Unanimidade nacional em liderança

No vácuo de lideranças que se criou no Brasil nos anos recentes, poucos nomes se sobressaem por suas virtudes, capacidade como líder e resultados em sua área de atuação. E isso é um real problema para os próximos anos, especialmente na área política.

Talvez o nome que possa ser considerado, no momento, quase que uma unanimidade nacional de liderança, em sua área, é o do gaúcho de Caxias do Sul, Adenor Leonardo Bachi, o técnico “Tite” da Seleção Brasileira de futebol. Não por acaso, mas por conta de sua postura, atitude, princípios, valores, forma de trabalho e, como consequência, por seus resultados.

Uma inspiração que vale a pena conhecer melhor e analisar.

Os anos recentes trouxeram a visão nua e clara de uma realidade envolvendo partidos políticos, empresas públicas e segmentos do setor privado que criou um forte sentimento de rejeição e desconfiança envolvendo as questões públicas que atingiram até mesmo o setor de esporte. E fatos recentes colocaram ainda mais ingredientes nesse triste quadro.

Esse generalizado caos institucional tinha atingido também a paixão nacional pelo futebol por conta de escolhas e opções equivocadas que fizeram o país amargar vexames históricos, jamais imaginados, mesmo tendo o melhor elenco nativo de jogadores do mundo.

Um lapso de bom senso no caos instaurado trouxe Tite para comandar a seleção, técnico que vinha de uma sequência importante de conquistas onde já se sobressaiam suas características pessoais.

Um pouco de história para contextualizar

Tite começou como jogador de futebol no Rio Grande do Sul, mas uma série de contusões no joelho o obrigaram a encerrar prematuramente sua carreira. Ele migrou para atuar como técnico, conciliando seu interesse com o aprendizado vindo de sua formação em Educação Física pela Universidade Católica de Campinas em 1990.

Passou inicialmente por diversos clubes no Sul, incluindo Grêmio, Caxias e Internacional, e depois atuou no Palmeiras, Corinthians, Atlético Mineiro e em dois times dos Emirados Árabes.

Foi técnico do Corinthians em três diferentes oportunidades (2004-5, 2010-13 e 2015-16), sempre com conquistas importantes, especialmente a Copa do Mundo da Fifa em 2012, o que não é pouco num clube onde questões políticas geram um componente adicional de problemas.

Em várias oportunidades durante sua carreira, seus princípios e valores ficaram evidentes, como quando foi afastado por não concordar com interferências ou imposição de decisões com as quais não se alinhava.

Preterido para dirigir a Seleção Brasileira anteriormente, foi convidado a assumir o posto em 2016, quando o time apresentava um desempenho irregular, inconstante e um elenco de estrelas globais que não acertava o rumo.

Neste aspecto, se destacam algumas de suas qualidades como líder, pois trabalhando basicamente com os mesmos jogadores – que atuavam de forma dispersa e pouco competitiva -, conseguiu reverter os resultados negativos, transformando o grupo num conjunto integrado de talentos com seguidas e consistentes vitórias.

Devemos lembrar que um grupo de jogadores como os convocados para a seleção brasileira, todos extremamente talentosos e regiamente remunerados por suas virtudes como futebolistas, incensados em seus clubes e outros países, de fato, significa um conjunto de personalidades valorizadas e com autoestima das mais altas, pouco permeáveis a modelos de liderança simplesmente autocráticos.

É preciso especial talento para lidar com personalidades permanentemente incensadas e valorizadas, para transformar um conjunto de habilidosos profissionais, dentre os melhores do mundo, num time vencedor. A distância é muito grande e os resultados anteriores mostram exatamente isso.

Liderança em tempos voláteis

Para outras áreas de atividades temos reforçado a importância de repensarmos modelos de liderança que possam ter sucesso em tempos de profundas, amplas e rápidas transformações como caracterizado pelos tempos voláteis.

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O futebol, em especial a seleção brasileira, seria um parâmetro interessante de comparação com a realidade com a qual convivemos no mundos dos negócios, em especial no mercado e no consumo?

Algumas características seguramente permitem essa comparação e o aprendizado decorrente. Vamos listar algumas delas.

