O ano de 2022 foi marcado pela “retomada da rotina de vida sem grandes ameaças à vida pela covid-19”. Vivemos dois anos com medo de morte. Com restrições de mobilidade. Com insegurança social. Com adaptações à rotina de vida familiar e profissional. Podemos dizer que 2022 foi um ano mais tranquilo, principalmente quando comparamos com 2020 e 2021.
Iniciamos uma nova era. Ou, pelo menos, um novo ciclo. Começamos a aprender como o mundo viverá esse próximo giro de hábitos, rotinas, mercado, políticas, etc. Não acredito que está tudo consolidado até aqui, que temos um “novo normal”. Acredito, inclusive, que jamais teremos um conceito único de “normal”. O mundo ficou diferente e temos de enxergar que o normal é ser diverso e plural.
O setor de varejo e consumo tem nessa questão – ser diverso e plural. Um grande desafio, mas, olhando para este ano de 2022, temos alguns aprendizados que nos direcionam no caminho de conduzir nossos negócios com maior potencial de sucesso nesse próximo ciclo do mundo.
Destaco abaixo três aprendizados que considero prioritários para negócios prosperarem até a próxima grande transformação do planeta:
1. Empresas tem que ser socioambietalmente responsáveis
Pessoas jurídicas têm compromissos com pessoas físicas. Uma empresa existe para gerar lucros, mas fiou claro que, cada vez mais, as empresas estão sendo avaliadas por seus propósitos e ações. Quanto mais atuarem por causas sociais e ambientais, maior será o engajamento de seus clientes (internos e externos). Pesquisa realizada ainda em 2021 pela InPress Porter Novelli em parceria com o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD) demonstra que 88% dos consumidores dão preferência a “marcas que defendem algo maior do que seus produtos e serviços”.
Marcas como a M&M’S vêm definido compromissos para contribuir mais com a sociedade. Cathryn Sleight, Chief Growth Officer da Mars Wrigley, declarou: “A M&M’S está comprometida há muito tempo em proporcionar momentos coloridos e de diversão para todos, e esse propósito serve como um compromisso mais concreto com aquilo em que sempre acreditamos como marca: que todos têm o direito de desfrutar de momentos de felicidade e diversão é a forma mais poderosa para ajudar as pessoas a se sentirem incluídas.”
2. Acabaram as fronteiras entre o mundo físico e o mundo digital
Quem ainda não se digitalizou vai “perder o bonde!”. O mundo é físico! Existimos! Respiramos, comemos, passeamos, sorrimos, gargalhamos, choramos, estudamos, aprendemos… Exceto na questão “respirar”, temos novos hábitos para consumir, sentir e agir. Estamos cada vez mais habituados com pequenas telas para nos informar, recrear e consumir. A jornada de compras tem um pedaço cada vez mais digital. Não quer dizer que o mundo das lojas físicas terá menos relevância. A questão é que o cliente não faz mais divisão entre físico e digital quando se relaciona com as marcas. Há 12 anos escutei o termo omnichannel pela primeira vez. Será que ainda tem gente multicanal?
Estudo feito pela Scandit apresenta relevantes desafios das lojas omnichannel. “‘A pesquisa realça a importância da tecnologia para preencher uma lacuna entre o mundo digital e o mundo físico. É fundamental fornecer aos consultores das lojas uma tecnologia totalmente funcional e familiar, permitindo-lhes melhorar as operações da loja, da mesma forma que ajuda a proporcionar uma experiência mais linear aos clientes’, afirma Samuel Mueller, CEO da Scandit.”
3. Estamos, todos, desqualificados para o “novo ciclo” do mercado
Qualificação profissional no café da manhã é obrigatório! Este aprendizado é o que mais me assusta. Primeiro por uma questão pessoal. Percebi que tenho que estudar exponencialmente mais para conseguir acompanhar esse novo cenário de mercado phygital. O segundo ponto é que qualificação profissional nunca esteve nos “top 3” das linhas de investimento estratégico das empresas. Para piorar o cenário, tivemos uma lacuna de investimento nessa área durante os anos de 2020 e 2021. É compreensível que todos estivessem sentados sobre o caixa da empresa para sobreviver, mas, neste ano, processos mudaram, tecnologia mudou, consumidores se transformaram. E tem muita gente que ainda está em 2019. “Ih! Vai dar ruim.”
Juntando os três aprendizados de 2022 descritos acima, temos um exemplo de visão estratégica exemplar. A Natura, ainda em 2021, parece já ter enxergado o futuro e lançou um programa de qualificação de consultoras da marca. O ponto mais interessante dessa ação foi ela ter sido feita internamente, selecionando consultoras da própria rede para serem as instrutoras. O projeto-piloto deu muito certo e elas se tornaram “treinadoras do modelo de negócio”, além de darem treinamentos sobre técnicas de vendas, digitalização dos negócios e gestão financeira.
O que mais você aprendeu neste ano de 2022 que será exigido para ter sucesso nesse novo ciclo do mercado?
Luiz Guilherme Baldacci é sócio-diretor da Friedman
Imagem: Shutterstock