Por que as pesquisas eleitorais erram?

Não faltam memes na internet falando sobre as margens de erros das pesquisas eleitorais e nesse artigo trarei o meu ponto de vista sobre esse tema interessante, complexo e até polêmico.

Metodologia

As pesquisas eleitorais são feitas através do método quantitativo por amostra. Parecido com um exame de sangue, é preciso apenas uma pequena amostra do universo que está sendo estudado para que possamos produzir um diagnóstico do todo.

Em pesquisas eleitorais para presidente são entrevistadas de 2.000 a 3.500 pessoas em média, representando 147 milhões de eleitores no país. Essas amostras atendem aos padrões internacionais e apresentam uma margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos e com confiança de 95%.

Aposto que você leu essa última frase com a voz do William Bonner na cabeça, não é?

O ponto central da questão é a determinação da amostra, ou seja, as pessoas que serão entrevistadas devem representar a opinião das pessoas que fazem parte do seu grupo, bem como a quantidade de pessoas entrevistadas em cada grupo deve ser proporcional ao seu número de eleitores total.

As pesquisas eleitorais via de regra usam os mesmos parâmetros para determinar esses grupos de pessoas que devem ser entrevistados e os seguintes fatores são considerados: gênero, faixa etária, escolaridade, renda familiar, cidade e perfil/porte da cidade, sendo que, em sua maioria, os entrevistados são abordados por telefone ou pessoalmente.

O que já sabemos

É mais fácil falar do que fazer.

As pesquisas atuais foram desenhadas para refletir uma foto do momento e têm dificuldade em cenários em que há volatilidade nos números, de capturar viradas de resultado e tão pouco foram desenhadas para refletir a projeção do resultado final. Não é por acaso que as pesquisas feitas em dias mais próximos da data da eleição tem acuracidade maior.

Além disso, sabemos também que as pessoas mudam o seu voto, deixam para decidir na última hora (o número de indecisos nunca foi tão alto, por exemplo) e, em alguns casos, as pessoas têm até vergonha de falar ao entrevistador a sua real opinião – no caso do Trump nos Estados Unidos as pesquisas online apontavam a liderança do então candidato, enquanto que as pesquisas presenciais e por telefone não.

Ponto de vista

Temos hoje uma sociedade mais plural do que os grupos desenhados nas pesquisas. Acredito que estamos simplificando demais os perfis dos brasileiros e tentando colocá-los em “caixinhas” às quais eles não pertencem ou não se encaixam. Os perfis estão sendo misturados e as barreiras entre eles estão cada vez mais tênues (se é que elas ainda existem).

Olhe para o seu grupo de amigos – ou até mesmo um grupo no seu whatsapp – tenho certeza que encontrará pessoas com o mesmo perfil que o seu (gênero, faixa etária, renda familiar, escolaridade e cidade onde mora), mas que tem opinião completamente diferente da sua.

Muitos perfis estão sub-representados na amostra, não aparecem ou até mesmo estão misturados em um ou mais grupos.

Temos diversos fatores que não são representados de forma mais ampla e que influenciam em grande parte os resultados e como as pessoas pensam. Entre elas estão o estágio da vida, etnia, raça, orientação sexual, experiências de vida, pessoas com que se relaciona, conteúdos que consome, etc.

Vamos pensar em um exemplo disso. Usando a segmentação atual entrevistaríamos 2 homens, ambos de 25 a 40 anos, que estudaram até o ensino superior, têm renda familiar de até 5 salários mínimos e são residentes da cidade de Belo Horizonte.

Agora vamos considerar que um deles é solteiro e o outro é casado e tem 2 filhos. Ou então que um deles é migrante de outra região do país e o outro foi nascido e criado em BH. Ou então que um deles é heterossexual e o outro é homossexual. Ou então que um foi assaltado recentemente e o outro nunca passou por situações similares. Ou então que um cursou uma faculdade de Sociologia e o outro cursou Engenharia.  Você acredita que eles teriam a mesma opinião?

E daí?

Pesquisas de opinião são ferramentas fundamentais para entendermos o mundo a nossa volta e nos auxiliam a tomar decisões melhores. Como tudo na vida elas são imperfeitas e demandam constante atualização para se manterem relevantes, e, dessa forma, precisamos sim repensar seu papel, sua metodologia e trazer novas variáveis para a discussão.

*Imagens reprodução

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