Os desafios das indústrias de alimentos para mitigar a inflação nos custos de produção

Os desafios das indústrias de alimentos para mitigar a inflação nos custos de produção

A indústria de alimentos e bebidas é a maior do Brasil. Ela processa 60,9% de tudo o que é produzido no campo, reúne mais de 41 mil empresas, gera dois milhões de empregos diretos e representa 10,7% do PIB do País.

Em 2023 o faturamento da indústria de alimentos e bebidas cresceu 7,2% em relação a 2022, atingindo R$ 1,161 trilhão. Devido ao crescimento da exportação de alimentos, a expectativa é que 2024 novamente seja apurado crescimento, uma vez que em 2023, o Brasil se consolidou como o maior exportador mundial de alimentos industrializados – em volume, com 72,1 milhões de toneladas. (Fonte: ABIA)

Porém, nos últimos anos, a indústria de alimentos tem enfrentado desafios sem precedentes devido à inflação global, impulsionada por complexidades geopolíticas e mudanças climáticas. Relatórios da FAO e FMI destacam como esses fatores contribuem para a volatilidade nos preços dos alimentos, pois, impactam diretamente nos custos de produção.

Somado ao aumento nos preços dos insumos, temos energia e logística que achatam as margens das empresas. Nesse artigo exploro algumas estratégias que podem ser adotadas para mitigar esses impactos e garantir a sustentabilidade do setor.

A primeira é focar em estratégias de impacto na eficiência operacional, investindo em tecnologia e automação. O uso de Inteligência Artificial para otimizar processos e minimizar desperdícios é uma alavanca para acelerar a competitividade.

O segundo ponto é que o resíduo deve ser pauta da estratégia e integrar o movimento de economia circular se transformando em novo recurso, o que não apenas reduz custos, mas também atende às crescentes demandas dos consumidores por sustentabilidade.

O terceiro elemento é a diversificação de fornecedores. Torna-se crucial ampliar o acesso a novos players para mitigar riscos associados a flutuações de preços. Parcerias estratégicas podem assegurar a estabilidade dos preços e a segurança do fornecimento. Essas práticas podem manter a resiliência nesse período de incerteza.

Investir em pesquisa e desenvolvimento estimula a criação de alternativas mais acessíveis e sustentáveis, claro, sem comprometer a qualidade do produto. Assim, identificar novas preferências do consumidor e conectá-las com alternativas que entreguem: sabor, saudabilidade, aplicação e preço pode abrir novas oportunidades de mercado.

O quinto tópico é realmente atacar a precificação. O monitoramento dos concorrentes e a atuação dinâmica sobre a precificação permitirá às empresas ajustarem seus preços em tempo real, atendendo melhor às flutuações do mercado. Fácil não é, gera desafios para o time comercial, porém, protege a rentabilidade do negócio.

A expansão para novos mercados que permitam aumentar as vendas ou praticar melhores margens também é uma forma eficaz para driblar a corrosão das margens.

A revisão de despesas é prática comum na gestão estratégica das indústrias, mas, neste momento, migrar para a aquisição de energia proveniente de fontes limpas é imperativo, ampliando esse olhar para a alimentação da produção/armazenamento, mas, também para parceiros logísticos com práticas sustentáveis que permitam mitigar seus custos e, portanto, evitem o repasse de preços oriundos do aumento de combustíveis, por exemplo.

Por fim, pressionar o governo, através das associações para buscar subsídios e incentivos fiscais pode ser necessário para amortecer os impactos da inflação, sabendo que a indústria de alimentos e bebidas tem essa força. E, quando verticalizada, participar de programas que incentivem práticas agrícolas sustentáveis que trarão benefícios de longo prazo.

Esses são caminhos para as empresas não apenas sobreviverem à tempestade da inflação, mas emergirem mais fortes e preparadas para os desafios futuros.

Dada a proporção da indústria, ações enérgicas são importantes neste momento, pois seu peso irá contribuir para a sustentação de toda cadeia de alimentos e bebidas no país: varejo alimentar (venda B2C) e foodservice: atacado e/ou distribuidor (venda B2B) e operador.

É mais do que uma opção: é RESPONSABILIDADE!

Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Shutterstock

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