O promissor mercado de aluguel de roupas e acessórios

A preferência por usufruir em vez de possuir é tão poderosa que ameaça virar de cabeça para baixo até mesmo mercados bem estabelecidos, como o da moda. A preocupação com sustentabilidade e a consciência de que o consumo excessivo cobra um preço alto ao Planeta são fatores importantes na adesão de muitos jovens ao mercado de aluguel de produtos de segunda mão. Porém, há ainda outras motivações, como a busca por novidade e o desejo de estar constantemente usando roupas diferentes, sem pagar muito mais por isso. Especialistas apontam, ainda, a influência da cultura “instagramável”: a garotada não gostaria de ser vista com a mesma roupa em duas fotos iguais nas redes sociais. Além disso tudo, a sede de acumular coisas, típica da Geração X, não faz sentido para os mais novos. Prova disso é que a quantidade média de itens no armário dos americanos caiu de 164 peças em 2017 para 136 em 2019, segundo estudo do brechó online threadUP.

Uma das primeiras empresas a surfar a onda e explorar o serviço de aluguel de roupas foi a RTN – Rent the Runway, fundada em 2009 e que em 2019 alcançou o valor de mercado de US$ 1 bilhão. No início, a RTN alugava apenas artigos de marcas de luxo, mas hoje tem ampliado o estoque de roupas para o dia a dia. Atualmente há três tipos de plano à disposição dos clientes: o básico, que permite o aluguel de quatro itens por mês e custa US$ 89; o intermediário, que possibilita que a cliente possa levar oito artigos por US$ 135 mensais; e o mais abrangente, em que a quantidade de peças pula para 16 e a mensalidade custa US$ 199. Por conta da Covid-19, a RTN fechou suas poucas lojas físicas, mas, por outro lado, tem investido em novos postos de devolução das roupas alugadas em escritórios, espaços de coworking e lojas parceiras, como Nordstrom e West Elm, ampliando a conveniência para suas clientes.

Na mesma direção, a URBN, empresa que possui as marcas Urban Outfitters, Anthropologie e Free People, lançou em 2019 o Nuuly, serviço semelhante ao da RTN, que permite que os clientes utilizem até seis itens por mês, pagando US$ 88. A marca Banana Republic, parte do Grupo Gap, seguiu o mesmo caminho com seu Style Passport, que disponibiliza três itens por US$ 75 mensais.

O rápido crescimento do mercado de produtos de segunda mão, seja por meio de serviços de assinatura, seja por lojas especializadas, como a TheRealReal, que vende roupas de luxo usadas deixadas na loja pelas antigas donas em consignação, tem feito alguns especialistas projetarem que, em dez anos, ele ultrapassará a receita dos varejistas do fast fashion. As consequências podem atingir também operações de outlet. Afinal, muitos consumidores estão preferindo alugar ou comprar produtos originais, embora usados, a preços competitivos, do que as versões de pior qualidade produzidas pelas marcas especialmente para suas lojas offprice. O setor de shopping center, ainda muito dependente da venda dos lojistas de moda, é outro que precisará adaptar-se aos novos tempos.

E no Brasil, a quantas anda esse negócio? Bem, a cultura de alugar apartamentos por temporada pelo AirBnB, uma mesa para trabalhar em um coworking ou bicicletas pela Tembici começa a se espalhar por aqui, mas no segmento de moda as iniciativas ainda eram incipientes. Isso começa a mudar.

Antes restrito em geral a pequenas operações, o negócio de roupas de segunda mão começa a receber a atenção de gente grande. Em janeiro, a C&A anunciou uma parceria com o site Enjoei para apoiar clientes que queiram vender, no portal, peças usadas compradas na rede. Antes disso a C&A, juntamente com a Renner, já havia aderido ao “Sacola do Bem”, projeto do brechó Repassa que estimula consumidores a enviar roupas usadas em bom estado para que sejam revendidas, recebendo depois 60% do valor apurado. As sacolas, sem as quais não é possível enviar as roupas para o Repassa, são distribuídas gratuitamente aos clientes do programa de fidelidade da C&A e com 50% de desconto para os demais, nas lojas físicas. O valor da sacola gira em torno de R$ 25. Outra iniciativa importante foi fechada no final do ano passado: a Arezzo anunciou a compra de 75% do Troc, outro brechó online, entrando de cabeça na comercialização de produtos de segunda mão.

Esses são apenas alguns exemplos, mas eles sinalizam que grandes marcas já se deram conta da importância da economia circular e da necessidade de incorporar a preocupação com a sociedade e o os recursos naturais em suas áreas de atuação. O Planeta agradece.

Luiz Alberto Marinho é sócio-diretor da Gouvêa Malls.
Imagem: Arte/Mercado&Consumo

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