Shein e a aceleração das plataformas digitais

Recentemente, viralizou nas redes sociais uma análise constatando a relevância da Shein no consumo de moda no Brasil. O estudo com dados da Similarweb e elaboração pela snaq apontou que a plataforma de varejo digital de moda chinesa é a líder em tráfego online no Brasil na categoria, centralizando 16,17% dos acessos que foram realizados pelos 21,8 milhões de usuários ativos/mês da plataforma.

Fonte: Snaq

Tal estudo reforça que as plataformas globais asiáticas se consolidaram como um dos maiores motores de transformação do nosso mercado. E esse movimento não é exclusivo do Brasil. Pelo contrário, a transformação imposta por esses players e seu modelo de negócio também se aplicam para a maior parte do globo, incluindo América do Norte, Europa e sudeste asiático.

Em um dos melhores painéis da NRF 2024, maior evento de consumo e varejo do mundo, liderado pela Publicis Commerce, tratou exatamente sobre esse tema e trouxe luz para a profunda transformação do mercado dos EUA por conta da entrada desses novos players.

Nos Estados Unidos, um dos mercados mais competitivos do mundo, a novata Shein já conquistou a liderança do segmento, com vendas estimadas em US$ 30 bilhões anuais, superando as veteranas e consolidadas H&M, Zara, Forever 21, Fashion nova, entre outras, que contam um amplo parque de lojas como seu canal principal de vendas.

Fonte : Palestra da Publicis Commerce na NRF 2024

Da mesma forma que é polêmico, o modelo de negócio da empresa é igualmente interessante. O grande diferencial competitivo é a união de um elaborado modelo de mapeamento do comportamento do consumidor atrelado à uma poderosa e vasta cadeia de suprimentos digitalizada.

O poderoso algoritmo em constante desenvolvimento e a evolução da empresa mapeiam as principais tendências por demografia, região e perfil de consumo em todo o mundo. Uma vez identificada uma potencial tendência, a empresa aciona suas fábricas parceiras na Ásia, que passam a produzir imediatamente uma pequena amostra de cerca de 200 itens por SKU. Rapidamente, essa nova peça tem sua adesão testada dentro do aplicativo.

Com a performance de venda dessa pequena amostra, a Shein consegue estimar a real demanda desse SKU estratificado por geografia, demografia, perfil do consumidor e hábito de consumo, tudo isso de forma automática, em âmbito e escala globais. Conforme o resultado dessa estimativa de demanda, a empresa faz a ordem de compra de milhares de itens desses SKUs, que rapidamente são produzidos e enviados para todo o mundo.

Fonte : Palestra da Publicis Commerce na NRF 2024

Esse modelo foi chamado pela Pulicis na NRF de modelo de negócio sob demanda, que permite escala, agilidade, redução de risco e preços extremamente competitivos, elevando o patamar de competitividade da empresa quando comparado aos seus concorrentes tradicionais.

A poderosa GAP, um dos grupos líderes nos EUA em moda, produz cerca de 2 mil a 4 mil novas peças por ano. A espanhola Zara, que é reconhecida globalmente pela sua agilidade em desenvolver novas peças e distribuí-las, desenvolve entre 20 mil e 25 mil novas peças. Já a Shein mira produzir de 5 mil a 10 mil novas peças por dia.

Fonte : Palestra da Publicis Commerce na NRF 2024

Importante pontuar que as controvérsias e polêmicas envolvendo o modelo de negócio dessas empresas também são discutidas nos demais mercados em que essas empresas atuam. Nos EUA, por exemplo, o “de minimis” (valor de produtos que podem entrar no mercado sem taxação) é de US$ 800, contra US$ 50 no Brasil, fazendo com que os produtos asiáticos possam entrar praticamente sem restrições no mercado.

Globalmente, a empresa também tem apostado na abertura de lojas pop-up para aumentar a percepção de marca em novos mercados, sendo que algumas dessas lojas já estão se convertendo em lojas permanentes como tem acontecido em Chicago, nos EUA.

Plataformas digitais e seus impactos no Brasil

No início de 2024, o BTG divulgou um relatório estimando que a Shein estaria próxima de ser a maior varejista de moda no Brasil, com crescimento de 40% em 2023, em relação a 2022, chegando a um faturamento na casa dos R$ 10 bilhões e se posicionamento próximo da Renner, primeira colocada no ranking, com R$ 11,7 bilhões de faturamento líquido em 2023.

Outra estratégia anunciada pela empresa é expandir sua produção local no Brasil, que hoje já conta com mais de 300 fábricas parceiras em 12 estados, além dos mais e 15 mil sellers brasileiros no marketplace da empresa, muitos deles indústrias e varejistas independentes de mercados populares como na região do Brás, em São Paulo, fazendo com 55% do faturamento da empresa no Brasil já seja nacional, segundo dados divulgados pela empresa, que almeja alcançar 85% nos próximos 2 anos.

Acreditamos que esse movimento de globalização e aumento da competição das plataformas digitais globais pelo atrativo mercado brasileiro será exponencializada nos próximos 3 a 5 anos. A gigante Temu já anunciou sua chegada no Brasil para o segundo semestre de 2024.

Sua chegada marcará o Brasil como um dos pouquíssimos países com a presença de todos os grandes players globais: Alibaba, Shopee, Temu, Shein, TikTok Shop, Kwai, Amazon, Meli e contando, dessa forma, antevemos que o mercado Brasileiro será um dos mais competitivos do mundo, impondo uma aceleração da transformação ainda maior do mercado e um necessidade inexorável de adaptação por parte dos players locais.

Eduardo Yamashita é COO da Gouvêa Ecosystem.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagens: Divulgação 

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