Segundo o relatório “Setor de Varejo da China – Crescimento, Tendências, Impacto da covid-19 e Previsões (2023-2028)”, elaborado pela Mordor Intelligence, até 2024, o varejo chinês deve registrar uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 10,6%. Foi neste cenário que tive a oportunidade de estar em Xangai e em Shenzhen, na China, em busca de tendências, inovação e tecnologias voltadas para o setor varejista.
O que encontrei por lá, como era de se esperar, foi exemplo de planejamento e execução. Na China, o desenvolvimento e a estrutura das cidades inteligentes se dão por meio da organização e do gerenciamento eficazes das pessoas e do ambiente, de modo que todo o ecossistema envolve tecnologia.
Vai muito além da conexão em tempo integral. Para se ter uma ideia, o governo chinês faz incentivo massivo, por meio do subsídio de impostos e taxas, para a aquisição e o uso de veículos elétricos. Além de fácil acesso aos pontos de abastecimento elétrico, as estruturas das cidades permitem que, em apenas 15 minutos, os cidadãos tenham acesso a todas as necessidades básicas.
A tecnologia está presente em praticamente todos os aspectos da rotina. Os superapps (aplicativos que visam a experiência unificada do usuário) encontram-se em atividades que vão desde a troca de mensagens ou o uso de transporte público, até ao aluguel de power banks e a realização de compras, sejam elas em lojas autônomas ou não.
Aliás, neste quesito, ao contrário do que muito se imagina, as lojas 100% autônomas em locais de grande circulação de pessoas são apenas as chamadas lojas conceito. Embora na China este modelo de negócio esteja bem disseminado, os estabelecimentos varejistas sem atendentes estão mais presentes em ambientes fechados e controlados, como em escolas e centros comerciais.
Ainda no que diz respeito às lojas autônomas, as unidades da rede Lawson, maior da Ásia, por exemplo, oferecem uma incrível estrutura em relação à tecnologia, que são mais simples e mais baratas do que as de grandes varejistas reconhecidas no mercado internacional. As gôndolas, muitas refrigeradas, possuem balanças que detectam quando um produto foi retirado, além de diversas câmeras fixadas em pontos específicos das lojas. Além disso, as compras são realizadas por meio de um superapp.
Outro aspecto no qual a China tem muito a ensinar para o setor varejista global é a eficiência dos sistemas de entrega. Tal como o Brasil, a China é um país com grande extensão territorial, porém, devido ao ecossistema inteligente, oferece baixo custo, agilidade e acesso a informações no que diz respeito às entregas.
Em média, o serviço custa um dólar na etapa de last mile, última etapa do processo de envio do produto. Vale ressaltar que, no Brasil, os fatores velocidade e custo são fundamentais para a experiência de compra, uma vez que, segundo o relatório “O que os Consumidores Esperam de uma Entrega Perfeita”, elaborado em 2021, a entrega rápida e a entrega grátis são destaques na prioridade de satisfação para 42,2% e 29,8% dos clientes, respectivamente.
Ponderando tudo o que observei e aprendi durante minha viagem a Xangai e Shenzhen, acredito que a principal lição que a China pode passar para o segmento varejista global é, além da importância do planejamento e da execução, a necessidade de metodologia e compromisso com o resultado. Se nos inspirarmos nesses fatores, com certeza, em breve, teremos um varejo mais tecnológico, eficiente e que proporciona cada vez mais comodidade para os consumidores
Eduardo Córdova é CEO e co-founder do market4u
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagens: Shutterstock