10 notas pessoais sobre NRF 2019 – Parte 2

Esta é a segunda parte do artigo que iniciamos na semana passada, relatando um pouco de minha experiência pessoal depois de 35 anos de participação no NRF Retail’s Big Show.

Na primeira parte sintetizamos os primeiros cinco tópicos e que podem ser lidos aqui:

1: Os Estados Unidos acabaram de descobrir este ano a disrupção que vem da China. E ainda assim só parcialmente.

2: A tecnologia existe cada vez mais para servir e diferenciar. E até serve para controlar e processar.

3: O PDX se reinventa continuadamente. E não pode ser diferente.

4: O trinômio atemporal e cada vez mais atual: Inovação, Velocidade e Gente

5: Muito além da transformação do varejo é a reconfiguração do mercado

Neste artigo, tratamos os outros temas que completam essa série das dez visões pessoais.

6: A visão macro do mercado. De exuberante à preocupante, na dose certa

O comportamento do mercado, do consumo e do varejo são diretamente influenciados pelo comportamento da economia, especialmente nos seus vetores de renda, emprego, crédito e confiança do consumidor. E essa é uma realidade que muda apenas no seu impacto em cada mercado e geografia.

E o comportamento da economia acontece em ciclos de maior ou menor crescimento, podendo chegar à exuberância ou recessão. Os EUA viveram um ciclo de constante crescimento após a crise com recessão do período 2007-2010, crise que se espalhou pelo mundo e teve também impacto no Brasil.

Os últimos anos por lá foram de um comportamento que beirou à exuberância pela constante expansão do mercado e do consumo que proporcionou crescimento em praticamente todos os canais e formatos de varejo, apesar da redução do tráfego de consumidores por conta do crescimento da pré-compra via internet e da expansão do e-commerce, que determinou um forte impacto no número e tamanho das lojas.

No cenário atual há um generalizado consenso que o mercado norte-americano entraria num ciclo de menor crescimento, com redução do período de exuberância, em movimento pendular em contraponto à expansão anterior.

Não chegaria ao ponto de uma recessão, mas uma redução do índice de expansão, numa economia que está praticamente em pleno emprego e com um nível bastante elevado de endividamento das famílias, com potencial e previsível impacto no consumo. Enquanto isso no Brasil temos um cenário diverso em oposição à realidade norte-americana.

Depois do período recessivo 2014-2017 que, dependendo de sutilezas estatísticas, foi caracterizado como o pior, ou segundo pior, da história econômica do país, em 2018 tivemos um baixo crescimento econômico e existem claros sinais de que o país pode entrar em um período de moderado e constante crescimento, cuja intensidade e sustentabilidade será determinada pela efetiva implantação das reformas estruturais propostas e que contribuíram de forma significativa para o apoio empresarial ao então candidato Jair Bolsonaro.

Existe de fato a expectativa, interna e externa, que o Brasil possa ter um novo ciclo de expansão da economia, do mercado e do varejo, apoiado no crescimento real da massa salarial, da expansão do emprego, do crédito às famílias, com claros reflexos no crescimento do número de lojas, nos seus diversos formatos e conceitos integrados com a expansão do e-commerce.

Essa perspectiva, oposta à realidade norte-americana, é a crença cautelosa de todo o setor privado do país e, de seu envolvimento na viabilização das reformas propostas, poderá estar o fator crítico para viabilizar sua consecução.

7: As transformações que precipitam transformações

O mercado atua em um motor contínuo de transformações precipitadas pelos avanços da tecnologia e do digital que redesenham a realidade e precipitam transformações e opções ao omniconsumidores. Esses consumidores mudam seus comportamentos e expectativas que, por por sua vez, determinam novas ofertas de conceitos e negócios que precipitam novas mudanças e transformações. É o motor contínuo da espiral transformadora de mercado.

O que tivemos nas últimas décadas foi a aceleração de todo esse processo de transformação pela disseminação, massificação e barateamento do acesso à tecnologia, e o que dela decorre, precipitando uma aceleração sem precedentes de inovações para atender um omniconsumidor cada vez mais satisfeito e, ao mesmo tempo, insatisfeito, pela multiplicação de opções e alternativas, criando gerações culturalmente orientadas para o “mais por menos”.

E isso precipita diversos movimentos em busca de equilíbrio estratégico de rentabilidade pelo varejo, tais como personalização e customização de produtos, aumento da participação das marcas próprias e a crescente incorporação de serviços ao mix da oferta das empresas que atuam no setor.

