Minhas netas saberão que lutei pela nossa igualdade, diz Luiza Trajano sobre mulheres CEOs

Empresária rebate fala polêmica: "Deus me livre de mulher CEO"

Minhas netas saberão que lutei pela nossa igualdade, diz Luiza Trajano sobre mulheres CEOs

Luiz Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, no Latam Retail Show 2024

Empresária de sucesso e recém-anunciada uma das 500 personalidades mais influentes da América Latina em 2024 pela Bloomberg Línea, Luiza Trajano, presidente do Conselho do Magalu, escreveu em seu Linkedin um “post-manifesto” pela igualdade de oportunidade no trabalho entre as mulheres em cargos de liderança.

A abertura da postagem é uma referência à atitude que a empresária sempre adotou à frente do Magazine Luiza e em todos os eventos em que participou: “Sempre acreditando e fazendo valer o poder das mulheres”.

Luiza Trajano destaca que criou três filhos, trabalhando muito, inclusive como CEO do Magalu. “Soube cuidar deles e dos idosos da família”, escreveu. A executiva lembrou que tem amigas íntimas que fizeram uma opção diferente, que nunca as criticou e que tantos os seus filhos quanto os delas “são felizes, comprometidos e legais”. “Sempre digo: não há receita para criar uma família”.

“De uma coisa tenho certeza: nós, mulheres, podemos ser aquilo que queremos e optamos ser. Às mulheres, peço que não deixem que posicionamentos como esse abalem seus desejos e opções. Quem te irrita, te domina. Não deixemos a irritação nos dominar. O que interessa é que juntas somos mais fortes.

Vou deixar um legado para as minhas netas. Elas saberão que lutei pela nossa igualdade, junto com muitos homens e todas as Mulheres do Brasil. Estamos chegando lá.”

No encerramento da publicação, a empresária disse que o “feminismo é a igualdade entre homens e mulheres”.

O posicionamento de Luiza Trajano rebate fala polêmica de um fundadores e CEO do G4 Educação, plataforma que vende cursos de gestão no Brasil, com quem o “Magalu fez uma parceria pontual para oferecer um curso a pedido dos sellers do nosso marketplace”. “Não concordo em nada com o posicionamento de um dos sócios da empresa a respeito das mulheres”, postou Luiza.

“Deus me livre de mulher CEO”

O autor da polêmica é Tallis Gomes, CEO do G4 Educação: “Deus me livre de mulher CEO”, disse ele em resposta a uma pergunta nos stories do seu Instagram: “Se sua mulher fosse CEO de uma grande companhia, vocês estariam noivos?”.

Ainda em sua resposta, defendeu que mulheres em posições de liderança passam por uma “masculinização que invariavelmente vai colocar meu lar em quarto plano, eu em terceiro plano e os meus filhos em segundo plano”. O empresário completou dizendo que “na média, esse não é o melhor uso da energia feminina”, e que um homem “jamais seria capaz” de construir um lar e ser base de uma família.

Após os pais se divorciarem, Gomes foi criado pela avó, empregada doméstica, que trabalhava e morava na casa dos patrões. Foi ela quem investiu na educação do neto, acreditando em seu potencial. Já o patrão teria sido o primeiro mentor de Gomes, segundo o perfil escrito sobre o empreendedor no portal V4 Company, em 2023.

Repúdio 

Frederico Trajano, CEO do Grupo Magazine Luiza e um dos filhos de Luiza Trajano, inseriu no telão a foto da mãe e da tia, fundadora da companhia, e homenageou o legado das duas mulheres da família no encerramento de sua apresentação na plenária principal do Latam Retail Show 2024, evento B2B de varejo e consumo, realizado pela Gouvêa Experience, de 17 a 19 de setembro, no Expo Center Norte, em São Paulo.

Ele disse sentir muito orgulho do trabalho delas e destacou o incentivo do grupo em ampliar a participação de mulheres em cargos de liderança, atualmente, em cerca de 30%. Apesar de sua esposa ter optado por cuidar dos filhos, Trajano afirmou que o lugar da mulher é onde ela quiser estar.

