O índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) na cidade de São Paulo, elaborado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), registrou alta de 3,8% entre dezembro e janeiro – e fechará o mês com 73 pontos, a quinta alta seguida desde agosto de 2020, quando estava em 61,3 pontos. O indicador ainda volta à casa dos 70, que não atingia desde maio do ano passado.
A alta do ICF foi puxada, principalmente, pela variável de intenção de compra de bens duráveis, que foi de 47,9 pontos em dezembro para 51,4 agora – aumento de 7,4%. Apesar disso, ela ainda tem a pior pontuação entre os sete componentes do índice. As famílias também entraram em 2021 mais confiantes com o seu nível de consumo, cuja variável cresceu 5,1% em relação a dezembro de 2020.
Em comparação com janeiro de 2020, no entanto, antes do início da pandemia de Covid-19, o ICF registra queda significativa de 29,4%. À época, o indicador registrava 103,5 pontos.
Fim do auxílio e alta da inflação
Para a FecomercioSP, o crescimento da confiança das famílias paulistanas ainda não deve ser comemorado: se, por um lado, aproveitaram oportunidades do fim do ano, quando os varejistas oferecem descontos maiores para atrair o público, por outro, o fim do auxílio emergencial e a inflação dos alimentos, que deve permanecer no começo deste ano, são elementos que podem minar o retorno ao consumo.
Isso se observa na comparação anual entre duas variáveis: a Perspectiva Profissional e a Renda Atual. A primeira cresceu 4,6% em janeiro, mas acumula queda de 16,4% em comparação ao mesmo mês de 2020. Já o nível de renda obteve alta de 1,9% em relação a dezembro, mas é 41,7% menor do que no início do ano passado.
No entendimento da federação, com menos renda e mais pessimismo quanto a emprego, a tendência para os próximos meses é de que as famílias fiquem mais cautelosas na hora de comprar.
ICC: melhor pontuação desde março
Os números são muito parecidos com os do Índice de Confiança do Consumidor (ICC), que subiu 3,9% em janeiro, saindo dos 111,7 pontos para 116,1 agora. É a melhor pontuação desde março de 2020, quando apontava 124,6. Ao contrário do ICF, no entanto, o indicador teve desempenho irregular ao longo do segundo semestre de 2020, chegando a crescer 5,6% entre agosto e setembro, mas voltando a cair nos meses seguintes.
Na comparação anual, porém, a queda é menor: -4,3% entre janeiro de 2020 e o mês atual.
O melhor resultado foi do Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA), que registrou alta expressiva de 12% entre dezembro e janeiro: de 66,2 para 74,1 pontos. É a primeira vez que o indicador chega à casa dos 70 pontos desde abril passado.
O número de famílias endividadas na cidade de São Paulo também voltou a crescer, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), também elaborada pela FecomercioSP. Em janeiro, 58,7% tinham alguma dívida – alta de um ponto porcentual em relação a dezembro (57,7%).
Isso indica, para a federação, que a inflação dos alimentos, ao pressionar o orçamento familiar, faz com que o cartão de crédito seja a única saída para outros tipos de consumo, além da poupança adquirida durante a quarentena do ano passado.
Alta nas contas em atraso
Já a quantidade de famílias com contas em atraso permanece praticamente no mesmo patamar desde setembro do ano passado, fechando o mês em 18,7%. A taxa, no entanto, representa alta significativa em relação ao segundo trimestre, auge da pandemia da Covid-19, quando chegou a ficar em 15,6% em junho de 2020.
Em números absolutos, o município paulistano tem 2,33 milhões de famílias endividadas e 743 mil inadimplentes atualmente. Diante desse cenário, é momento de os varejistas organizarem custos e estoques, além de precificar produtos de forma a atrair a demanda sem prejudicar a margem de lucro. São medidas que, em uma conjuntura desfavorável, podem evitar prejuízos maiores.
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