Fundador e CEO da Petz, o empresário Sergio Zimerman, acredita que, para além dos programas sociais de distribuição de renda, a reforma tributária deve ser encarada como uma ferramenta de justiça social. Em sua visão, hoje os ricos pagam impostos de menos e os pobres acabam sendo penalizados.
“Eu, como CEO da companhia, pago menos imposto do que um operador de caixa da minha empresa. Isso é uma vergonha. Não acho que um País pode dar certo com esse tipo de mentalidade”, disse Zimerman. “Fico preocupado quando vejo todas as propostas de reforma que foram discutidas até o momento… Vejo que nenhuma toca no assunto mais central, que é essa brutal concentração de renda.”
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
O que o resultado das urnas mostrou para o sr. ?
O resultado revela um processo democrático de alternância de poder. Infelizmente estamos vendo esse ruído (referindo-se aos bloqueios em estradas da semana passada). Vejo sempre um novo governo como esperança renovada em um tema que, para mim, é central: a desigualdade social brutal que existe no Brasil.
Como o sr. vê o viés econômico do governo eleito?
Muitas vezes, uma parte significativa dos políticos imagina que a melhor forma de resolver o problema da desigualdade social é por meio de programas sociais ou por um Estado gigante. Algum grau de assistencialismo é necessário, principalmente para as pessoas que estão abaixo da linha da pobreza. No entanto, para realmente interferir na desigualdade e promover oportunidades de elevar a condição de vida das pessoas de uma forma estruturada, a mãe de todas as reformas é a tributária.
Por quê?
O sistema atual brasileiro concentra renda. Quanto mais dinheiro se ganha, menos se paga impostos. Eu, como CEO da companhia, pago menos imposto do que um operador de caixa. Isso é uma vergonha. Não acho que um país pode dar certo com esse tipo de mentalidade. Fico preocupado com as propostas de reforma que circulam e vejo que nenhuma toca no assunto mais central, que é essa brutal concentração de renda. É um sistema regressivo, com tributação no consumo. No Brasil, há uma média de 50% de impostos sobre os bens consumidos. No resto do mundo, a média é de 20%. O que agrava a situação é o sistema de impostos embutido. As pessoas não têm consciência da carga tributária que suportam.
A reforma tributária era proposta de campanha de Bolsonaro em 2018, mas não se concretizou.
Tenho renovadas esperanças com o governo Lula. Espero que se tenha a visão correta de como empoderar os mais pobres. Naturalmente, ele teve oportunidade de fazer isso e não fez, mas sempre será tempo de fazer. É um absurdo alguém defender que a tributação de dividendos não deve acontecer. Não posso falar em nome de todo o empresariado, mas acho que o empresariado que tem consciência não pode imaginar que tributar dividendos seja uma coisa equivocada.
Com informações de Estadão Conteúdo (Talita Nascimento)
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