Diageo qualifica jovens aprendizes transgêneros para o mercado de trabalho

O programa conta, hoje, com 18 jovens trans e, até junho deste ano, 36 pessoas já passaram pela qualificação

Diageo cria programa para qualificar jovens aprendizes transgêneros para o mercado de trabalho

A Diageo tem buscado reforçar a inclusão de pessoas LGBTQIAPN+ no mercado de trabalho por meio do programa Journey, iniciado em 2022 com apenas quatro profissionais. A iniciativa tem como objetivo capacitar e qualificar jovens aprendizes trans para o mercado de trabalho e está em atividade na unidade de Itaitinga, no Ceará. Antes do programa ser criado, a empresa já mantinha pessoas trans entre os jovens aprendizes e no quadro de funcionários efetivos.

Hoje, o programa conta com 18 jovens trans e, até junho deste ano, 36 pessoas transgêneros já passaram pelo Journey. Mais do que a primeira oportunidade de emprego, o projeto favorece o crescimento profissional para que os participantes descubram a sua vocação e possam tanto desenvolver habilidades quanto conquistar novas posições na companhia.

De acordo com a Diageo, entre as 18 pessoas integrantes do Journey atualmente, 61% se declararam mulheres, 36%, homens, e 3%, não-binários. Os jovens aprendizes estão em diversas áreas da fábrica de Ypióca, no Ceará, como no setor financeiro, jurídico, na comunicação, manutenção, produção, em recursos humanos, qualidade, entre outros. Considerando o quadro geral de funcionários na fábrica da Ypióca, o público trans representa 6%.

Desses jovens que passaram pelo Journey, 22% foram efetivados em posições na empresa e em empresas parceiras. Só em 2024, já foram oferecidas 80 horas de formações técnicas por meio de plataformas de ensino à distância.

Segundo Herlia Ferreira, coordenadora de Recursos Humanos na Diageo Ceará, a comunidade LGBTQIAPN+ é diversa, porém, marginalizada por muitos setores da sociedade. “Nós reconhecemos e valorizamos essas pessoas e, por isso, abrimos as portas para mostrar o quanto elas podem contribuir nos lugares onde vivem e trabalham”, afirma.

Trimestralmente, a Diageo realiza encontros e ações para desenvolvimento de carreira desse público. “Neste mês de junho, realizamos um bate-papo sobre diversidade com líderes e influenciadores, tudo com o objetivo de aproximar a liderança, jovens aprendizes e influenciadores internos do programa. Foi um momento de muita troca e de muita conexão”, explica Herlia.

“Por meio de uma publicação em redes sociais de uma colaboradora trans da Diageo fiquei sabendo do programa Journey e prontamente me inscrevi. Fiquei muito feliz ao ser aceita no processo seletivo e, hoje, atuo como aprendiz no setor de RH. Pensar nessa jornada me emociona, pois foi aqui dentro da empresa que pude ter vivências e trocas importantes com demais pessoas trans, o que ajudou muito em minha evolução e também na descoberta do meu propósito de vida”, afirma Luna Genni, 20 anos, mulher trans.

Luna faz graduação de Recursos Humanos e seu sonho pessoal e profissional é abrir portas para que mais pessoas transgêneros tenham mais oportunidade. “Meu maior sonho é seguir evoluindo dentro da empresa, trabalhando para ajudar a mais pessoas como eu a se encontrarem e ocuparem bons cargos no mercado de trabalho”, confessa.

Bruno Lukas Lima da Silva, 20 anos, homem trans, também entrou na Diageo por meio do programa jovens aprendizes e foi efetivado na área de produção. “Conquistei essa oportunidade por meio do trabalho de divulgação e parceria da empresa com o Centro de Referência LGBT+ Thina Rodrigues (CE)”, conta. “Nós, da comunidade [LGBTQIAPN+], somos carentes de boas oportunidades e, quando soube do programa, quis participar”. Bruno disse que, ao entrar na empresa, ficou curioso com os processos industriais. “Fiquei muito feliz em encontrar pares da comunidade no trabalho. Me sinto muito acolhido e penso em cursar Engenharia para seguir me desenvolvendo na carreira”, revela.

Apoio à comunidade LGBTQIAPN+

Além do programa Journey, a Diageo lançou em 2020 uma campanha em auxílio à Casa 1, centro de apoio a lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros, que funciona no centro de São Paulo, prestando serviços de acolhimento e assistência social.

Globalmente, a organização detém as Diretrizes sobre Identidade e Expressão de Gênero, que garantem tratamento justo e apoio aos colaboradores e colaboradoras que se identificam com um gênero diferente daquele atribuído no nascimento. Nesse grupo, estão incluídas pessoas que se identificam como não-binárias e os que procuram mudar sua identidade ou expressão de gênero por meio de um processo de transição ou afirmação de gênero.

Violência contra a pessoa trans

O Brasil é o País que mais mata pessoas trans no mundo, o que torna a vida desse grupo não só desafiadora, mas uma luta diária para se manterem vivas. O Relatório Mundial da Transgender Europe mostra que, de 325 assassinatos de transgêneros registrados em 71 países, nos anos de 2016 e 2017, 52% – ou 171 casos – ocorreram no Brasil. A pesquisa revela ainda que, em comparação com os Estados Unidos, por exemplo, as mulheres trans brasileiras correm um risco 12 vezes maior de sofrer morte violenta do que as estadunidenses.

Os mais recentes dados e indicadores sobre violações de direitos humanos no Brasil, divulgados pelo painel do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDH), no primeiro semestre de 2024 — de janeiro a maio — foram registrados 33.935 mil violações contra pessoas que se autodeclararam LGBTQIAPN+.

Foram mais de 12 mil violações relacionados a gays; mais de 8 mil relacionados a lésbicas; mais de 4 mil a bissexuais e transexuais, 2 mil pessoas transgêneros, mil a “outros” e 774 relacionados a travestis. Os dados também mostram os estados que mais registram violações a pessoas LGBTQIAPN+. São Paulo está em primeiro lugar, sendo seguido por Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Ceará.

Além da falta de amparo e acolhimento (que, por sua transição, precisa de acompanhamento psicossocial especializado), os transgêneros sofrem com rejeição e preconceito a todo o momento – o que os leva à reclusão social e ao desenvolvimento de doenças psiquiátricas mais graves, como ansiedade e depressão.

Dados da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) apontam que 20 milhões de brasileiras e brasileiros se identificam como pessoas LGBTQIAPN+, o que representa 10% da população total do País. Cerca de 92,5% dessas pessoas relataram o aumento da violência contra a população LGBTQIAPN+, segundo pesquisa da organização de mídia Gênero e Número, com o apoio da Fundação Ford.

Dessa forma, não é difícil entender a reclusão de pessoas trans nos espaços onde convivem e ganham o sustento para pagarem suas contas e sobreviver. Uma pesquisa global do Boston Consulting Group (BCG) em parceria com a Harvard Business Review mostrou que no Brasil, 55% das pessoas trans e de gênero não conformista, isto é,  que não está em conformidade com as normas tradicionais de gênero, se sentem desencorajadas a mostrar sua verdadeira identidade no ambiente de trabalho. O percentual é maior que a média global, que é de 40%. Além disso, 59% das pessoas entrevistadas relataram já ter sofrido com algum tipo de assédio sexual ou má conduta de colegas nas empresas onde trabalham.

Imagem: Divulgação

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