Após quase dois anos desde a revelação de um rombo bilionário, a Americanas não baixou a guarda e segue com seu plano de reestruturação, com o objetivo de se reerguer. Com planos para 2025, a varejista, que já possui mais de 1.600 lojas em mais de 800 municípios brasileiros, planeja expandir ainda mais, com foco na região Nordeste.
Esse plano de expansão será implementado, inicialmente, de forma moderada. A Americanas planeja não apenas investir na expansão de pontos de venda físicos, mas também ampliar seu portfólio de serviços financeiros e retomar modalidades de crédito, que anteriormente podiam ser acessadas nas plataformas da companhia.
Para essa expansão projetada para este ano, a varejista pretende abrir poucas unidades no Nordeste e possivelmente no Centro-Oeste, a fim de testar o conceito e o fluxo. Caso os resultados sejam positivos, a empresa planeja acelerar o processo, além de focar em alavancar as vendas de suas lojas existentes.
Em entrevista exclusiva à Mercado&Consumo, o CEO da Americanas, Leonardo Coelho, conta que o plano de crescimento foi ajustado com a formulação do orçamento para 2025, durante o mês de dezembro. “Devemos continuar focados no crescimento de mesmas lojas, incorporando ainda mais categorias relacionadas a utilidades domésticas, limpeza e Cameba [cama, mesa e banho]”, explica.
O foco da varejista vai além do varejo físico. No plano de expansão, a Americanas também deve incluir o ambiente digital.
“No digital, ao dar robustez ao nosso novo programa de fidelidade, pretendemos reforçar a omnicanalidade do cliente e destravar vendas adicionais para quem busca nossa oferta de produtos customizada para seu formato preferido de compras”, conta o CEO.
Quando começou a crise da Americanas?
É impossível falar da Americanas atualmente sem mencionar a crise financeira revelada em 11 de janeiro de 2023, causada por ‘inconsistências contábeis’ que somaram R$ 20 bilhões nos balanços de 2022.
André Covre assumiu o cargo de CFO e renunciou ao lado de Sergio Rial, que ocupava o posto de CEO da varejista na ocasião. Ambos ingressaram e deixaram a Americanas simultaneamente. Após a saída de Rial, João Guerra, ex-diretor da empresa, assumiu interinamente o cargo de CEO, deixando a posição poucos dias depois, com a chegada do atual CEO, Leonardo Coelho.
Qual a atual situação da varejista?
O CEO da Americanas conta que, atualmente, a varejista está passando por um processo de transformação, que foi apresentado ainda em 2023. A companhia já eliminou quase a totalidade das dívidas concursais, graças à capitalização e aos pagamentos da maior parte dos nossos credores no Plano de Recuperação Judicial, endereçando a estrutura de capital e revertendo o patrimônio líquido para o patamar positivo de R$ 5,7 bilhões.
“Viramos a página e passamos a respirar varejo, inaugurando uma nova fase da estratégia de negócio, pautada em novos pilares: (i) eficiência comercial; (ii) eficiência operacional e financeira; e (iii) resgate da nossa credibilidade perante os diversos públicos”, destaca Coelho.
O plano de reestruturação da Americanas teve início na base de Gente e Cultura. “Revisitamos nosso propósito, que resgata a essência da Americanas de resolver a vida das pessoas, e os nossos valores, que seguem alinhados com o que a gente tinha”, ressalta.
Como parte dessa estratégia, foram feitas contratações de executivos com ampla experiência para liderar as frentes de Gente e Gestão, Serviços Financeiros, Operações, Digital e Marketplace, além da rede Hortifruti Natural da Terra, que também faz parte do ecossistema da varejista.
Parcerias estratégicas
A fim de ampliar a oferta de produtos aos clientes, aumentar a rentabilidade e a eficácia, a Americanas também tem apostado em novas estratégias comerciais. Para isso, a rede trouxe os fornecedores para o jogo em um processo bilateral produtivo e inteligente de negociação.
Com essa ação, a varejista conseguiu dobrar a disponibilidade de produtos nas lojas físicas no último trimestre de 2024, em comparação com o ano passado. Entre os parceiros, estão grandes marcas do setor como Mondelez, Nestlé e Bauducco.
“Nesta fase de transformação do negócio, valorizamos ainda mais os nossos parceiros a partir de novas bases de relacionamento, pautado no respeito, na ética e em muito diálogo”, comenta o CEO.
A Neooh também faz parte do time de parcerias bem-sucedidas. Na frente de retail media, a Americanas, ao lado desta empresa parceira, realizou a inclusão de centenas de painéis digitais em suas lojas no segundo semestre de 2024, para o desenvolvimento e gerenciamento do canal Digital Signage, com maior visibilidade dos produtos dos parceiros e aumento da conversão.
“Hoje, temos uma maturidade no relacionamento com sellers e indústria, com um olhar em 360 graus que conecta audiência e canais. A integração das mais de 1.600 lojas físicas à plataforma de e-commerce e logística colabora para a captura de dados e o fortalecimento de estratégias combinadas com a indústria e os lojistas do marketplace, ampliando a possibilidade de negócios de ambos os lados”, acrescenta.
Otimização de processos logísticos
Andando junto às tendências, a Americanas também está implementando a Inteligência Artificial (IA) em suas operações. A cadeia logística é a que mais se beneficia da tecnologia, contribuindo para a detecção de padrões e tendências que podem ser usados para otimizar os processos.
“A automatização de tarefas, como o gerenciamento de estoque e a programação de entregas, ajuda a companhia a reduzir custos e melhorar a eficiência para o cumprimento de prazos combinados com o cliente no momento da compra”, explica Coelho.
Também foi desenhado um planograma baseado na correlação existente entre a cesta de compras e as categorias que a compõem, com o objetivo de desenvolver a setorização de cada categoria nas lojas em um piloto que já está em teste. Com isso, a Americanas conseguiu aumentar em 28% o número de lojas que oferecem a prateleira infinita, com mais de 730 unidades.
“Continuamos ampliando a participação dos serviços de retirada de pedido na loja ou entrega a partir da loja. Esse processo de geração de conhecimento dentro de casa é muito valorizado por nós e agrega bastante para o negócio”, completa.
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