  1. A visão clara de um objetivo a ser atingido. Por mais que o ambiente esteja em permanente transformação, em qualquer circunstância é preciso ter claro, para si e para todos, os objetivos a serem atingidos no curto, médio e longo prazo.Nesse aspecto, Tite tem sido extremamente focado na eleição e na busca de seus objetivos intermediários, pois o objetivo maior é a Copa do Mundo de 2018. Ele nunca garantiu a conquista da Copa, mas se comprometeu a ter um time altamente competitivo para essa disputa. E seu trabalho durante toda a fase classificatória demonstrou isso, nem mesmo “aliviando” quando o Brasil se classificou com muita antecedência, mas se permitiu testar opções que podem ser importantes na formação final.
  2. O todo é mais importante que o individual. Uma das questões mais críticas quando se trabalha com um time é fazer prevalecer que o mais importante é a conquista de todos do que a conquista individual. Ainda que as conquistas individuais devam ser valorizadas e destacadas, elas não podem se sobrepor à conquista maior, que é a conquista do objetivos propostos para todos.Nesse aspecto, o técnico da seleção brasileira de futebol precisa ter uma habilidade enorme, pois são muitos talentos, todos altamente valorizados. Como não lembrar do individualismo do talentoso Neymar e de alguns outros jogadores que atuavam mais para si e para a glória pessoal, muitas vezes comprometendo o resultado do todo?Fica claro que o Tite, ao longo de sua carreira, e mais evidentemente nesta fase atual na seleção, tem conseguido tirar mais de cada um em benefício do grupo e as constantes e inspiradas vitórias são o testemunho mais vivo dessa realidade. Não foram as outras seleções que pioraram, é a seleção de talentos brasileiros que se transformou num time vencedor pela liderança inspirada de seu técnico.
  1. Visões, valores e atitudes ficam. O resto é passageiro. O que construirá a história de cada um é o conjunto de suas visões, valores e atitudes expressas por suas ações, decisões e posturas, muito mais do que por suas palavras. E esses são os elementos que ao longo de uma vida dão autoridade para os líderes que inspiram, criam e mostram caminhos e, por isso, são respeitados e seguidos.Ao longo de sua vida profissional como técnico, Tite, em vários momentos, preferiu abrir mão de sua posição por não aceitar transigir com o que acreditava ser o certo. Uma passagem importante foi quando, no Corinthians, em 2005, então envolvido com a corporação MSI, não concordou com a interferência nas escalações em benefício de questões financeiras em detrimento da harmonia e qualidade do time, e preferiu sair do time. Em outros momentos em sua vida, esse apego a suas visões e valores também o fizeram optar pelo não conformismo que é uma de suas marcas pessoais.
  1. Mais importante é que se faz e mostra. Há uma certa tendência, especialmente em tempos de acesso fácil aos múltiplos meios de comunicação, de se sobrevalorizar as propostas, as ideias, as iniciativas e a criatividade. Todos esses elementos são extremamente importantes na comunicação, no engajamento e na criação de confiança. Mas nada supera a realidade e os resultados alcançados.Tite é extremamente comedido em suas participações públicas e tem especial preocupação em não disputar holofotes com seu time. É objetivo e mostra sempre ideias relativamente simples, porém de forma clara e direta. Principalmente, porque os resultados do time falam mais e mais alto. O verdadeiro trabalho não é o que acontece para os meios de comunicação, mas sim aquele que envolve estratégia, discussão, análise, treino, simulação e, principalmente, ação.
  2. O líder relevante é o que rege e faz um grupo atuar para vencer. Tanto quanto o regente de uma orquestra que atua de costas para o público, mas de frente para seu grupo, buscando conduzir, apoiar e acompanhar seus músicos, o líder mais efetivo é aquele que sabe como ajudar seu grupo a se superar, a ser melhor a cada momento, a trabalhar, treinar e produzir cada vez mais e melhor, em busca da excelência naquilo que faz.Talvez seja essa uma das características importantes de Tite no comando da seleção e em sua carreira profissional. Nunca foi técnico espalhafatoso e de repentes, mas aquele que trabalha com o grupo, estudando combinações de talento e estratégia, identificando características e possibilidades, discutindo, debatendo e se cercando de um grupo de apoio, seus assessores e colaboradores, que pudessem atuar em harmonia para conquistar os resultados pretendidos.

Para finalizar por agora

É evidente que não são apenas cinco características pessoais que transformaram o gaúcho Adenor Leonardo Bachi, o Tite, numa unanimidade nacional.

Muitos outros aspectos mereceriam ser destacados e valorizados e, principalmente, considerados por todos, pois os resultados alcançados são eloquentes demais.

Talvez uma outra característica importante, a sexta dessa sequência também praticada pelo próprio Tite, é a humildade para estar permanentemente aprendendo com os outros.

A atitude de olhar com olhos bem abertos tudo que está em torno de nós, buscar a inspiração com quem faz melhor e se impor a uma permanente atitude de sermos melhores em tudo que fazemos, é o elemento fundamental para continuarmos evoluindo como pessoas, profissionais, empresários ou técnico de futebol.

NOTA. Adenor Leonardo Bachi, o técnico Tite, encerrará no dia 17 de janeiro de 2018, após o NRF Retail´s Big Show, o Retail Executive Summit, evento que acontece no Hotel Mandarin, em Nova York, com realização da GS&MD – Conteúdo & Relacionamento. Será sua última participação em evento público antes do início da preparação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 2018. Confira: http://gsmdnrf.com.br

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