Por Alexandre van Beeck*
Durante períodos de turbulência econômica, há o aumento da insegurança de perder o emprego e como consequência, amplia-se o desejo de trabalhar por conta própria e criar o seu emprego dos sonhos. Em 2009, durante a crise norte-americana, o estímulo do empreendedorismo aos cidadãos americanos ajudou a recuperação econômica. Por aqui no Brasil, este estímulo também acontece, porém com uma diferença: não fomos educados para isso.
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Recentemente, o Governo Brasileiro divulgou o expressivo número de cinco milhões de microempreededores individuais (MEI), um “programa de formalização e inclusão produtiva e previdenciária que atende a pequenos empreendedores de forma simplificada”, um ótimo estímulo à formalização. Hoje, o Sebrae e o Instituto Endeavor se destacam como grandes estimuladores ao desenvolvimento e capacitação de empreendedores brasileiros. Mas ainda temos muito a caminhar.
Momentos de dificuldade criam novas oportunidades, mas só consegue enxergá-las e desenvolvê-las aqueles com um olhar treinado e capacitado. A minha geração não cresceu com essa visão empreendedora. Nossa educação nos conduziu a procurarmos por lugares seguros. A geração responsável pela nossa educação acreditava claramente em conseguir “um emprego para toda vida”. Com essa verdade na cabeça, para que empreender?
Empreender exige um exercício mental e de auto controle para não deixar que o medo de arriscar paralize nossas iniciativas. Temos que acreditar em nossas ideias e desenvolver a habilidade de convencer várias pessoas que a nossa proposta vale apena. A visão empreendedora pode iniciar a partir de uma necessidade pessoal de resolver um problema individual. A solução é criada a partir da experiência e das capacidades de cada um.
Não existe uma só resposta para o mesmo problema e a partir de um ponto de vista único é que surge a inovação. “Como posso tirar fotos das minhas manobras de surf?” – nascia a Go Pro; “Como posso praticar futebol americano sem ficar com o uniforme ensopado de suor?” – nascia a Under Armour. Porém, empreendorismo não faz parte do currículo escolar brasileiro. Grande parte de nossos professores não estão preparados, treinados, nem tampouco têm uma metodologia de estímulo ao empreendedorismo. Crescemos desta forma e entramos no mercado de trabalho sem esta capacitação desenvolvida. A consequência: a falta de empreendorismo nas organizações.
Ser empreendedor não significa apenas ter um próprio negócio. Um funcionário com uma visão empreendedora é capaz de solucionar grandes dilemas operacionais, desenvolver novos processos e estimular um pensamento inovador entre os colaboradores na busca de soluções de superação de um momento de dificuldade da empresa. Para isso acontecer, tem que haver estímulo e método.
O medo de errar e a armadilha das metas de desempenho obtusas, empurram o funcionário para “não errar por não arriscar” ao invés de abrir espaço para “errar por ter tentado”. A nova geração dos millenials que hoje começa a ocupar posições de maior responsabilidade nas empresas, tem um viés mais contestador e naturalmente empreendedor. Mas seus chefes não acompanham esse perfil. As estruturas se movimentam lentamente e sem um processo para desenvolver iniciativas realmente inovadoras, a responsabilidade sobre a tomada de decisão é democraticamente “dividida com a equipe”, onde as ideias mornas são aprovadas pela maioria. Detalhe: o que faz a diferença são ideias quentes.
O segundo semestre de um ano difícil está iniciando e este é um bom motivo para olhar ao seu redor e desenvolver seu lado empreendedor. Chegou a hora de buscar por metodologias e suporte que estimulem a identificação das oportunidades de melhoria da nossa rotina de trabalho, de soluções para processos ineficientes, de novas oportunidades de negócios e de desenvolvimento de ideias quentes. Mexa-se!
*Alexandre van Beeck (alexandre.beeck@gsmd.com.br) é head da GS&AGR Consultores.