Em “Hey, Hey, My, My”, canção de 1979, Neil Young professa, no segundo verso, a imortalidade do gênero que o consagrou e a tantos outros ídolos: “o rock and roll não pode morrer”. No centro de São Paulo, mais especificamente no número 439 da Avenida São João, há quem ainda carregue essa bandeira para manter o espírito roqueiro vivo, acolhedor e rentável. Resistente como o próprio gênero musical, marco da urbanidade paulistana, a Galeria do Rock inicia uma nova fase. Com a chegada do Grupo da Cidade, operadora de marcas tradicionais da região central, o rock sobe aos céus do Centro Comercial Grandes Galerias, mais vivo do que nunca, e pousa no rooftop nos jardins do empreendimento, aberto – por enquanto – apenas aos sábados.
A ideia era montar um escritório, mas os empreendedores enxergaram potencial no espaço e decidiram compartilhar a vista do Largo do Paissandu, incrementando-a com boas opções de comida, bebida e, claro, música. Nascia o Rooftop Galeria do Rock. O espaço de 500 m² tem capacidade para receber até 300 pessoas em pé e foi palco para apresentações do Candlelight, experiência musical à luz de velas.
Desde a inauguração, em 23 de março, o rooftop recebeu mais de mil pessoas, entre as quais famílias com crianças, casais, jovens, adultos e idosos. Em sua fase de revitalização, a Galeria se posiciona como um espaço democrático, aberto para todos os públicos, de todas as idades. Entre os frequentadores, 72% têm entre 30 e 45 anos, a maioria, mulheres.
O chef Deivid Marques, que comanda o Boteco 28, no Farol Santander, desenvolveu o cardápio. As opções são casuais e acompanham o estilo despojado dos frequentadores do espaço. As opções variam entre churrasco, espetinhos, o icônico sanduíche de pernil, lanche de carne, pizzas, batata chips e salgados. Os drinks são servidos com e sem álcool. A carta de bebidas traz opções de cerveja e refrigerante.
O rooftop abre às 11h e para entrar é preciso adquirir um ingresso no valor de R$ 30. O ingresso, que pode ser comprado com antecedência, dá direito a uma bebida de brinde e à visitação à exposição oficial em homenagem a Adoniran Barbosa, outro ícone da pauliceia desvairada, mas, neste caso, um cativo do samba. Também há a Sala do Rock, decorada com capas de discos e quadros das bandas mais representativas da cena.
Os shows começam às 13h e todas as atividades se encerram às 17h. A galeria fecha às 18 horas. “A curadoria dos eventos é feita com base naquilo que os nossos visitantes gostam de ouvir”, conta Paiva. Por lá, já passaram Pitty e um cover da banda Charlie Brown Jr, entre outros músicos. “Entre 95% a 98% do público está satisfeito com a nossa proposta”, complementa Thomaz Paiva, gestor do rooftop.
Aliado ao plano de abertura do restaurante e espaço de eventos, o Grupo da Cidade apoia a revitalização da Galeria e da região central, sendo o responsável pelas operações Boteco 28 e Loja da Cidade, ambos no Farol Santander, Mundo Pão do Olivier e Café 174. Em relação à Galeria, a motivação tem raízes profundas na história familiar de Marcone Souza, que lidera a companhia.
O empresário é filho de Antonio Souza Neto, conhecido como Toninho, o síndico da Galeria. É Toninho quem gerencia o condomínio comercial desde a década de 1990. Agora, a empresa do filho chega para contribuir com investimentos, melhoria na comunicação dos lojistas nas redes sociais e um novo posicionamento do negócio.
“Nós buscamos implementar todo tipo de solução para atrair as famílias, para que as crianças também aproveitem o lugar enquanto os pais ouvem as bandas”, destaca o gestor.
A experiência no centro do negócio
O negócio do rooftop foi desenhado para que o visitante vivenciasse uma experiência integrada com a proposta da Galeria do Rock. Para chegar ao “telhado”, é preciso passar por todos os andares do prédio, considerado patrimônio histórico.
Com sua construção ondulada e espaços para a livre circulação, do primeiro andar, veem-se os pavimentos superiores e vice-versa. Nesse trajeto, pode-se percorrer quase 500 lojas, entre as quais estúdios de tatuagem e piercing, lanchonetes, moda masculina e feminina, de roupas, calçados e acessórios, de marcas nacionais e internacionais, além de instrumentos musicais, vinis e cds.
A caminhada é um verdadeiro passeio pelo lifestyle urbano, baseado em gêneros musicais, como o rock – do iê-iê-iê ao trash metal -, o hip hop ou a soul music e no skate. “Somos um polo da moda, temos grandes marcas como parceiras de negócios e, hoje, não se vende aqui produtos falsificados”, afirma o gestor do Rooftop Galeria do Rock.
Investimento certeiro
Os investimentos na Galeria do Rock têm retorno certo, garante Paiva, tanto quanto as outras operações que o Grupo da Cidade possui. Segundo ele, abrir um negócio no centro histórico de São Paulo é garantia de sucesso, recomendando sempre estudos e avaliações para cada tipo empreendimento, já que transitam por ali milhares de pessoas diariamente.
Pelos cálculos do Metrô, a estação República, em frente ao prédio, recebe no horário de pico 80 mil passageiros. A Galeria recebe, em média, 15 mil a 20 mil visitantes e o volume sobe para até 30 mil quando a cidade tem shows e festivais, como o Lollapalooza.
A região conta com toda a infraestrutura necessária para o desenvolvimento comercial e fluxo de capital. Por outro lado, a falta de segurança afastou frequentadores cativos e espantou turistas, sem contar a pandemia de covid-19 que impactou negativamente todos os comerciantes locais e levou mais pessoas à situação de vulnerabilidade social.
De acordo com o executivo, há um amplo interesse na revitalização daquela área e são os bares e restaurantes os estabelecimentos à frente desse movimento.
Outro incentivo poderá vir da transferência da sede do governo do Estado do Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, zona sul da capital, para os Campos Elíseos.
“Investir aqui não é uma aposta, é uma certeza”, diz Thomaz Paiva. Ainda segundo o gestor do rooftop, o Grupo está sempre aberto a executivos que tenham interesse em novos negócios na região.
Galeria do Rock Bar no subsolo
Algumas semanas antes da inauguração do rooftop, foi reinaugurada a Galeria do Rock Bar , em funcionamento no subsolo.
O bar recebeu R$ 1 milhão em investimentos para a reforma e voltou a operar em estilo retrô da década de 1990, desde a decoração a algumas opções do cardápio. O período corresponde à fase áurea do centro comercial quando muitas lojas de discos e cds abriram as portas na Galeria.
Atualmente, a Galeria do Rock Bar abre às 11h para almoço e voltou a ser um ponto de encontro para o happy hour dos frequentadores do centro até as 18h.
O menu, assinado pelo chef Deivid Marques, vai de prato feito a sanduíche pernil no pão francês e croquete de carne seca com geleia de pimenta dedo-de-moça. Entre os drinks, o destaque é a releitura do fogo paulista. A receita do chef Marques leva ervas, cachaça, club soda e bombeirinho, uma mistura de cachaça, limão e groselha.
A região possui ampla oferta de estacionamento, inclusive, 24 horas ao lado da Galeria. Os acessos podem ser feitos por metrô (Estação República-Linha 4-Vermelha) e transporte público.
Como diria Thomaz Paiva – e, de certa forma, o Neil Young 45 anos antes – o rock nunca morrerá. E quem passar pela Galeria, poderá comprovar que eles estão certos.
Imagens: Shutterstock e Divulgação