A pandemia serviu para catalisar diversas iniciativas nas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG), mas avanços nesse tema já vinham ocorrendo, ainda que de forma fragmentada, no mundo corporativo. A lembrança, feita pela executiva Maria Silvia Bastos Marques, ex-presidente da CSN, do banco Goldman Sachs e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), serve para ressaltar que a onda ESG no mundo corporativo e no mercado financeiro é irreversível, ainda que haja alguns retrocessos e o avanço não seja totalmente linear.
“O importante é a tendência”, afirmou Maria Silvia, que hoje é membro dos conselhos de administração de companhias como Ebanx, Vallourec, Grupo Cataratas e Iguá Saneamento. A executiva abrirá, na segunda-feira, 8, o ciclo de palestras da “Semana ESG”, evento online que vai até sexta-feira, 12, e marcará o lançamento do site Integridade ESG, criado pela Insight Comunicação, para reunir conteúdo sobre governança corporativa, sustentabilidade ambiental e ações sociais das empresas e instituições.
Entre as iniciativas fragmentadas no mundo corporativo, Maria Silvia cita a agenda de segurança no trabalho, que começou a avançar nos anos 1990. Foi naquela década, com as privatizações, que começaram a andar também as primeiras iniciativas de melhoria de governança corporativa, com a profissionalização das empresas familiares e o fortalecimento dos conselhos de administração, agenda que seguiria pelos anos 2000. As discussões sobre desenvolvimento sustentável também têm seu histórico, com a conferência seminal de 1972, em Estocolmo. A Rio 92 completou 30 anos este ano, lembrou Maria Silvia.
Agora, a congregação de todas essas iniciativas na temática ESG representa uma “mudança de cultura”, segundo a executiva, que não ocorre da noite para o dia e que passa por “diversos graus de maturidade” em cada empresa ou instituição. Para Maria Silvia, a mudança geracional fará diferença nessa mudança cultural, já que os mais jovens têm outra visão sobre temas como sustentabilidade ambiental e diversidade social, entre outros.
A executiva vê as empresas brasileiras bem posicionadas para a economia de baixo carbono, acha que o Brasil tem potencial para ser protagonista, já que o País é “G-1” quando se trata de “mudanças climáticas, transição energética e segurança alimentar”, mas critica as políticas de meio ambiente do governo federal, como o atraso para criar um mercado regulado de créditos de carbono e o congelamento do Fundo Amazônia, administrado pelo BNDES, com recursos da Noruega e da Alemanha.
“O setor privado está muito à frente do governo”, disse Maria Silvia. “Estamos vendo a sociedade civil se pronunciando e agindo como nunca vi na vida”, completou a executiva, numa referência também aos movimentos em defesa da democracia com a participação de juristas, advogados, empresários e artistas.
Com as eleições chegando, a executiva acredita que agora é hora de pensar em 2023 e adiante. Maria Silvia já declarou publicamente o apoio à candidata Simone Tebet (MDB). A executiva está animada porque, “pela primeira vez”, vê “engajamento da sociedade civil”. Para ela, o pleito de outubro não está definido “surpresas acontecem” nas campanhas, disse e Tebet é uma líder jovem, ao mesmo experiente e cercada de bons especialistas.
“Cada um tem que defender suas convicções, tenho defendido as minhas”, afirmou Maria Silvia, chamando a atenção também para a importância das eleições legislativas.
A executiva é uma das signatárias da Carta em Defesa da Democracia, movimento iniciado na Faculdade de Direito da USP, mas não está pessimista em relação à possibilidade de ruptura nas regras do jogo democrático nem crê que, caso derrotado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenha sucesso se tentar não reconhecer o resultado.
“Temos instituições fortes, que têm mostrado resiliência. Vimos a quantidade de adesões a esses documentos”, afirmou Maria Silvia.
Com informações de Estadão Conteúdo (Vinicius Neder).
Imagem: Reprodução