Com consumidor pessimista, confiança do comércio volta ao nível de 2021

Inflação em alta, juros elevados e endividamento freiam o consumo

Os índices da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) que medem a confiança do consumidor, no Estado e no município de São Paulo, caíram em março na comparação com igual mês de 2024. Ambos se situam abaixo dos 100 pontos, o que indica pessimismo com a economia. E refletem comportamento retraído em relação à aquisição de bens e produtos. Outra pesquisa, esta da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostra recuo da confiança no setor do comércio ao patamar de 2021.

No caso do Índice de Confiança do Consumidor Paulista (ICCP), o resultado foi de 98 pontos, estável em relação a fevereiro e com queda de 5,8% na comparação anual. Assim, o indicador permanece no campo pessimista pelo segundo mês seguido. Já o Índice de Confiança do Consumidor da Cidade de São Paulo (ICCSP) foi a 87 pontos, com retração de 2,2% no mês e de 10,3% ante 2024. Ambos são elaborados pelo app PiniOn para o Instituto de Economia Gastão Vidigal da Associação Comercial (IEGV-ACSP).

“Continuou havendo percepção menos positiva das famílias em relação à sua situação financeira atual, com aumento na segurança no emprego e deterioração generalizada das expectativas futuras sobre renda e emprego”, afirmou a entidade ao analisar os resultados do ICCP. “No recorte por classes socioeconômicas, seguiu mostrando resultados mistos, com leve aumento de confiança para as famílias da classe DE, redução para aquelas pertencentes à classe AB e estabilidade para as da classe C.”

Dessa forma, a redução da confiança do consumidor paulista “resultou em menor propensão a comprar bens duráveis, tais como geladeira e fogão, e menor disposição a investir para o futuro”. Quanto a itens de maior valor – automóvel e residência –, a pesquisa mostrou relativa estabilidade.

Na cidade de São Paulo, piorou a percepção da situação atual, mesmo com aumento da segurança no emprego. E houve “deterioração mais intensa em termos das expectativas futuras de emprego e renda”. Isso fez a maioria dos entrevistados declarar menos interesse na compra de itens de maior valor e bens duráveis. Apesar desse “quadro geral de deterioração da confiança”, a pesquisa registrou aumento na disposição de investir para o futuro,

“Com relação à evolução da confiança dos consumidores da cidade de São Paulo, distribuídos por classes socioeconômicas, os resultados também foram heterogêneos, com aumento para os entrevistados pertencentes às classes DE e reduções para aqueles das classes AB e, principalmente, C”, disse a Associação Comercial ao comentar a pesquisa.

“Em síntese, os resultados do ICCP e do ICCSP de março mostraram estabilidade mensal no campo pessimista. Em termos interanuais, ambos os índices apresentaram quedas expressivas.” O economista Ulisses Ruiz de Gamboa, do IEGV-ACSP, observou que há sinais de desaquecimento da atividade econômica, além de aceleração da inflação, com destaque para os aumentos de preços de produtos básicos. Além disso, o “elevado grau de endividamento das famílias” e os juros em elevação deixam mais cautelosos os consumidores paulistas e paulistanos.

Confiança do comércio

O Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), também apurou queda no Índice de Confiança do Comércio (Icom). O indicador foi a 83,1 pontos neste mês, no menor nível desde março de 2021 (73,8). Na média móvel trimestral, a queda foi de 3 pontos, para 86.

A confiança do comércio volta a cair em março, encerrando o primeiro trimestre em queda e com níveis próximos ao observado na pandemia”, afirmou o economista Rodolpho Tobler. “O resultado negativo continua sendo disseminado entre as principais atividades e nos horizontes temporais pesquisados. A piora nas avaliações sobre a demanda no momento presente parecem ter influência da queda na confiança dos consumidores e da aceleração da inflação.”

Ele aponta um cenário macroeconômico “desafiador”, sem perspectiva de reversão no médio prazo. “A continuidade do aumento dos juros, pressão inflacionária e maior cautela dos consumidores devem continuar contribuindo para o nível mais baixo da confiança do varejo.”

Com informações de Agência DCNews
Imagem: Shutterstock

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