à venda.

Riachuelo

Com crescimento total no faturamento de 9,1% no primeiro trimestre de 2024, o desempenho da vertical varejo foi determinante para esse crescimento com expansão de vendas de 11,4%, enquanto o crescimento na vertical financeira foi de 3,7% e na vertical de shoppings foi de 15,2%.

A empresa apresentou também evolução do Ebitda tanto do varejo (de R$ 39 milhões para R$ 85 milhões) quanto do braço financeiro (de R$ 29 milhões para 105 milhões), permitindo uma redução do prejuízo no período de R$ 175 milhões, em 2023, para R$ 117 milhões.

Eduardo Yamashita é COO da Gouvêa Ecosystem.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagens: Divulgação 

Sair da versão mobile