Depois da tempestade vem a bonança. E depois da tempestade perfeita que o Brasil enfrentou nos últimos anos, estamos preparados para a bonança quase perfeita que se transforma em profecia auto-realizável.
A expectativa positiva de perto da 70% da população e da esmagadora maioria dos líderes empresariais, combinada com os diversos movimentos externos e internos, desenham o cenário para essa bonança quase perfeita com garantia de ocorrência, ao menos até meados de 2019.
Os 70% são representados pelos que votaram no candidato vencedor e boa parcela dos que, votando branco ou nulo, não marcaram sua opção, mas preferem que dê tudo certo. Uma parcela, ainda indefinida, de pouco menos de 30% da população torce contra, na lógica que quanto pior, melhor, pois acreditam que o país vai se dar mal pela escolha feita.
Na expectativa da posse dos novos governantes e do Congresso renovado as sinalizações são em grande parte positivas. Os nomes e propostas são, em quase todos os casos, sinalizações que reforçam as expectativas positivas e alguns sinais são bastante claros.
O comportamento da Bolsa de Valores, com sucessivas altas e encostando no patamar histórico dos 90 mil pontos.
O crescimento do IDE – Investimento Direto Externo, que atingiu perto de US$ 10,4 bi em outubro, também com tendência de crescimento.
A confiança dos setores empresariais medida por diversos indicadores setoriais que estimula investimentos em suas áreas de atuação.
A confiança do consumidor, avaliada pela FGV, que cresceu para seu maior nível nos últimos quatro anos e que mostra tendência de melhoria para os próximos meses, pois está fortemente amparada pela expectativa de melhorias no futuro, em contraponto a avaliação do presente mais imediato.
Todos esses elementos sinalizam a perspectiva de, ao menos no primeiro semestre de 2019, reconectarmos com nossas esperanças positivas para o futuro que tem efeito de profecia auto-realizável, pois induz a investimentos, consumo e desata o nó da cautela e da contenção.
Na lógica do consumo e do varejo o desempenho da Black Friday foi um importante sinalizador. Segundo a Boa Vista – SPC teria crescido 4,7% comparativamente com o mesmo período do ano passado. No e-commerce especificamente, de acordo com indicadores da Ebit/Nielsen, o crescimento teria sido de 24% em comparação com 2017.
A combinação de menor inadimplência e menor comprometimento de renda futura, como analisamos em recente artigo “Do discurso à prática”, deve assegurar um Natal este ano acima das expectativas anteriores e que será bastante influenciado pelas vendas à crédito, com ticket médio mais alto e uma maior disposição do consumidor para apostar no futuro.
E tem espaço para ser melhor
Na previsível retomada positiva do mercado o cenário pode ser ainda melhor, se alguns temas forem priorizados.
No conjunto de propostas envolvendo a nova organização do governo, ficou muito estranho, para não dizer inexplicável, a atribuição de um Ministério para o setor de Turismo, inegavelmente uma área com muito potencial e que recebe menos de sete milhões de turistas externos por ano. Enquanto os setores de Indústria, Comércio e Serviços ficou apenas com uma Secretaria do recém criado super Ministério da Economia. Turismo deixou de ser serviço.
O bom senso e a lógica indicariam a criação de um Ministério da Produção e Turismo, integrando Indústria, Comércio, Serviços e Turismo ou apenas a criação de uma Secretaria de Turismo no super Ministério da Economia.
Tem que ser coerente.
De outro lado existe uma oportunidade relevante numa ação coordenada para redução da informalidade no Brasil.
O cenário recente estimulou o crescimento da informalidade como pode ser medido pelo aumento do IES – Índice da Economia Subterrânea, apurado pelo IBRE da FGV em conjunto com o Etco, que aumentou 1% comparado com o ano passado, alcançando 16,7%.
Esse índice captura parte da informalidade existente no país e uma ação mais direta do próximo governo permitiria um alinhamento das práticas competitivas em diversos setores, reduzindo a desigualdade hoje existente onde um número menor de empresas, especialmente no comércio e varejo, paga maior parcela dos impostos e, além disso, um aumento da arrecadação.
Mas é inegável que neste final de ano temos um cenário à frente muito melhor quando se comparado com a realidade dos últimos cinco anos. E tudo isso endossa a perspectiva de reversões estruturais fundamentais nos planos previdenciário, tributário, de simplificação, privatização e desmonte do Estado-interventor, que tornem irreversível a retomada de nosso pacto com um melhor futuro.