Vanessa Sandrini, fundadora do Instituto Mulheres do Varejo (iMDV) e Ella’s, também defendeu a liberdade de escolha das mulheres e ressaltou que este é um momento em que “limitações antigas e as visões restritivas não têm mais lugar”. “As mulheres, assim como os homens, têm o direito e o poder de escolher onde querem estar, como querem contribuir e como desejam construir seus futuros”, escreveu em sua rede profissional.

“Hoje, mais do que nunca, devemos nos educar para novas formas de pensar e agir. Devemos abraçar a diversidade de perspectivas e viver em um mundo onde o privilégio seja usado para abrir portas, e não para fechá-las. Vamos construir um futuro com mais possibilidades, mais liberdade e mais conexão”. Em sua publicação, fez um alerta: “E para aqueles que ainda tentam limitar o caminho das mulheres, um lembrete: o futuro é plural e cabe a todos nós expandirmos nossos padrões mentais para acompanhar essa transformação, inclusive, é sobre consumo! Sobre melhores resultados”.

Em seu Instagram, Alfredo Soares, também fundador do G4 Educação, fez uma postagem se posicionando sobre o assunto, citando diversas mulheres admiráveis que ocupam cargos de liderança em diversas empresas.

“Adoro ver a minha esposa Manuela Mendes empreendendo e buscando seu espaço. A própria irmã dela, Marina M. Pasqualotto, é CEO de uma fábrica de móveis e uma mãe extraordinária”, declarou em post.

Renata Vichi, CEO do Grupo CRM, uma das citadas no post de Soares, também se posicionou nas redes sociais. Em sua postagem no Instagram, a executiva afirma que é inadmissível ver que, em um mundo em constante mudança, ainda encontramos pensamentos tão retrógrados.

“Mulheres, não baixem a cabeça, informem-se, estudem e tenham foco. A autoconfiança vem de dentro para fora, use a sua altivez. Você nasceu para protagonizar a sua história”, diz.

Outras executivas, como Bruna Pavão, CEO da Saudabe, e Lyana Bittencourt, CEO do Grupo Bittencourt, fizeram declarações nas redes também.

Posicionamento G4 Educação

Em nota enviada à Mercado&Consumo, a assessoria de imprensa da G4 Educação enviou os posicionamentos oficiais da empresa e do CEO.

“O Tallis Gomes, nosso CEO, errou num texto publicado no seu Instagram sobre as mulheres executivas. Ele entendeu o erro e pediu desculpas. O G4 Educação não concorda com aquela primeira fala. Ela não representa a empresa nem sua trajetória.

O G4 conta com a força e a competência de 135 mulheres, em todos os níveis da empresa. Nos nossos cursos, apoiamos a formação de centenas de mulheres de sucesso. Testemunhamos de perto a força e o talento de cada uma.

Entendemos que o Tallis errou e estamos aqui para reforçar que tanto ele quanto o G4 não tem compromisso com o erro. Queremos nos desculpar pela fala do Tallis, ainda que tenha sido algo pessoal e não representar o G4. Mas entendemos que é nosso papel como empresa apontar que discordamos. E nossa prática é de respeito.”

Posicionamento do CEO

“Compartilhei uma publicação em minhas redes sociais que gerou desconforto e ofendeu diversas pessoas, especialmente mulheres. Reconheço que minhas palavras foram mal colocadas e que os termos utilizados não refletiram meus valores pessoais nem os da minha empresa, o G4 Educação. Estou profundamente arrependido e gostaria de reiterar minhas sinceras desculpas a todos que se sentiram ofendidos.

Minha intenção nunca foi desmerecer ou questionar a capacidade ou o papel das mulheres, seja no mercado de trabalho ou em qualquer outra esfera da sociedade. Ao longo da minha trajetória, tive o privilégio de trabalhar com mulheres incríveis, cuja competência e liderança foram fundamentais para o sucesso de nossas iniciativas. Em especial, destaco a minha sócia e CFO do G4 Educação, que tem um papel essencial no crescimento e desenvolvimento da nossa empresa.

Mais uma vez, peço desculpas por qualquer mal-estar causado. Estou comprometido em continuar aprendendo e ouvindo para evoluir como líder e como pessoa.”

Com Felipe Mario, estagiário na Mercado&Consumo.
Imagem: Divulgação

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