Por mercado, maturidade de consumidores, por geografia, momento e por expectativas geracionais, esse processo transformacional assume características específicas, mas é inegável que a velocidade com o que tudo isso tem ocorrido não tem nada similar em momento nenhum da história.

E tudo que pode ser antecipado é que essa velocidade, amplitude e profundidade de transformações tenderá a se acelerar e disseminar geograficamente nos próximos anos, exigindo culturas e modelos organizacionais adequados a essa realidade e que viabilizem o crescimento dos negócios. Ou a sua sobrevivência.

8: Voz é o próximo movimento a falar mais alto

Na escalada de inovação e incorporação de mais alternativas tecnológicas que transformam a experiência de compra e consumo, ao lado da Inteligência Artificial, Realidade Virtual, Realidade Aumentada, IoT, Reconhecimento Facial e outras alternativas, o ciclo emergente é o que coloca a voz como um dos principais elementos de conexão entre pessoas, omniconsumidores, e os equipamentos e sistemas.

Vários lançamentos recentes pelos protagonistas globais de transformações, como Apple, Google, Samsung, Alibaba, Amazon e outros, começam a desenhar o futuro do relacionamento, tornando mais fácil, interativo, preditivo e conveniente. E o futuro caminhará exatamente nessa direção e o uso da voz estará em breve disseminado, acessível, amigável e facilitado, incorporado a um número crescente de sistemas e equipamentos, tornando-se padrão sua existência e uso.

O problema por equacionar, como sempre acontece no desenvolvimento de tecnologias inovadoras é que, mais uma vez, cada protagonista desenvolve o seu padrão e tenta torná-lo dominante ou, ao menos, um dos protagonistas do mercado, independente do que seja bom para o consumidor.

E com isso criam-se “mega clusters” dos usuários de uma ou outra plataforma que interagem de forma muito limitada entre si, como acontece com IOs e Android, por exemplo.

A voz será o próximo mais importante elemento no relacionamento humano com a tecnologia e está aberta a temporada para escolha das duas ou três plataformas dominantes futuras.

9: Inteligência para além dos dados e analytics

Primeiro foram os dados, depois as informações tratadas, depois seu uso em caráter analítico, depois seu uso em caráter preditivo e mais recentemente a possibilidade de uso para antecipar demandas não verbalizadas ou ainda reconhecidas. Em todo o processo migrou-se gradativamente do uso da inteligência humana para, agora, o uso cada vez mais disseminado da inteligência artificial.

Talvez essa simples sequência possa ilustrar o processo evolutivo do uso dos dados para redesenhar o mercado e redefinir vencedores e perdedores na corrida pela inovação no processo decisório, no comportamento e na gestão, em todas as atividades humanas. E, portanto, para muito além do mundo dos negócios.

A diferença é que nos negócios, impulsionados pelo fator criação e geração de riquezas, tudo ocorre com maior velocidade e objetividade. E o mantra é a busca de escala da forma mais rápida possível, que acelera todo o ciclo.

Mas como sempre tem acontecido, essa espiral inovadora não ocorre nas empresas operacionais, como os varejistas e seus fornecedores de produtos, mas sim nas empresas de tecnologia e soluções que pesquisam e desenvolvem alternativas, tornando-as acessíveis ao mercado e, gradativamente, disseminando seu uso a partir de clientes mais visionários que optam por sua incorporação como forma de buscar a diferenciação e reforçar posicionamento e, fundamentalmente, melhorar desempenho e resultados.

Ao longo dos últimos anos assistimos essa escalada e migração do uso das informações e dados tratados pela inteligência humana, a partir dos analytics disponíveis e, agora o uso cada vez mais disseminado da Inteligência Artificial, criando também uma nova era pela facilidade de acesso e possibilidade extensiva de utilização.

Essa facilidade e disseminação a partir das diversas alternativas e plataformas existentes está a serviço da melhoria da eficiência, da produtividade, dos resultados dos negócios do varejo expandido e de seus fornecedores e, ao mesmo tempo, da experiência do consumidor, antecipando demandas e desejos, numa relação intrínseca de causa e efeito. É uma parte do “Admirável Mundo Novo”, se é que podemos emprestar o título cunhado por Aldous Huxley.

10: Causa e Propósito continuadamente redefinidos e valorizados. E a cada mercado  e momento adequados

O que marca os tempos atuais é uma inegável realidade global disforme, desigual, plural e, inegável, profundamente injusta, precipitada pelos diferentes níveis de acesso e distribuição de riquezas e recursos. Dos mais básicos, como saúde, segurança, alimentação e educação, aos mais elaborados, como conforto, lazer, descanso e perspectivas de futuro.

