Os resultados na Black Friday deste ano foram muito bons, superando as expectativas. Dados da Cielo revelaram um crescimento de 16% nas vendas no varejo, índice puxado, veja você, pelas lojas físicas.
Os números do PIB do terceiro trimestre, divulgados nesta semana, confirmam o momento positivo. O consumo das famílias subiu 5,5% no período, contribuindo para o crescimento de 4% na economia brasileira, na comparação com 2023.
Apesar dos temores pela alta da inflação e a subida do dólar, o fato é que há mais dinheiro no mercado. A junção do baixo desemprego com a alta no rendimento do trabalho produziu uma massa salarial recorde em agosto. Os R$ 326 bilhões nas mãos dos trabalhadores brasileiros representaram um aumento de 8,3% em relação a agosto do ano passado, segundo o IBGE. Isso sem falar nos recursos dos programas sociais injetados pelo governo.
Os números dos shopping centers variam de acordo com a fonte
As vendas nos shoppings, estão acompanhando essa onda positiva? Bem, depende.
Se a gente se guiar pelo IDAT Malls, índice apurado pelo Itaú com base nas vendas processadas pelos seus cartões em 500 shoppings do País, as vendas cresceram 6,1% no 3º trimestre. Esse percentual é superior aos 4% registrados pela Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE, que monitora o desempenho do varejo brasileiro.
Porém, um relatório divulgado pela Associação Brasileira de Shopping Centers informa que as vendas nominais em nossos centros comerciais foram 2,3% maiores do que as do terceiro trimestre de 2023.
As metodologias não são iguais, o que pode explicar as diferenças nos resultados dos dois estudos, mas a coisa complica ainda mais quando mergulhamos nos resultados divulgados por algumas empresas listadas em Bolsa. Vamos a eles?
O desempenho de Allos, Iguatemi e Multiplan
Para assegurar uma análise mais precisa, vamos comparar as vendas por metro quadrado nos shopping centers brasileiros, ok? Segundo a associação do setor, a alta por esse critério foi de 3,7% no 3º trimestre, ante 2023.
Porém, esse mesmo índice nos ativos da Allos e da Multiplan chegou a 9,2%. Na Iguatemi, o aumento na venda por metro quadrado dos lojistas foi ainda maior: 11,9%.
Será possível que essas três grandes redes estejam performando acima da média do setor? A análise de outros números permite supor que sim.
Vamos olhar, por exemplo, a taxa de ocupação. O relatório nacional registrou 94,7%. Isso significa que 94,7% da área de lojas disponível estava alugada no final do terceiro trimestre. Pois bem, a Allos reportou taxa de ocupação de 96,4%; a Multiplan, de 96,2%; e o Iguatemi, de 95,9%.
Outro indicador relevante é a inadimplência dos lojistas. No País, ela anda na casa dos 3%. No entanto, nas três redes listadas, a inadimplência líquida é negativa. Ou seja, no final do último trimestre houve, de fato, uma recuperação de pagamentos pendentes.
A queda na inadimplência é um ótimo sintoma. Mais um dado relevante: as vendas dos lojistas cresceram acima dos reajustes de aluguel. Por isso, os custos de ocupação foram menores do que em outros tempos. Na Allos, ficou em 10,4%; na Iguatemi, em 11%; e na Multiplan, 12,8%.
Para quem não conhece o jargão da indústria de shoppings, o custo de ocupação é a razão entre o que os lojistas vendem e o que pagam para ocupar uma loja, considerando aluguel, condomínio e fundo de promoção.
Qual é a conclusão?
Se olharmos apenas para os números das três maiores companhias de shoppings listadas, o cenário é muito positivo. Por outro lado, a comparação com o mercado brasileiro de shoppings como um todo gera alguma dúvida.
Pode ser que os empreendimentos mais consolidados tenham tido, no trimestre, melhor desempenho do que os demais. Ou as metodologias usadas para coletar as informações tenham sido diferentes.
Mas uma coisa é certa: o clima é de moderado otimismo para a temporada de fim de ano.
Luiz Alberto Marinho é sócio-diretor da Gouvêa Malls.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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