As especulações correm soltas sobre qual a letra que identifica o comportamento do ciclo recessivo atual no Brasil. Economistas, jornalistas e observadores têm dedicado cada vez mais tempo a interpretar os sinais emitidos pelo mercado e autoridades e buscam a solução do enigma.
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O ciclo recessivo terá o formato de V, U, W ou L? O que mais podemos imaginar e quanto vai durar? Em todas as alternativas o comportamento do PIB é a métrica básica para fins de análise.
Na alternativa V o ciclo se aprofunda, bate no fundo e retoma o crescimento. No formato U bate no fundo, por lá permanece algum tempo e só depois retorna. No W bate no fundo, toma folego, volta para o fundo e só depois volta a crescer. E finalmente no L bate no fundo e por lá permanece um tempo maior do que se podia antecipar.
Os elementos que interferem diretamente no comportamento do PIB e que influenciam e são influenciados por este envolvem o emprego, renda, crédito e confiança do consumidor.
No quadro atual, estamos nos aproximando da confirmação de um segundo trimestre de crescimento negativo do PIB o que, tecnicamente, caracteriza recessão.
Na questão da renda, temos um crescimento real negativo comparado com o mesmo período do ano passado. A geração de emprego pelos dados do CAGED neste momento mostra significativa redução, mesmo considerando o efeito sazonal. O desemprego vem crescendo nos últimos meses, tendo alcançado 6,7% em junho, comparável com 4,3% em Janeiro de 2014 e, coincidentemente mesmo índice em Janeiro deste ano. Como consequência, a massa salarial real, combinação de emprego e renda, caiu de RS$ 50,1 bilhões em junho 2013 para R$ 48,9 bilhões neste mesmo mês em 2015.
Do lado do crédito, o significativo aumento das taxas praticadas nas linhas de consumo e o aperto na análise e concessão têm reduzido a demanda e, como efeito associado, a inadimplência, pavor do sistema financeiro, tem se mantido estável com tendência de alta, por conta da redução da base de financiamento. Outro efeito derivado é a redução do comprometimento de renda das famílias que mostra tendência declinante, especialmente quando analisado isolado do comprometimento com crédito imobiliário.
O lado realmente perverso de todo o cenário é a confiança do consumidor, para não dizer do País, em todos os níveis, que se mantêm nos patamares mais baixos da história de sua apuração.
Depois de ter chegado ao seu ponto mais crítico em março passado, com 82,9%, tem apresentado alguns soluços, crescendo e baixando um pouco, mês após mês, sem mostrar nenhuma perspectiva próxima de crescimento significativo. Até porque, se depender dos agentes econômicos e políticos, nada existe para sinalizar mudanças.
Neste mês de junho o índice de confiança baixou novamente para 83,9 % depois de ter sido 85,1% em maio. E aqui mora o perigo.
Se nada for feito por quem tem um mínimo de comprometimento com o longo prazo, vamos ter um ciclo recessivo em formato L, com sua continuidade por um bom tempo e até que algo sobrenatural ocorra e reverta a realidade.
E não é assim que deveria ser.
O País não morreu. Está vivendo um período que sabíamos que por ele iríamos passar, porém, para aprofundar o problema, o desafio atual é ver quem tem a pior notícia.
Na imprensa impera a máxima de que só notícia ruim que vende. Aqueles que têm algum nível de informação querem mostrar que sabem o que os outros não sabem e primam por pintar o pior cenário, acrescentando seus próprios condimentos a um tempero que, definitivamente, não é bom. Jornalistas se esmeram em pintar o cenário mais dantesco. Muitos empresários e o sistema financeiro defendem ajustes radicais na expectativa que o pior ainda está por vir.
E a continuar como está, virá, pior do que se podia imaginar e pior do que poderia ser. Ninguém quer passar por desinformado, despreparado ou desconectado e a melhor forma de sair dessas categorias é ter notícias piores que os demais.
Não é fácil nem simples e muito menos “politicamente correto” buscar encontrar aspectos positivos no momento atual, especialmente quando precisamos separar os elementos político-ideológicos da realidade de longo prazo do país.
Quem tem um pouco mais de experiência sabe que esses ciclos acontecem, mas um dos grandes problemas atuais, como lembrou recentemente uma amiga, é que tem muita gente nova à frente de negócios de razoável porte que foram moldados no período marcado pela euforia de consumo e de crescimento significativo e constante. Não há mal que sempre dure e bem que nunca acabe, já dizia o dito popular.
A ninguém é dado o direito de minimizar a dimensão dos problemas que temos neste momento no País, numa perversa combinação de aspectos políticos, institucionais, financeiros e econômicos, todos, sem exceção, gerados internamente.
Porém, está na hora de assumirmos uma postura de compromisso com o País e com o futuro não ajudando a agravar uma crise que é acima de tudo político-institucional e que, dependendo de como a enxergamos e reagirmos, podemos agravar, ampliar, reduzir, estender ou encurtar.
Ao invés de continuarmos a discutir qual é a letra que marca a crise do Brasil, vamos logo para as siglas e talvez devêssemos assumir FSP e TCPD, ou seja, Faça Sua Parte e Tenha Coragem, Pense Diferente!
Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) é diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza.