Três em cada quatro profissionais querem trocar de emprego em 2023. Isso significa que, ao fazer uma reunião com quatro pessoas, as estatísticas indicam que mais da metade delas estão insatisfeitas com as próprias funções. É o que mostrou um estudo da plataforma Empregos.com.br, que divulga empresas e vagas de trabalho. De acordo com a pesquisa, mais de 80% dos entrevistados não estão contentes com seus trabalhos atuais.
A empresa entrevistou 517 profissionais, dos quais 70% querem mudar de emprego por conta da insatisfação salarial: 22,4% dos trabalhadores buscam empresas que ofereçam mais benefícios e 7,5% priorizam o modelo de trabalho home office. Os entrevistados também foram abordados a respeito das suas expectativas para o futuro, sendo que 71% estão otimistas com a melhora do mercado de trabalho e 77,4% desejam fazer um curso profissionalizante para conquistar novas qualificações.
Agora, vamos deixar os números de lado para analisar as raízes da insatisfação profissional. Antigamente, era comum que as pessoas passassem a vida inteira em um mesmo trabalho. Na época do workaholismo, que valoriza o “vício” no trabalho, passar anos trabalhando duro para crescer em uma só empresa era a meta comum entre os trabalhadores. A nova geração não pensa assim. O movimento do job hopping (“pular de emprego” na tradução literal) está ganhando força no mercado e se refere aos profissionais que mudam de empresa de forma voluntária e frequente.
Neste movimento, os profissionais ficam cerca de três meses em um trabalho e já partem para uma nova experiência. A tendência do job hopping está diretamente relacionada ao estudo de insatisfação profissional. Se o profissional se sente estagnado ou pouco valorizado, ele não pensa duas vezes antes de começar a procurar outras vagas. O movimento é mais comum entre colaboradores da Geração Z, que apresentam perfis inquietos e ambiciosos, além de priorizarem a liberdade e a valorização – lembrando que, claro, sempre há exceções.
O job hopping é o conceito que se relaciona à insatisfação dos profissionais de maneira direta, mas outros movimentos também justificam o fato de que mais da metade das pessoas estão na busca de um novo emprego.
O big quit é uma tendência que começou nos Estados Unidos, mas já chegou e está bem presente nos escritórios brasileiros. A grande renúncia, na tradução literal, explica a decisão de milhões de profissionais, na sua maioria abaixo dos 30 anos, de se demitirem dos seus trabalhos. Há três motivos principais para as demissões voluntárias: insatisfação salarial, foco na qualidade de vida e desejo de mudar-se para um emprego com mais benefícios.
Outro movimento que confirma a insatisfação, mesmo que indiretamente, é o quiet quitting. A demissão silenciosa talvez seja a tendência mais famosa entre as comentadas acima. Os adeptos do conceito seguem o mantra “trabalhar para viver e não viver para trabalhar”, ou seja, fazem apenas o necessário das suas funções e não assumem tarefas que estão fora do escopo do trabalho. Os limites que o quiet quitting impõe surgiram como uma resposta aos milhares de trabalhadores que foram diagnosticados com burnout após se encontrarem em uma situação de esgotamento extremo.
Voltando à pergunta do título, não há uma resposta única e exata. Há um conflito geracional acontecendo entre as mesas dos escritórios. Enquanto as gerações mais velhas foram ensinadas a priorizar a estabilidade financeira a qualquer custo, as novas gerações costumam procurar um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Isso significa que a insatisfação profissional não está necessariamente superior do que antes, mas os trabalhadores mais jovens têm uma tendência maior a se arriscar e buscar outras oportunidades.
Carlos Carvalho é CEO da Truppe!
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