O que acontece na Ásia não fica na Ásia e impacta o varejo do Brasil

Momentum nº 1.072

Ásia

Diferentemente de Las Vegas, o que acontece na Ásia não fica só por lá e espalha mudanças no mundo nos mais diversos setores e igualmente no varejo do Brasil. Está aí o resultado que a expansão das plataformas asiáticas e o cross border têm tido na venda do varejo brasileiro e na rentabilidade do setor em várias categorias e, consequentemente, na geração de renda e emprego.

Essa situação não é particular para nós, pois ocorre em diversos países e tem suscitado ações diretas no âmbito tributário para buscar um melhor equilíbrio competitivo.

Mas esse é só um aspecto. Muitos outros precisam ser considerados e repensados de forma estratégica e com visão de futuro considerando as transformações geopolíticas, econômicas, financeiras, de consumo e no varejo que estão acontecendo.

E onde a Ásia tem se destacado com movimentos estratégicos, incluindo inovações no varejo físico e digital e envolvendo Inteligência Artificial.

Enquanto Estados Unidos, Europa e Brasil enfrentam seus problemas econômicos e políticos com a ótica do curto prazo com muitas indefinições sobre o futuro próximo, na Ásia, em especial China, Coreia e Singapura, tomadas como exemplo, mas também em todo o Sudeste Asiático, o futuro está todo focado no consistente crescimento econômico e num maior protagonismo no cenário global.

Singapura vive um momento particular como resultado do crescimento econômico da Ásia como um todo e sua posição estratégica na região. Apesar de um “país-cidade-estado” e cidade concentrados num mesmo espaço físico muito limitado e com apenas 5,6 milhões de pessoas, tem um PIB per capita que é 9,3 vezes maior que o do Brasil, com todo nosso potencial e recursos.

Para se ter uma visão realista do momento e potencial de Singapura, foi o 8º maior destino de exportações brasileiras em 2023 e é de janeiro a maio de 2024 o 2º maior superavit comercial do Brasil no mundo, atrás apenas da China. Isso, em sua maior parte, tem a ver com exportação de petróleo, mas é crescente a participação de commodities agrícolas e outros bens. Num país em que 40% da água é importada e outra parte relevante dessalinizada!

O momento econômico e social da Coreia é diferenciado por méritos da liderança política e empresarial atuando de forma integrada, pois se posicionou para enfrentar o desafio geográfico pressionada pela proximidade com China e Japão e buscando ocupar espaço próprio.

O papel histórico e estratégico dos Chaebol há 40 anos contribuiu para forjar um país orientado para o crescimento com diferenciais ligados à tecnologia em áreas como automobilística, eletroeletrônicos, equipamentos industriais e em diferentes negócios.

O Sudeste Asiático, que inclui Singapura, Indonésia, Malásia, Filipinas, Tailândia e Vietnã, é uma área em franco crescimento por seus próprios recursos, ações e opções e fortemente influenciada pelo arco de alianças estruturado pela China em seu projeto mais estratégico de protagonismo econômico e político no mundo, representado pela inciativa New Silk Road, criada em 2013 e revista em 2023. E que também inclui África e América do Sul.

Razões e Motivos

Além das questões geográficas, econômicas e políticas muito tem a ver com Estados que pensam de forma estratégica e capitalista, incluindo a China, e que faz planos e age de forma integrada com o setor empresarial para criar perspectivas realmente diferenciadas.

Em todos os casos que mostram essa evolução das economias desses países, existe um consistente projeto estratégico de médio e longo prazo que faz convergir recursos, foco e ações para promover o crescimento econômico e social numa era em que a competição é potencializada e as questões políticas não resolvidas dispersam atenção e tempo.

E no Brasil?

Comparativamente com qualquer dos países mencionados o Brasil é de longe o mais privilegiado pelos recursos naturais que se tornam cada vez mais escassos. E que em tese se constituem num ativo estratégico crítico no presente e ainda mais no futuro.

Mas ao mesmo tempo é aquele país que continua à deriva sem saber onde quer chegar e ampliando desigualdades, insegurança, problemas e indefinições.

Enquanto governos na Ásia pensam e se integram com os setores empresariais para desenvolver e implantar projetos, por aqui a polarização política se expande para a polarização setorial, geográfica, cultural e social, ampliando problemas e nos mantendo cada vez mais distantes do futuro que continuamos a sonhar, mas temos sido incompetentes para construir.

Vale refletir. E agir.

Não dá para continuar esperando grandeza de governos que pensam pequeno ao tratar da Nação. Tem sido um constante mais do mesmo, aprofundando e ampliando problemas enquanto o futuro fica adiado.

Ou o setor empresarial se mobiliza para criar esse projeto integrado ou estaremos definitivamente legando um país menor econômica, social e politicamente.

Que o acontece na Ásia não fique só por lá e possa nos inspirar aqui.

Notas

  1. No dia 27 de junho, em São Paulo, a Gouvêa Ecosystem realizará evento especial sobre impactos no varejo global e local das transformações que acontecem na Ásia, com especial ênfase em China, Coréia e Singapura onde estivemos recentemente em missões técnicas 360. O evento terá transmissão virtual e pode ser acessado para cadastramento por esse link.
  2. No Latam Retail Show de 17 a 19 de setembro no Center Norte em São Paulo, haverá especial ênfase, conteúdo e programação dedicados às discussões dos impactos das transformações no mercado, na geografia, na economia, no consumo e no varejo para os diferentes canais, categorias, formatos de lojas e modelos de negócios. Com a presença de líderes marcas, iniciativas e cases que mostram caminhos já sendo percorridos na integração possível de negócios e desses setores para enfrentar os desafios à frente. O evento também terá transmissão virtual de parte do conteúdo para quem não possa participar presencialmente.

Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma MERCADO&CONSUMO.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da MERCADO&CONSUMO.
Imagem: Shutterstock

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