Após o primeiro trimestre de 2024, ainda não se consegue ter uma visão, com alguma possibilidade de acerto, de como se comportará o varejo neste ano.
Embora a última variação das receitas das vendas dos associados do IDV, medida pelo IAV (Índice Antecedente de Vendas), tenha sido positiva de fevereiro para março, o que suscita certo otimismo; ao olharmos a série histórica do IAV ajustada pelo IPCA, ou seja, descontados os efeitos da inflação, vemos que os resultados positivos dos últimos meses são inexpressivos, aquém do que o varejo e a economia necessitam.
Como utilizaremos os dados do IAV neste artigo, é oportuno esclarecer que ele produz indicadores que permitem acompanhar o comportamento mensal das vendas do varejo e fornecem expectativas sobre o setor a partir das informações de receita reportadas pelas empresas associadas ao IDV.
A variável investigada é a receita de vendas dos meses passados reportada pelas empresas, bem como a receita de vendas estimada para os três meses seguintes. Neste artigo, vamos abordar o realizado até março e as previsões para abril, maio e junho.
Para trazer maior representatividade setorial, também apresentaremos o resultado ponderado, no qual é utilizado como peso a representatividade destes setores, de acordo com a PMC (Pesquisa Mensal de Comércio) ampliada, do IBGE.
Voltando ao que mencionamos anteriormente, a variação da receita nominal mensal (sem descontar a inflação) das vendas de fevereiro para março, em todos os setores, foi positiva, conforme abaixo:
Apesar do crescimento positivo acima na variação mensal, o que esperar de 2024?
Os dados apresentados por diversos analistas econômicos e estatísticas governamentais indicam que a expectativa de crescimento da economia brasileira em 2024 está em 1,9%, com maior impacto do consumo das famílias; tendência de juros menores com efeitos positivos sobre investimento, consumo e emprego; previsão de uma inflação de 3,71%; empregos com carteira assinada batendo recorde em fevereiro (37 milhões de trabalhadores); taxa de desemprego em queda de 7,8%; e aumento da massa salarial, favorecendo a economia brasileira neste início de ano.
Apesar de todos estes indicadores positivos, a intenção de consumo das famílias recuou 0,8% em março. Se compararmos o desempenho com o mesmo mês do ano passado, em valores nominais, sem desconto da inflação, alguns setores apresentaram dificuldades, como o de móveis e eletrodomésticos e materiais de construção, enquanto outros mantêm significativo crescimento, tal como o registrado nos setores de artigos farmacêuticos e atacado de produtos alimentares.
Para os próximos, as expectativas dos associados do IDV, registradas pelo IAV, é de crescimento nominal para todos os setores, com exceção de móveis e eletrodomésticos, que podem ser conferidas nos gráficos abaixo:
É necessário que os indicadores econômicos, na sua maioria, neste momento otimista, continuem a evoluir positivamente e criem um ambiente de negócios, com o aumento da confiança dos consumidores e dos empresários porque há muito o que recuperar no varejo, visto que, em 2023, passou por um período de forte retração, conforme observa-se abaixo na série histórica do IAV. Já o IAV Consolidado Ponderado cresceu 5,7% em relação a março de 2023.
Dada a forte competição típica do varejo, potencializada pela atuação das vendas online, a retomada do crescimento das receitas de vendas no varejo, conforme sondagem efetuada, tem sido realizada com sacrifícios de preços e a redução das margens de contribuição.
Com esse crescimento, o IAV, ajustado pelo IPCA, ficou positivo em 1,7% em março: maior nível em 10 meses. As previsões para os próximos meses são positivas, de 0,5% para abril; 0,9% para maio/24; e 1,7% para junho.
Com os dados recentemente divulgados por analistas de economia e governo mais as previsões do IAV, a partir de seus associados, retornamos ao começo do texto.
As incertezas para o varejo em 2024 estão se dissipando? Aguardemos, o mercado trará a resposta.
Jorge Gonçalves Filho é presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV).
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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