Caminhos para o crescimento do setor de materiais de construção

A primeira edição da pesquisa Matcon Track, pesquisa nacional com 3.000 entrevistas com a população brasileira, que mapeou o envolvimento e os interesses relacionados com o setor de materiais de construção, realizada pela Mosaiclab, em agosto, trouxe uma série de aprendizados sobre o grande crescimento vivido pelo setor de materiais de construção nos anos da pandemia, quando mais de 60% das pessoas fizeram algum tipo de obra, reforma ou reparo nos seus lares, motivadas pelo confinamento e contato intenso e forçado com os ambientes.

Aqueles problemas da casa, antes ignorados pelas pessoas, aquela porta quebrada, a parede manchada, o sofá velho, o azulejo rachado no banheiro foram totalmente ou parcialmente sanados durante esse período.

A impossibilidade das pessoas gastarem com outras categorias neste período potencializou a categoria, que atingiu níveis altíssimos de crescimento e rentabilidade nestes anos. O que o estudo indica, porém, é que os anos de bonança do setor parecem ter ficado para trás, já que aponta para uma estagnação no desejo futuro em construir, reparar ou reformar, estacionado na casa dos 40%.

Há percepção de aumento de preços generalizada e isso impacta na decisão de realizar obras futuras. Pouco mais de 80% das pessoas consideram que recentemente aumentaram os custos dos materiais de construção e da mão de obra. Tudo isso, aliado à pesada carga tributária brasileira, o crédito caro e escasso e a concorrência desleal dos produtos vindos do exterior, em condições muito diferentes das vividas por fabricantes e varejistas nacionais.

O consumo do setor também sofre por conta da concorrência de outras categorias que foram represadas no período pandêmico. O dinheiro antes direcionado para o lar agora está indo para viagens, lazer e vestuário, esta última a categoria com maior desejo futuro de consumo. As pessoas voltaram às ruas, aos escritórios, aos bares, restaurantes, à praia e precisam de roupas e acessórios para se mostrarem novamente ao mundo. Fica difícil competir com a vaidade das pessoas.

É exatamente aí que entram alguns insights e oportunidades da pesquisa. Entre os cômodos, a cozinha, a sala e o lavabo estão entre os top 5 que os brasileiros mais desejam realizar alguma obra, reforma ou reparo nos próximos 12 meses. São locais de convívio social e que precisam estar bonitos para serem mostrados. Estes locais são mais associados com o uso dos melhores acabamentos, onde colocariam mais recursos em uma eventual melhoria. As tintas foram os materiais mais comprados nos últimos 30 dias, dentre as diversas categorias testadas, o que também sinaliza para o aspecto estético e emocional da obra para os consumidores.

 

É muito importante que as empresas do setor, sejam fabricantes ou varejistas, reflitam sobre a importância de posicionarem suas marcas para explorarem o lado emocional do consumidor e tragam para suas embalagens, comunicações e composições de ambientes nos pontos de venda o espírito gregário e social que o resultado final de uma obra ou reforma propicia às pessoas. O sentimento associado ao final de uma obra é majoritariamente positivo, apesar de eventuais problemas na jornada.

É importante ressaltar que o papel das marcas e varejistas é apenas um lado da moeda que irá ajudar o setor a retomar o protagonismo. O governo precisa agir para fomentar o setor, seja garantindo uma reforma tributária que realmente beneficie e simplifique a vida do consumidor, com um olhar vigilante no controle da inflação, que permita uma queda mais acentuada dos juros, seja com a volta de estímulos ao crédito que foram tão importantes no passado, como o Construcard, por exemplo, ou com estudos para medir o impacto do comércio cross border e seus riscos atuais para o emprego nas indústrias e varejistas brasileiros.

Somente essa conjunção de fatores, com esforços conjuntos da sociedade civil e os governos, indo ao encontro dos anseios e desejos dos consumidores é que fará com que o setor de materiais de construção volte ao protagonismo dos últimos anos. Espero que nas próximas ondas do Matcon Track, nós já tenhamos um cenário diferente, apontando para um crescimento na intenção futura de consumo do setor.

Ricardo Contrera é sócio-diretor da Mosaiclab.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.

Imagens: Shutterstock e Reprodução

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