Para chegarmos ao estágio atual o ser humano consumiu recursos naturais em escalas diversas dependendo da história, da geografia e da disponibilidade desses recursos. Nas economias mais desenvolvidas existe uma excedente de oferta de quase tudo, criando o drama existencial, quase artificial, da dificuldade de escolha ante tantas possibilidades. Nas economias mais pobres prevalece a, maior ou menor, carência de recursos que, em última análise, dissemina o problema pela quase impossibilidade de controle dos fluxos migratórios em busca de sobrevivência. E temos assistido uma escalada sem precedentes desse processo.

Por tudo isso se desenvolve uma crescente consciência social e ambiental, reflexo da constatação e sensibilização sobre essas desigualdades.Especialmente nas economias mais desenvolvidas e nas novas gerações.

E as organizações, negócios e a intuição empresarial mais alinhados com os movimentos de comportamento e atitudes dos omniconsumidores cada vez mais conectados digitalmente, se deram conta que, para diferenciar e se posicionar, é preciso entregar muito mais do que produtos e serviços.

É preciso se alinhar com Causas e Propósitos que possam contribuir para minorar as desigualdades para merecer a preferência e alinhamento dos consumidores mais conscientes, que crescem em número e adesão, à medida que as propostas se tornam mais conhecidas.

Por tudo isso Propósitos e Causas saíram do ambiente acadêmico e restrito das organizações não econômicas para se tornarem opções estratégicas, mais ou menos consistentes com o DNA e a cultura das organizações.

Mas fundamentais para estarem alinhadas com as demandas emergentes da sociedade.

É a busca de uma Causa e ou Propósito para chamar de seu, que alinhe, motive, diferencie marcas e organizações que se dissemina como movimento e se torna mais relevante a cada ano.

Seria absolutamente pretensioso buscar esgotar todo os principais temas que são tratados na NRF a cada ano. A contribuição possível deste material é buscar conciliar a visão histórica e estratégica das transformações que ocorrem no mercado, a partir da visão da realidade norte-americana, discutida e debatida no evento, com sua aplicabilidade no momento e no contexto brasileiro.

O quanto cada um desses elementos poderá influenciar o negócio de cada empresa é tema para uma discussão específica que nosso time está pronto e atualizado para fazer. Basta nos convidar!

 

NOTA: Com essas diferentes perspectivas participamos com uma delegação de mais de 230 dirigentes e executivos dos setores de varejo e consumo do Brasil da NRF Retail’s Big Show, em Nova Iorque, no período de 12 a 16 de janeiro pesquisando e avaliando os cenários e seus impactos em outros mercados.

No período de fevereiro a março vamos mostrar o que de mais importante pode ser apreendido num circuito de dez eventos em diversas capitais no Retail Trends – O melhor do pós NRF.

Esse trabalho será resultado da pesquisa em mais de 300 lojas e conceitos, das 38 horas de visitas e wrap ups do grupo que participou da Pré-NRF e de toda a atuação de nosso time no período da NRF, com cobertura de tudo que aconteceu de mais importante no evento, reunindo mais de 30 profissionais, diretamente de NY, envolvidos nesse processo.

E culminando com o Retail Executive Summit, nosso evento em NY, um dia depois do término da NRF e que contou com a presença do CEO Global da JBS, da Amazon, da Saint Gobain, da Ambev-Inbev, da Box 1824, de estudantes brasileiros de Harvard, do cônsul-geral de Israel em Nova Iorque, da jornalista Sandra Coutinho, de Antônio Carlos Pipponzi do lDV e Raia-Drogasil, de Flávio Rocha, da Riachuelo e Luiza Helena Trajano, e do envolvimento pessoal e decisivo da audiência participando com perguntas e comentários de todo o debate.

Importante lembrar que no evento deste ano da NRF participaram 1.700 brasileiros, a maior delegação internacional do evento, com um crescimento de 13% sobre o ano anterior.

O que acontece em Nova Iorque não fica em Nova Iorque!

RETAIL TRENDS PÓS NRF 2019

Confira os principais insights e conceitos apresentados durante a NRF Retail’s Big Show 2019. O evento traz um conteúdo exclusivo sob a curadoria dos especialistas do Grupo GS& que estiveram em Nova Iorque e traduzem para o público nacional a melhor forma de aplicar as tendências e novidades mundiais na realidade brasileira.

Saiba mais em: www.retailtrends.com.br

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