“Enquanto o mundo pensa e discute as transformações estruturais que as mudanças geopolíticas, econômicas e tecnológicas impõem, por aqui o cenário do mais do mesmo está definido.
Nos executivos e legislativos federal, estadual e municipal a única preocupação real é a próxima eleição. No Judiciário, em especial no federal, o ativismo político se sobrepõe até mesmo às questões éticas.
Enquanto isso, aprofundam-se as desigualdades sociais, cresce a insegurança, a educação se apequena, talentos deixam o País e a mediocridade econômica se alastra e é saudada como conquista.
Quem pode transfere ou divide investimentos no mercado internacional, reduzindo riscos da exposição plena por aqui. E, em alguns casos, mudam o domicílio fiscal de seus negócios.
E quem não pode ou não quer, acompanha a concentração de atividades e desempenho excepcionais do setor financeiro de um País cada vez mais “rentista”.
Talvez um dos poucos setores que se diferencia da mesmice, fora o financeiro, é o agro, que pensou e desenvolveu um projeto estratégico de longo prazo que dá ao País uma liderança global que se reafirma e amplia de forma constante.
Nesse Brasil dividido e polarizado tudo tem a ver com a falta de um projeto estratégico, coerente e consistente para a Nação.
Muitos pensam em partidos, entidades, segmentos, poderes, regiões, causas, negócios, setores e objetivos, mas poucos, muito poucos, pensam no todo e na Nação. E esse é apenas o diagnóstico.”
Seria aceitável e poderíamos nos conformar fosse o Brasil um País pobre e pequeno, sem recursos naturais e humanos, enfrentando guerras e inimigos políticos e sem perspectivas econômicas, como a Coreia há 40, 50 anos, Indonésia ou mesmo Israel por outras circunstâncias.
Pelo contrário, somos um País privilegiado em território, água, insolação, localização e, em especial, gente.
Tão privilegiado que se dá ao luxo de não pensar e, principalmente, construir o seu projeto de futuro e que aceita ser administrado pela visão do passado e da próxima eleição.
Um País que tem se conformado em ver crescer os problemas na saúde, educação e segurança, que são as atividades primárias do setor público.
Na lógica atual, alguns dramas futuros estão contratados, como a equação da Previdência, que não tem como fechar a conta com os 15 milhões de MEIs, as 21 milhões de famílias ou 54 milhões de pessoas sustentadas pelo Auxílio Brasil. Isso vai levar uma parcela predominante da população a se aposentar por idade e sem contrapartida relevante de contribuintes para o sistema.
A reforma feita anteriormente não se sustenta no médio e longo prazos e nada está sendo feito para encarar esse problema.
Outro drama contratado é o tamanho do Estado para atuar como indutor de crescimento e compensar a perda de vitalidade do setor privado e a mentalidade “rentista”, que faz inchar o setor público e obriga a modelos de reforma tributária que sustentem essa opção, na contramão de economias liberais.
E o crescimento do radicalismo e da polarização no ambiente político, aliado à falta de lideranças modernas e inspiradoras, contribuem para a não existência de uma proposta estratégica de longo prazo.
Como diz o dito popular, não existe vento a favor para quem não sabe onde quer chegar.
E isso é a mais pura expressão do cenário presente e futuro da Nação Brasil.
Até onde se possa conjecturar, o caminho alternativo para a mesmice seria a mobilização e a convergência empresarial possíveis para desenvolver, implantar e sustentar um projeto para a Nação, como aconteceu em algumas outras economias, preenchendo a lacuna da omissão das lideranças políticas.
É isso ou, como tem ocorrido, empresas, negócios, talentos e mais desesperançosos irão investir, viver e buscar alternativas fora do País.
Vale refletir e, principalmente, agir.
Nota: No Latam Retail Show, de 17 a 19 de setembro, no Expo Center Norte, em São Paulo, haverá especial ênfase, conteúdo e programação dedicados às discussões dos impactos das transformações no mercado, no varejo na realidade global e local. Com a presença de marcas, negócios e iniciativas que mostram caminhos já sendo percorridos na integração virtuosa de negócios e desses setores para enfrentar os desafios à frente. O evento terá transmissão virtual de parte do conteúdo para os que não puderem participar presencialmente.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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