O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, justificou nesta sexta-feira, 24, o veto do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à desoneração da folha de pagamento ao dizer que a proposta era inconstitucional. O ministro afirmou que pretende, na volta da COP-28, apresentar novas medidas relacionadas ao tema para o presidente Lula e depois conversar com os municípios e setores impactados para resolver a questão.
“Desde o começo fiz menção ao parecer da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e da AGU sobre a inconstitucionalidade da proposta. Não recebi nenhum pedido de audiência para o explicar o porquê daquilo”, declarou Haddad, em entrevista coletiva à imprensa.
O ministro afirmou que, na aprovação da reforma da Previdência, constou um dispositivo que impedia a promulgação de mais incentivos fiscais para empresas, a fim de combater o déficit da Previdência, seja do lado das receitas ou das despesas. “Além desse, há outro dispositivo constitucional que determina a revisão de todos os benefícios fiscais em oito anos.”
Haddad não adiantou quais medidas serão propostas para resolver a questão dos setores e afirmou que antes precisa discuti-las com o presidente.
O ministro também disse que não poderia falar sobre uma possível derrubada do veto, por não ser membro do Congresso.
Municípios
Sobre os municípios, Haddad ressaltou a aprovação recente da lei que prevê a reposição do fundo de participação em relação à arrecadação do ano passado. “No terceiro trimestre, teve uma queda da arrecadação”, disse Haddad, que associou o movimento à retração da economia causada pelos juros elevados.
“Tivemos que fazer um acordo com os prefeitos para repor perdas e garantir o repasse da União para a ADPM (Administração Pública para Município) para seguir em linha com o repasse do ano passado mais inflação.”
Mesmo com a aprovação da lei, Haddad disse que Lula solicitou que sejam realizadas reuniões com os municípios que correm o risco de estarem inadimplentes para endereçar a questão.
A realização das reuniões somente após a COP-28 foi justificada pelo ministro pela necessidade de aprovação da reforma tributária antes de novas discussões sobre a desoneração. “Algumas questões estão pendentes e precisamos observar como o Congresso vai se posicionar sobre algumas medidas que endereçamos”, afirmou ao citar também a MP 1185, que trata das subvenções.
ICMS e Estados
O ministro da Fazenda, ao contrário do que se esperava, defendeu, em vez de criticar, os governadores que estão aumentando a alíquota do ICMS em seus Estados. “Há um mal-entendido, foram tirados recursos dos governadores”, disse.
Segundo Haddad, os Estados perderam arrecadação em função de uma medida populista do ex-presidente da República Jair Bolsonaro, que desonerou os combustíveis para reverter uma desvantagem eleitoral e, com isso, reduziu a arrecadação dos governos estaduais em 0,8% do PIB.
“Isso não tem nada a ver com a reforma tributária. Os Estados estão repondo perdas de R$ 80 bilhões por conta de uma medida populista no ano passado. Tiraram dos governos estaduais 0,8% do PIB em arrecadação na mão grande”, disse.
Com informações de Estadão Conteúdo (Marianna Gualter e Francisco Carlos de Assis)
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